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Mensagem: Um olho fechado, outro aberto! 1957, Montes Claros aguardava ansiosa a comemoração do seu Centenário. O historiador Hermes de Paula organizava tudo, com a preciosa e decisiva ajuda do jornalista Newton Prates, pai do nosso poeta, cronista e grande amigo Felippe Prates, enquanto o alcáide Geraldo Atayde e o engenheiro Joaquim Costa tomavam as providências necessárias para deixar nossa cidade nos trinques. Dom José Alves, o saudoso bispo, andava de lá para cá arrumando as igrejas quando recebeu a visita de Monsenhor Gustavo, a serviço. O mesmo relatou-lhe, assustadíssimo, que o forro da Matriz estava dando uns estalos gigantescos e aterradores, como se fosse desabar, fazendo gelar os corações! Visando viabilizar a segurança do templo para as festividades próximas, o nosso bispo, em um momento de má inspiração, mandou chamar o mestre de obras Roberto Pimenta, cobra mais do que criada da Rua Melo Viana, para fazer o orçamento do conserto do teto da igreja. Roberto se encontrava na ocasião dependurado com um papagaio enorme no banco de Seu Calixto, o Banco Comércio, já em vias de protesto. Sorrateiramente, como convinha a um mala sem alça, o citado mestre de obras, após afetada, posuda e meticulosa verificação, condenou o telhado e apresentou um orçamento bastante exagerado, visando forrar, de vez, os bolsos de grana e quitar o débito bancário. Ato seguinte, aterrorizou o bispo com sua exagerada narrativa ficcional descrevendo um inevitável e próximo acidente com o desmoronamento do telhado, se a obra não fosse realizada com toda urgência, certo que o céu arriaria em cima das cabeças dos fieis em dia de missa com a igreja lotada! Como Kipling, narrou uma cena dantesca, cheia de dezenas de cadáveres entre os escombros! Simplesmente aterrorizante! Chegou mesmo a prever magotes de pobres almas desencarnadas ali vagando no “post mortem” pelas escarpas dos Hades, no barco de Caronte do Rio Letes e até alguns deles, dado à vida pecaminosa, padecendo horrores na câmara de retificação da Judeca, mais conhecida como o terrível Sétimo Círculo do Érebro! Dom José, de imediato, contratou o serviço. Ao iniciar a “necessária” e tão urgente reforma, tudo já sob controle, o empreiteiro Roberto levou em sua equipe de trabalho, alguns amigos igualmente malas, todos especialistas em aplicação de vários tipos de 171. Selecionou seis malacaus dos Morinhos: Chicão, Zé Mota, Zé Pedro, o valente Arnaldo da Hora, o ferreiro Tonicão e o farrista Aldair, esse último o único que ainda está vivo, mas já prestes a ser despachado aos zinfa... Mantendo sua equipe cheia de goró, fartos tira-gostos de bucho e cigarros a vontade, incitava-os a subir e descer forro abaixo da igreja sempre arrastando pesos inúteis, retirando picumãs, restos de telhas, jogando-os para cima e baixo com estardalhaço, caindo mesmo sobre o altar pedaços de sarrafos, terças, caibros, pregos, caibral, etc. Ferramentas batiam no piso com grande barulho, dramatizando ainda mais o instalado clima de terror, o que era reforçado pelos gritos de ordem emitidos pelo “competente” mestre de obras, numa autêntica pantomima... Terminada a obra, na hora do acerto, Dom José, bastante desconfiado de estar sendo vitima de um 171 urbano, quitou o pagamento do trabalho com o conteúdo de dois sacos de aniagem cheios de células mofadas, rasgadas, amareladas e remendadas com fita adesiva. Refugo de muitos anos de óbolo oferecidos por caridosos e espertos fiéis. O empreiteiro Roberto livrou-se do pepino quitando a divida, ao forçar o banco a receber aquela bagaceira como pagamento, sob a cínica alegação de se tratar de “dinheiro bento e sagrado”! Os bancários Bida e Luizão, coitados, emboramente inocentes nessa parada, é que ficaram com a rabuda de contar, colar e etiquetar as mal cheirosas notas...
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