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Mensagem: Toque de recolher Paulo Braga Comerciante há muitos anos em barraquinhas, exposições, leilões, vaquejadas e outras festas com maior concentração de público puxa conversa sobre o que chama de “toque de recolher” imposto pela matança na guerra do narcotráfico em Montes Claros. Lembra que estamos a um mês da nossa exposição agropecuária, que já figurou entre as principais festas do interior de Minas Gerais. “O povo está com medo de sair de casa. Ainda ontem, um amigo que não passa mais do passeio da própria casa à noite, contou que já se pegou escondido atrás do portão, com medo de motos que vinham em sua direção. Gente de bem morrendo de medo”. O interlocutor me faz lembrar que 12 horas atrás uma mãe, radialista, me dissera que seu filho de 17 anos, indignado por não se sentir seguro em caminhar pela cidade e depender de os pais levá-lo e buscá-lo de carro, anuncia vontade de deixar o País. Voltando à conversa com o comerciante, experiente, ele admite que a queda nas vendas reflete ensaio de volta da inflação e o grau de endividamento das pessoas (“todo mundo tem prestação e consórcio para pagar”). Ressalva que em Montes Claros a violência e a impunidade agravam o sumiço dos fregueses. “Estou vindo de uma vaquejada em Coração de Jesus, tinha muita gente. Com pouco dinheiro para gastar, mas, muita gente mesmo. Aqui é diferente, as pessoas temem ir às ruas e, principalmente, às festas”. (Lembro relatos que ouvi de freqüentadores de barraquinhas tradicionais a que não compareci). Ele acrescenta: “Fica difícil a gente apostar, eu mesmo não vou arriscar na exposição. O custo é alto e não vejo perspectiva de a polícia tomar conta da situação, a ponto e a tempo de o povo voltar a confiar em sair de casa tranquilamente. Prefiro ir trabalhar na Festa do Senhor do Bonfim, em Bocaiúva”, desabafa. A conversa segue e o comerciante contesta a idéia de que os assassinatos em Montes Claros acontecem em áreas restritas, nos bairros Esplanada e Feijão Semeado, principalmente. “Já são 53 assassinatos neste ano, fora quem morreu após ser baleado e socorrido com vida, mas, depois, não resistiu. Essa noite, mataram dois rapazes no São Judas. Na anterior, tombou gente no Independência, no Santo Expedito e no Distrito Industrial. É de Norte a Sul, só não vê quem não quer. Dias atrás, uma bala perdida acertou uma moça durante show no parque de exposições”, queixa. A crise de autoestima a que tem feito referência o jornalista Waldyr Senna fica evidente: “Não demora, Montes Claros vai parar no Jornal Nacional como recordista de assassinatos. Nossas autoridades estão achando que só tem bandido matando bandido, mas, não é assim. Já vimos inocentes mortos por engano e criança assassinada por vingança. O crime organizado está tomando conta da cidade e prendendo a gente dentro de nossas próprias casas. Vou dizer mais: o comércio está sendo atingido, tem trabalhador perdendo seu ganha pão, ou se armando, por achar que assim fica protegido”. É verdade, tem gente honesta se armando, ou trabalhando com muito medo, vivido ainda por pais, esposas, maridos e filhos que ficam em casa esperando. Ouvi a respeito de frentistas, comerciantes, garçons e vigias, entre outros. Quem transita por aí livremente com armas para matar, pode usá-las para assaltar. E tem acontecido. Se o Estado acha que a segurança pública aqui está boa, para a bandidagem ela está uma maravilha. Assaltos, inclusive com assassinatos de vítimas, têm sido registrados. Nem funerária escapa dos ladrões, que atacam mesmo à luz do dia e até nas ruas mais movimentadas do centro de Montes Claros. Quem garante que roubar não tem sido a escapatória para endividados que o tráfico ameaça matar? O crime provocando novos crimes. Pessimismo? Opiniões isoladas? Não. Pode até haver exageros, fruto do medo coletivo, comum nas epidemias, todas elas estressantes e, portanto, desencadeantes de muitas doenças. A de assassinatos está caracterizada há quatro ou cinco anos seguidos em Montes Claros, que beira a três vezes mais que o máximo de dez assassinatos por 100 mil habitantes/ano tolerados pela Organização Mundial de Saúde. Pelo menos nos discursos, violência demais é grave problema de saúde pública. Para quem precisa ou vive falando em atrair investidores e alimentar inteligências, é importante dizer que o medo coletivo fundamentado costuma afugentá-los. Ouve-se longe um toque de recolher.
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