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Mensagem: As ´Quebradas´ Sábado, de tardinha. - Pai, dexôí, pelamordedeus, mãe, dexôí! - Não, minino, vai dá trabalho pra eles. Aí ele, pitando seu Continental, com aquele bigodão, aquela impecável camisa de linho, aquele vozeirão estrondoso e aquela vistosa e brilhante botina marrom dava o veredito: - Que isso Nô, que isso Lena, o minino nunca nos deu trabalho. Nós gostamos muito dele. Dexeli que tomamos conta direitinho. Segunda, trago de volta. E os velhos: - Tá bom, pode ir. Nesse momento meu coração quase saltava de meu peito juvenil, de tanta alegria pelos momentos felizes que, já sabia, viveria em mais um fim de semana, num dos lugares mais lindos do mundo, uma verdadeira ilha da fantasia, recanto de meus sonhos. E já começava a sentir o gosto das comidinhas deliciosas, dos doces de leite, de buriti, de casca de laranja e de goiaba. E o cheiro das águas doces do riacho a banharem meu corpo. Entrava levitando na boleia do caminhãozinho Ford, com a carroceria carregada de mantimentos e de amigos que habitualmente pegavam carona. Ele era tão solidário que mandou fixar fortes tiras de madeira na carroceria, para que eles viajassem sentados. Eu gostava tanto dele que o chamava de “tio” e, quando acordava, dia nascendo, lhe pedia a benção. Viajávamos pouco tempo, parando muitas vezes à beira da estrada para deixar um caroneiro, para admirar a corrida de alguma perdiz ou codorna, para ouvir melhor o piar de uma zabelê, ou para sentir, mais de perto, alguma catinga de veado e ver se havia algum nas imediações – ele era um exímio caçador, com suas espingardas maravilhosas e seu imenso embornal bege, feito à mão. Motorista habilidosíssimo, conhecia todos os buracos do caminho. Subíamos a serra e percorríamos um planalto verdoengo. Eu descia, orgulhoso, para abrir as cancelas e “colchetes” e o fazia com o maior prazer. Aí, então, de um leve declive verdinho, quase sem árvores, cheio de vacas, bezerros, bois, cavalos, cabritos e bodes, descortinava-se aquele lindo casario, iluminado por um sol já cansado de tanto brilhar, pondo-se por detrás dos montes. Em frente à sede havia uma montanha em cujo cume se destacava uma cruz, misteriosa sepultura de um escravo que, para mim e para o primo Gaiola, ainda pairava por ali nas noites de lua cheia e vinha até os pés de nossas camas para curar nossas doenças. Escravo milagroso que, rezava a lenda, morrera num tronco ainda existente no imenso pátio, ao lado da misteriosa senzala, de tanto açoite. Ela já nos esperava, com a comida quentinha e deliciosos quitutes, numa imensa mesa de madeira da sala. Confortáveis banhos preparavam nossos corpos para manjares de deuses. Satisfeitos, íamos à imensa varanda, às espreguiçadeiras, ver a lua surgir, esplêndida e soberana, no majestoso céu já estrelando. Eu me deliciava com os casos que ele me contava, especialmente os de suas caçadas. E com suas histórias de Pedro Malasartes. O sono vinha chegando devagarinho. Lá a gente literalmente apagava, porque não havia ruídos, a não serem os sutis, de pássaros noturnos. Tudo dormia. A natureza dormia. Com os primeiros raios de sol eu era despertado pelo agudo canto dos bem-te-vis e pelo mugido das vacas que estavam sendo ordenhadas no curral, para viver mais um domingo naquele paraíso que nunca me sai do pensamento, naquele lugar abençoado por Deus, naquela inesquecível e gostosa Fazenda Quebradas, de meu querido “tio” Pedro Veloso e de minha querida “Dindinha” Arynha.
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