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Mensagem: Fogo Morto Ucho Ribeiro Seu Argemiro dos Anjos, fazendeiro, erado, família criada, vivia viuvo e triste. Sem a patroa, ficou macambúzio, perdeu o cacoete para a vida. Não tinha onde ir, acuou. Não era destro para modernidades. Ficava ali na varanda da fazenda, jururu, fumando e cuspindo. O único amigo, o vaqueiro Isidoro, como um cão fiel, permanecia ao lado, preocupado. Mais não tinham o que conversar. Esgotaram o assunto há muito. Restaram olhares, gestos econômicos, monossílabos. Todos inteligíveis. O levantar das sobrancelhas era entendido, traduzido num átimo pelo parceiro. Com o tempo, Isidoro atinou que a única solução para o amigo era uma mulher nova para sacudir aquela poeira amontoada no patrão. Pensou: bode velho, capim novo. Precisava de uma moça, de um caramelo para adoçar a boca do amigo. Tinha que motivá-lo a viver melhor o naco final da vida. Por sorte, sua sobrinha, Elzinha, recém chegada de São Paulo, separada, carente de emprego, foi contratada para cozinhar e arrumar a casa da fazenda. Mulher nova, mas feita, vivida, inteira. Nos primeiros dias, ela deu um sacolejo na casa, abriu todas as janelas, pôs as roupas e os móveis para quarar, ariou as panelas, vasculhou as teias de aranha, passou vassoura em tudo. Isto na maior alegria, risonha e saltitante. A jovialidade somada aos adulos, cafezinho quente, sorrisos e comidinha supimpa, foram animando o Seu Argemiro. Com o tempo, aquele rufa-rufa pra lá e pra cá foi a conta para o fazendeiro começar a ciscar o terreiro, empinar a crista, zelar em roupas, banhos e passar até perfume. Da cidade trouxe, aos poucos, televisão, um som novo e sempre um agrado para Elzinha. O amigo Isidoro, que soprou a brasa, agora ficava de longe, na espreita, torcendo. Não deu outra, com seis meses Elzinha virou esposa do Seu Argemiro. Festão, alegrião e uma viagem para as Águas Quentes de Goiás. Argemiro tesudo, animado, nos primeiros dias até que acompanhou a saliência de Elzinha. Mas aqueles banhos quentes e o bate-bola a toda hora estavam demais. As pernas afrouxaram, a pressão despencou, o jeito foi pedir arrêglo: “ Elza, meu bem, você me desculpe, mas eu preciso de um descanso. Vá às compras, pega aí o dinheiro que precisar.” No retorno, Elza encontrou o Argemiro escornado, roncando pesado. Dormindo continuou até o amanhecer. Café tomado, de volta para o quarto, Elzinha já passou a soprar o cangote do velho. Vai daqui, vai dali, olha os dois embolados de novo nos lençóis. A noiva buliçosa apresentou umas novidades, umas variedades. Seu Argemiro animou e entrou em cancha. No decorrer da peleja, Elzinha foi empurrando carinhosamente a cabeça do marido corpo abaixo, seios... umbigo e depois mais para baixo ainda. O velho delicadamente resistia e ela firmava sua cabeça, até que Seu Argemiro refugou de vez e disse envergonhado: “Elzinha, meu anjo, me perdoe, eu faço qualquer coisa procê, mas o problema é que meu istômogo é fraquim, fraquim!” A lua de mel encerrou mais cedo, sob a desculpa da necessidade de resolver umas pendengas urgentes. Voltaram direto para a fazenda. Lá, talvez gemada, catuaba, ovo de codorna e a tal da novidade do viagra dessem um jeito no fogo de Elzinha. Mas que nada, o vapt vupt continuava direto e reto. O homem já estava trôpego, embolando as pernas. Seu Argemiro, para fugir do campo de batalha, passou a ficar mais no curral, nos pastos, ir para a cidade com desculpas de negócios, mas ao chegar em casa tinha que conferir. No desespero, procurou seu médico amigo, Dr. Maurício, e desabafou: ”Compadre, compadre, eu estou num calvário sem fim. Elzinha está me matando. Ela não se contenta com coisa alguma. O pior é que se eu afastar demais, corro o risco de chifre. Ai, Meu Deus! Imagine, chifre nesta idade! Estou tomando viagra igual se come pipoca. Você acredita, que ontem, ela me laçou de manhã, depois do almoço quis de novo e eu, com medo de mais uma investida, fui deitar no lusco-fusco da noite, sem bala na carabina. Veja bem o constrangimento, eu sem sono, deitado, de olhos fechados, fingindo de morto e ela a rodear a cama à espreita de um vacilo para me por na rinha. Para o meu azar, um fidumaégua dum mosquito posou na minha boca e ficou todo serelepe, zunindo as asinhas, ora nos meus lábios, ora na entrada do meu nariz. Zummmm. Aquele desespero todo sem eu poder fazer nada. Ave Maria! Estou numa situação de dar dó. Imagine, um homem que não pode matar nem um mosquito! Me ajude, compadre! Pelo amor de Deus!” Dr. Maurício, vendo o desespero do companheiro, mandou recado para Elzinha vir à cidade consultar – fazer um check up. Afinal, os parentes dela eram todos chagásicos e a maioria tinha morrido antes dos quarenta anos. Na semana, veio Elza acompanhada do Seu Argemiro. Consulta demorada, exame de tudo quanto é jeito, eletro, eco, esteira e a cara do médico cada vez mais preocupada. Chamou a secretária, pediu para cancelar umas consultas da tarde para poder dar atenção aquele caso raro, sujeito a todos os cuidados. Ao final alertou: “Dona Elza, a senhora tem um problema hereditário! O coração de vocês é uma bombinha fraca, delicada, qualquer esforço desliga os fios e bau-bau. A senhora não pode fazer força, agitar, carregar peso, tomar susto. Qualquer movimento brusco é um perigo, pode ser fatal. Os exames estão dizendo que seu coraçãozinho está por um triz. Até mesmo as obrigações do casal, da mulher, devem ser relevadas, pois a senhora corre um sério risco de vida. E o senhor, Seu Argemiro, faça-me o favor de não provocar a Dona Elza. Ela tem que passar longe de sexo, porque senão ela morre. Ouviu? Mor-re! Estou receitando um remediozinho para Dona Elza tomar todos os dias, para o calor passar e ela ter uma vida mais mansa, mais sossegada.” De volta para a fazenda, foi aquele muxoxo. Quartos separados, janelas fechadas, casa largada, rádio mudo. A alegria de outrora bateu asas. Os dias passavam, Elzinha olhava com olhar pidão e o marido Argemiro só alertava: “Elza, Elza, lembra do doutor! É para o seu bem, meu amor!” Passados mais uns dias, tarde da noite, o Argemiro escutou os passos da patroa à beira do quarto. Pra lá e pra cá. Até que ela bateu na porta. Toc! Toc! Argemiro então, perguntou: “ Quê que cê quer, Elzinha?” E ela: “Eu quero morrer!”
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