Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.
Clique aqui para exibir os comentários
Os dados aqui preenchidos serão exibidos. Todos os campos são obrigatórios
Mensagem: Sessenta anos de imprensa (parte dois) José Prates Nos meus primeiros dias de trabalho na Estrada de Ferro, impressionou-me a situação angustiante dos retirantes nordestinos com destino a São Paulo, que desembarcavam do trem vindo de Monte Azul, para aguardar baldeação. Sem recursos, amontoava-se na plataforma da estação férrea a espera dessa baldeação que só ia acontecer no dia seguinte, quando lotaria a segunda classe do expresso destinado a Belo Horizonte. Sem recursos para alojarem-se numa pensão, daquelas que existiam na Praça da Estação, deitavam no chão duro, em total promiscuidade sem que ninguém viesse socorrê-los, apesar de existir, pelo menos é o que diziam, uma casa destinada aos emigrantes, chamada de “emigração”. Seria uma boa reportagem, pensei. Parti, então, para a obra. Foram horas conversando com os retirantes, sentindo o drama e a esperança de cada um. São Paulo para eles, era o eldorado onde todos os problemas seriam resolvidos e uma outra vida surgiria. Foi o meu primeiro trabalho para o Jornal de Montes Claros, numa reportagem sob o titulo “O verdadeiro drama dos retirantes”. Publicada como manchete da primeira página, sem fotografias, porque o jornal não tinha clicheria, nem a cidade dispunha desse recurso. Os clichês, quando necessários à publicidades, eram mandados fazer em Belo Horizonte A reportagem teve grande repercussão, inclusive comentada por um jornal de Belo Horizonte, cujo nome não me lembro. Sei que era mantido pelo PSP, partido de Ademar de Barros. Passei, então, a colaborar com reportagens, mesmo sem qualquer remuneração. Depois de afeito ao jornal, falei com Zezinho sobre a falta de um noticiário policial que, geralmente, é bem recebido pelos leitores. Não aceitou a idéia alegando ser perigoso publicar ocorrência policial, porque não havia o costume desse procedimento e poderia haver incompreensão de alguns. Tanto insisti que me deram uma credencial de repórter. Dias depois, quando cheguei na Delegacia de Policia com a credencial do Jornal de Montes Claros, apresentando-me ao Delegado Especial, Cel. José Coelho de Araujo, foi uma grande surpresa para ele. “Não temos sala de imprensa”, disse-me o Delegado, permitindo, porem, que ficasse ali mesmo, em sua sala, aconselhando-me, porem, a ter cuidado na divulgação das noticias. . Desse dia em diante, passei a freqüentar a Delegacia e acompanhar diligencias, publicando o noticiário policial. O jornal, então, tomou vulto, sendo vendido nas bancas e por jornaleiros nas ruas, o que nunca existiu antes na cidade. Nasceu, então, o cognome “o mais lido” que ficou até o fim. Foi na Delegacia que tomei conhecimento de um centro espírita, tipo candomblé, lá pelos lados dos morrinhos, onde “baixava” um médico, atendendo a pessoas, inclusive crianças. Uma criança teria morrido, depois de medicada por esse “médico”. Na delegacia, perguntei por que a policia não tomava providências. Eles disseram-me, aliás, foi o próprio Delegado quem falou, que nada era feito porque não havia nenhuma queixa formal contra o tal candomblé. Se houve uma morte, é um caso de ação pública, argumentei, “Aqui não é Belo Horizonte nem Rio de Janeiro. Aqui é Montes Claros, meu caro”, falou Altininho, o investigador.. Decidi, então, fazer uma reportagem sobre o “candomblé”, desta vez com fotos. Pedi ajuda ao Virgilio, um colega de repartição, que tinha uma câmera fotográfica pequena. Enquanto eu me apresentava à secretaria do “centro” como um consulente, Virgilio procurava um esconderijo de onde pudesse fazer, sem risco de ser visto, as fotografias. O local para a sessão era um terreiro grande onde os chamados “médiuns” homens e mulheres com trajes típicos da seita, dançavam ao som de atabaques. A bebida era cachaça, só cachaça. Escondido, Virgilio fez as fotos que não foram porem, publicadas. Apresentei-me como consulente, assisti à sessão, tomei um gole de cachaça, e, depois, fui atendido pelo “médico” também, em traje típico, que, inclusive, prescreveu-me medicamentos. A reportagem saiu e a policia entrou em ação, mas, tudo ficou como dantes no quartel de Abraantes. Fui processado pelo “dono” do candoblé, um senhor chamado de Zé Fernandes que alegou ter eu ‘faltado com a verdade na reportagem sem autorização nem ciencia da casa, com a finalidade de prejudicar a “seita” e os seus responsáveis”. Apresentando as fotos e o testemunho de Virgilio, consegui provar na Justiça, perante o Juiz Dr Ariosto Guarinelo, que tudo que publiquei foi verdade. Nada eu inventei. Não necessitava de autorização para publicar nada porque se tratava de um ato público, a céu aberto. (continua amanhã) (José Prates, 84 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
Trocar letrasDigite as letras que aparecem na imagem acima