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Mensagem: DE GERAÇÂO A GERAÇÂO RUTH TUPINAMBÀ GRAÇA Dizem que sou romântica. Confesso que é uma verdade. Sou extremamente romântica e eterna sonhadora, pois não se pode viver sem sonhar ele é um estimulo nos dá força para viver, lutar e esperança para conseguirmos nossos objetivos. Mas os meus protestos, que ás vezes, extravasam nas minhas crônicas, não são movidos pelo romantismo mas pelo que é justo e necessário. Revolta-me a omissão e displicência dos dirigentes e responsáveis pela ordem , segurança e proteção da nossa cidade. Assim volto-me ao passado, perco-me nas lembranças da minha infância e juventude naquela Montes Claros que eu conheci pobrezinha e pequena mas alegre, feliz e tranquila com seu luar de prata e as serenatas. Eu sou mesmo uma sonhadora, sabem por que ? Eu não pertenço a geração da “Coca-Cola”, dos “Botecos”, do “Celular”e da “Cibernética”, que hoje tornou-se um vicio, tomou conta de tudo e de todos. Eu sou da geração da Montes Claros antiga, poucos habitantes , vidinha tranqüila, livre da violência incontrolável de hoje que tanto nos apavora. E a medida que comparo as duas cidades (a de ontem e a de hoje) eu me aprofundo ao passado e me vem os sonhos em as lembranças do fomos, do que somos e do que seremos... Eu sou da geração dos Tropeiros, que com os “chinelões” atolados na poeira tinham uma enorme boa vontade de servir, de cooperar trazendo de longe, no lombo dos burros tudo para a alimentação comunidade montesclarense. Deveriam ser homenageados pela cidade mas isto nunca aconteceu. Somente o grande artista Konstantin se lembrou deles prestigiando-os mas infelizmente ninguém sabe onde foi parar o “Chinelão”, escultura tão linda e significativa, símbolo do inicio da nossa cidade, arrancada estupidamente da rua na entrada para o aereoporto. Sou da geração dos Cometas: Valentes pioneiros das estradas, viajantes representantes de firmas idôneas de São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro. Atravessavam imensas matas desertas, ouvindo apenas o canto trite do “Fogo Pagou” e o canto choroso do “Zabelê”, num sol escaldante e muita poeira, trazendo no lombo dos burros tudo que a nossa cidade precisava:tecidos, ferragens, armarinhos, louças, calçados, artigos de cama e mesa, chapéus, bijuterias. Perfumes etc. Foram uns heróis e muito colaboraram para o crescimento da nossa cidade e hoje quem se lembra deles? Muitos se casaram aqui constituíram famílias: Jaime Rebelo, Luiz Pires`, Josefino de Melo , Domingos Garcia Tupinambá e outros e hoje ainda existem muitos netos e bisnetos descendentes destes valentes pioneiros. Geração dos Fazendeiros: antigos homens de bem que plantavam e colhiam em suas lavouras tudo que a população precisava, Desconheciam as facilidades de hoje. Tudo era cultivado com muito trabalho e sofrimento no cabo da enxada. Criavam e engordavam bois que eram vendidos para centros mais adiantados, transportados á pé pelos caminhos. Não existiam transportadoras nem Rodoviáreas na nossa cidade.Dava gosto ver as enormes boiadas atravessando as ruas e os valentes vaqueiros atentos com varas de ferrão para castigar os mais bravos. Eu me lembro, corríamos para a janela para vermos a boiada passar. Era um acontecimento comum na cidade mas uma grande diversão . Geração dos Carros de Bois: Cortando diariamente as ruas com seu cantar sonoro, cheinho de lenha para os grandes fogões e muitas vezes, carregados com produtos das fazendas vizinhas. Geração dos”Anos Dourados”: Hoje recordado com tanta saudade e muitos se lastimam por não tê-lo conhecido. Geração das mocinhas ,. cheias de denguices mas de uma beleza pura sem as sofisticações... Época dos “Bailes” nos salões dos grandes sobrados dançando as valsas, boleros e os tangos argentinos. Dos namoros controlados pelos pais de “olho nas donzelas”vigiando e impedindo “liberdades”... época das serenatas quando as declarações de amor ás amadas eram através das modinhas e o choroso violão. Confesso que jamais esquecerei este tempo, em qualquer parte que eu esteja, ou melhor, que eu viva ! De geração em geração,cheguei até aqui século xx. Geração da Cibernética: Hoje cada avanço tecnológico corresponde a um mergulho no tempo de amanhã.Estamos vendo o homem na lua, pisando e fotografando aquela mesma lua romântica dos poetas, das serenatas, por tantos anos inatingível Hoje a mentalidade é outra. Mais aberta, mais liberal menos romântica. Desfrutam o prazer e o que de melhor a vida lhes oferece, numa boa inebriados pelo néctar do amor, numa enorme exaltação do sexo sem “frescuras” tendo como lema a1 certa e verdadeira afirmação do saudoso Vinicius de Moraes: “Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure’ É verdade que o romantismo quase desapareceu e também as serenatas dos “anos dourados”. A dança é uma verdadeira violência, parece mais uma luta. Nas boates os músculos se torcem sem nenhuma beleza, numa provocante sensualidade longe do que foram as valsas e os tangos argentinos. A feminilidade e delicadeza da mulher quase desapareceram para dar lugar a uma constante disputa de valores. Aquela figura frágil, endeusada e paparicada pelo homem não existe mais se igualou na luta de competições, de trabalhos e posições. Não sou contra a civilização e a emancipação da mulher, longe disso, apenas acho que existe um certo exagero, um abuso, provocando desestruturação da família. Entre os jovens não há mais tempo para uma boa leitura, não param para ler uma poesia, ou escutar uma boa música clássica, correm todos dominados pela máquina como verdadeiros robôs. Mas tudo isto é a evolução dos tempos e não há como segurá-la onde a cibernética toma conta de todos. O que poderei fazer eu que estou no outono da vida, para acompanhar esta juventude irrequieta e turbulenta e não ser tachada de “careta” e “quadrada” pela minha discordância? Procuro tentar aceitando e participando (desde que meu coração agüente) sem reclamações e censuras mas sentindo a velhice bater em minha porta, percebo que não tenho estrutura para enfrentar o terceiro milênio,que os “anos dourados” já ficaram tão longe e não pertenço a geração da máquina. (N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 94 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).
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