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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 19 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Presente de Natal do menino Alberto Sena Foi no dia seguinte ao Natal. A tia Ambrosina, madrinha de batismo, telefonou. A mãe, Elvira, disse: ‘Papai Noel deixou um presente lá na casa dela para você’. A casa da tia Ambrosina era retirada da casa do menino dois quarteirões. Nessa época, início da década de 1960, a família morava na Rua Corrêa Machado, em frente ao campo do União Futebol Clube, e a tia morava com o tio Cypriano e os filhos Netinho, Sidney, Tarcísio, Magela e Rubinho na esquina das ruas General Carneiro e João Pinheiro. Na velocidade do vento o menino correu a casa da tia a fim de buscar o presente. Imaginava uma porção de coisas no percurso. Mas a ansiedade de chegar logo, saber do que se tratava o presente era maior do que a imaginação. Ele chegou lá, pediu a ela a bênção, beijou-lhe a mão, como era de costume. Ela perguntou como tinha sido o Natal e ele disse que tinha sido bom, havia ganhado brinquedos, um par de sapatos e meias. E ela então disse quase a mesma coisa que a mãe dele falou: ‘Papai Noel deixou aqui um presente para você’. E se foi encaminhando para o quarto. O menino ficou no alpendre, sentado, esperando-a voltar. Mas de lá do quarto ela o chamou e ele a atendeu prontamente. Tia Ambrosina estava com uma bola de borracha na mão, do tamanho de uma bola de couro oficial, pintada de bolinhas pretas e vermelhas. Nem bem havia tomado a bola nas mãos, eis que Sidney, na época goleiro do time titular do Casimiro de Abreu, chegou e ao vê-lo com a bola nas mãos, tomou-a e passou a brincar com ela. Jogava-a na parede e a agarrava daquele jeito que só um bom goleiro sabe fazer. Aquilo deixava o menino mais ansioso ainda porque a intenção dele era ir correndo com a bola para experimentá-la lá no campo. Ademais, era a primeira bola que ganhava. Costumava jogar peladas com bolas de meia e no campo jogava com bola dos outros. Queria que Sidney entregasse logo a bola porque o campo o chamava. Foi preciso fazer cara de choro para ele entender a ansiedade do menino e entregasse a bola duma vez. Sabe quando um menino, como se diz, vira traque? Pois foi. Ele correu para o campo e ao chegar lá deparou com alguns jogadores de futebol, adultos, de calção, chuteiras e meias, prontos para iniciarem o treino do União, o time que deu origem ao Casimiro de Abreu. A cena é revista como se tudo estivesse acontecendo agora. Bispo era um beque central alto, forte, irmão de Bonga, goleiro, o mesmo que depois foi treinador do juvenil do Casimiro de Abreu. Bispo tomou a bola com o característico jeito dos adultos quando brincam com as crianças. Ele dava chutinhos na bola. O menino ficou furioso. Tinha recebido a bola de presente e nem havia podido experimentá-la. Primeiro foi o primo que ficou brincando. Depois, Bispo vem e faz uma coisa desta?! Ele saiu catando pedras para jogar nele ao mesmo tempo em que gritava: ‘Me dá minha bola, me dá minha bola’. Bispo fez então o inesperado: soltou a bola em meia altura diante do próprio corpo e deu nela um chute para o alto, um balão, como se diz. O menino ficou com o coração na mão. Desse jeito, Bispo ia estragar a bola novinha, ele pensou. Enquanto a bola subia e ficava pequenina lá em cima, numa fração de segundos, foi como se algo fosse desabar sobre a cabeça do menino. A bola caiu a certa distância. Ficou repicando até parar. Àquela altura o menino chorava. Achava que a bola tinha se estragado. E gritava: ‘Vou contar pro meu pai’. Apesar do chutão dado por Bispo, de chuteira, a bola continuava inteira, novinha. E antes que mais alguma coisa pudesse acontecer para impedir o menino de experimentar a bola, ele meteu-a debaixo do braço e saiu o mais rápido que pôde dali. Diante das circunstâncias, a melhor maneira de experimentar o presente era mesmo na rua, na porta de casa. Assim se deu a primeira pelada jogada com bola própria. Ninguém pode imaginar a alegria. Podia o sol rachar a moleira, desde que encontrasse quem topasse chutar bola no meio da rua, nada mais tinha importância. Até hoje a bola que a tia Ambrosina deu de presente de Natal rola, ora na poeira ora na grama do campo do União Futebol Clube das lembranças do menino.

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