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Mensagem: Namoro antigo Waldyr Senna Batista Recebida sob aplausos, a notícia da instalação de unidade da Alpargatas em Montes Claros representará investimento de R$ 180 milhões, com a criação de 2.200 empregos diretos e mais de 3 mil indiretos, entre outros benefícios. Antes do final do próximo ano, estarão sendo produzidos aqui, anualmente, 100 milhões de pares de sandálias, que representarão aumento de 35% na produção do grupo, presente em 85 países. A decisão de se instalar aqui foi tomada pela empresa com base em indicadores econômicos e sociais que atenderam aos seus interesses. Ao que consta, pesou entre eles o crescimento populacional, que atestaria a vitalidade da cidade. Em dez anos, conforme o último recenseamento, ele foi da ordem de 17%, muito superior ao de Belo Horizonte, que se situou em 6,38%. Isso mostraria a tendência de inversão do fluxo que se processava em direção à capital. Atualmente, no Estado, são cerca de dez as cidades de porte médio, com população entre 200 mil e 500 mil habitantes. É em direção a elas que as coisas passaram a acontecer. Montes Claros, em vez de se deixar empolgar em excesso por estar nesse bloco, deve entender o privilégio como advertência e incentivo para a correção de deficiências estruturais que podem vir a comprometer decisões futuras neste sentido. Pela simples razão de que crescimento populacional geralmente se faz acompanhar de efeitos colaterais para os quais as prefeituras não têm à mão, a tempo e a hora, remédios eficientes. Isso se deu, aqui mesmo, quando do advento da Sudene, oportunidade em que o “boom” da industrialização foi explorado para atrair mão de obra não qualificada, gerando desemprego e favelização, males de que a cidade até hoje não se libertou. Se a nova tendência é favorável, é bom que a Prefeitura cuide de adotar medidas preventivas, levando em conta os complicadores, no bom sentido, já evidentes, que são a exploração do gás natural, em execução, e a extração de minério de ferro, em preparo, que produzirão forte impacto em Montes Claros, apesar da grande distância em que se situam. A Prefeitura, que dará terreno no distrito industrial para a Alpagartas, não pode entender que terá assim cumprido sua missão. Ao contrário, a concretização dessa etapa poderá significar o início de complicações facilmente previsíveis. Quando aqui esteve, o governador Antônio Anastasia anunciou projeto de lei que irá conceder incentivos fiscais, apelidado de “Sudene mineira” e cujo alcance não chegou a ser suficientemente mensurado. Mas que não deverá representar muito, em comparação com a verdadeira Sudene, cujos benefícios cobriam dois terços dos empreendimentos, a fundo perdido, cabendo aos empreendedores a fração restante. Essa Sudene foi extinta. Recriada no governo Lula, hoje ela se limita a financiamentos, em moldes iguais aos dos vários bancos de fomento. O sistema é tão pouco atrativo que, decorridos alguns anos, não se fala em Sudene e nem se tem notícia de empresário que se disponha a usar seus supostos atrativos. Mas, em meio às expectativas quanto ao que virá, um registro curioso sobre o passado: a Alpargatas está chegando a Montes Claros com mais de trinta anos de atraso. No auge do ciclo da Sudene, a empresa apresentou projeto, adquiriu terreno no distrito industrial e até iniciou o treinamento de pessoas que iriam compor sua equipe operacional. Uma delas era o engenheiro Lúcio Ramos, que foi enviado a São Paulo e ao Rio Grande do Sul para especialização. E, sobre isso, há também o testemunho de quem acompanhou de perto o início do namoro da Alpargatas com Montes Claros. O escritor Manoel Hygino dos Santos, em artigo no jornal “Hoje em Dia”, de BH, conta que, como chefe de gabinete do presidente da CDI (Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais), participou de reunião com a direção da empresa (por sinal integrada por um filho do escritor Cyro dos Anjos) ocasião em que o assunto foi discutido. Esse namoro é antigo. (Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil)
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