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Mensagem: Maconha liberada em paredão de Minas Quando a Rede Globo produziu o famoso seriado “Grande Sertão: Veredas” eu era Juiz de Direito na comarca de Pirapora, cidade gostosa à beira do São Chico. João Guimarães Rosa andara por toda a região, com seu caderninho, fazendo as anotações que o levariam a escrever o maior romance da língua portuguesa. Paredão era distrito de Buritizeiro, município que pertencia à minha Comarca. Lá havia um Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais. No final do ano era meu dever inspecioná-lo. E lá fui eu, feliz por conhecer aquele lugar tão famoso, citado na grande obra literária. Peguei o carro e tomei o rumo do Rio do Sono. Quase 90 quilômetros, em mais de duas horas de viagem em estrada de chão. Ao chegar, a primeira coisa que fiz foi me dirigir às margens do rio e ver a praia e o famoso paredão. Emocionei-me ao conhecer pessoalmente aquele lugar tão lindo, bastante preservado, que era atração turística de um distrito com pouco mais de quinhentas almas. Depois fui visitar a sede, o casario, o sobrado tão usado nas filmagens e, finalmente, me dirigi ao cartório, que ficava num cômodo, anexo à residência do Oficial do Registro. O servidor era educadíssimo, versado no idioma, organizado e competente. Tudo estava em ordem. Finda a inspeção ele me ofereceu um café com pães de queijo, na cozinha de sua casa. Assinamos o termo da Corregedoria e nos dirigimos ao local. Fogão de lenha dos grandes, mesa grandona, de madeira roliça, fortes e confortáveis cadeiras, veio o delicioso café. E com ele o papo agradável. Perguntei ao servidor sobre o seriado e ele, então, me disse, orgulhosamente: — A televisão arrumou este lugar todinho. Alugou várias casas para o pessoal da equipe e as reformou. Era muita gente. E usaram os daqui como figurantes. Alguns até alugaram suas casas e foram para as dos parentes, para ganharem um dinheirinho extra. E eles pagaram muito bem. O povoado ficou lindo. Toda noite era uma festa. Fiquei amicíssimo de “seu” Tarcísio e de Dona Bruna. Gostei muito também de “seu” Tone Ramos. Eles não saíam daqui de casa. De noitinha, depois do trabalho, vinham aqui para essa mesa tomar meu cafezinho e comer os biscoitos feitos por minha mulher, que é a biscoiteira mais famosa aqui da região. Contei a eles toda a nossa história. São artistas famosos, mas muito simples e sabem cativar os corações das pessoas. Tenho muita saudade dos três. Já anoitecendo, despedi-me do Oficial e cumprimentei-o pela ordem de seu cartório. Ao passar por um descampado senti um forte cheiro de maconha. Fiquei com aquilo na cabeça e, no dia seguinte, resolvi descobrir o que era. Comentei com meus colegas de Fórum. Eles me disseram que mais de duzentas pessoas que trabalhavam na equipe do seriado ocuparam as casas do distrito. Muitas delas usavam maconha e aplicaram a erva a muitos nativos que, inclusive, plantaram sementes em seus quintais. Trocaram o cigarro convencional dizendo, inclusive, que faziam economia, pelo novo cigarrinho, que era feito com fumo caseiro. E ainda diziam que curava várias doenças, que os deixava tranquilos, com um tremendo apetite e com disposição para executarem suas tarefas diárias. Em Paredão não havia posto policial e o pessoal curtia sua maconhinha numa boa, sem que ninguém importunasse. Não é, pois, sem motivo que Fernando Henrique Cardoso defende a descriminalização do uso da “cannabis sativa”. Lá em Paredão de Minas não havia necessidade de traficantes, porque os usuários colhiam a erva em seus próprios quintais e a consumiam abertamente, especialmente na linda praia, morena, às margens do caudaloso Rio do Sono. Coisa que só acontece neste nosso grande sertão.
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