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Mensagem: O Vale que eu vi – Cheguei há pouco no Vale. Vim de mala e cuia e, de pronto, assombrei-me. Já tinha ouvido falar, Como César, foi necessário vir e ver, para ficar pasmo. Aqui, mais que em outros lugares, é grade o fosso que separa os homens. Quem tem, tem. Pena que os “outros” são, assustadoramente, em maior número. O escritor já disse: “Minas são muitas”. Mas, me digam, que Minas é essa que emerge do Vale? Minas, não a percebo nas águas sujas do Jequitinhonha. Também não a vislumbro na poeira que inunda a 367. Estrada que me apanha em Almenara, me leva por Jacinto e, de “salto”, me deixa, cansado, sacolejado (ai, sim), no asfalto que brota, de todo, contínuo, só que na Bahia. Por aqui, os poucos lúcidos não podem esperar. Como a terceira pomba, contam as horas que faltam para deixarem a arca, porque, “acolá”, diz o pregador, a terra é de promissão. Aos que ficam, curtidos na cachaça (porque lhes negam até o pão e o circo), não interessa se a UFVJM chega ou não até o miolo do Vale. Já é tarde (ou quase tarde). Eles sabem (o matuto sempre sabe) que a Universidade que lhe prometem só interessa ao que vivem da Universidade. Interessa aos seus mestres e doutores, que se cobrem de títulos, sobem níveis, graus e tabelas, para ganharem e se fecharem em si mesmos. Como confiar nos que vêem o Vale como muitos, Altos, Médios e Baixos Jequitinhonhas? O Vale que eu percebo pode não ser de Minas (como o filho bastardo não é do pai), mas ele existe. Teimosamente ele insiste em existir: quem sabe para justificar uma universidade que, embora ostente seu nome, ainda não se mostrou, de todo, a todo o seu povo. Quem sabe o Vale exista para justificar os repasses de verbas que insistem em tardar, para, enfim, se perderem nas contas e bolsos dos poucos filhos do Vale, que, desde sempre (antes deles seus pais e, antes desses, os pais de seus pais, porque assim é a profecia), vivem e se refestelam da miséria dos que são maioria e desconhecem até as primeiras letras. Essa parece ser a sina do Vale que eu estou a conhecer. Por tudo isso, eu tenho pena desse povo. Se, ao menos, os outros os odiassem, os espezinhassem, quem sabe, assim, ele se encheria de brio e se levantaria. Mas não, o povo do Vale que eu estou a conhecer carrega a sina de um povo relegado, ignorado e é isso que mais dói. Por tudo isso, eu reafirmo: a UFVJM, como concebida, não se mostrará a todo o Vale, seja porque ela não conhece e nem entende o Vale que eu percebo, seja porque ela, como a terceira pomba, também quer partir, pois “acolá”, diz o pregador, a terra é boa e farta.
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