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Mensagem: Montes Claros ontem José Prates Montes Claros de ontem, a Montes Claros do passado, pequena, em vista do que é hoje, era altamente comercial, mas, bonita e poética, habitada por um povo sem pressa, andando devagar nas ruas estreitas e vazias, saudando uns aos outros ao se cruzarem nos passeios limpos, varridos com cuidado, pelas donas de casa. É o Sertão mineiro que tem história e poesia na simplicidade do linguajar sertanejo. Montes Claros cresceu tornou-se adulta, mas não perdeu a faceirice de menina moça de olhar brejeiro e inocência sertaneja. Na alvorada do século dezoito, o bandeirante Antonio Gonçalves Figueira, baiano, recebeu a carta de sesmaria da Fazenda Montes Claros. A beleza poética já vinha no nome que dizia dos belos montes que circundavam aquelas terras virgens, sem nenhuma mácula. Era a primeira vez que o homem pisava aquele chão, trazendo para ele a ânsia do progresso que ficou na alma desbravadora do sertanejo. O céu azul, limpo, cobre a vasta possessão que abrange tudo que a vista alcança até as serras claras que compõem o horizonte majestoso. Nascia na visão confiante dos desbravadores, uma cidade que já tinha nome ditado pela natureza exuberante: Montes Claros Foi assim que nasceu o novo povoado que batizaram com o topônimo de Arraial das Formigas de Nossa Senhora da Conceição e São José. A terra não era, porém, rica somente em beleza, mas, também em ouro, descoberto nas vizinhanças. Avalanche de gente chegou atraída pelo metal precioso e não demorou que tudo aumentasse e o povoado dos montes claros virou cidade, tornou-se município e o nome ficou. Foi oficializado em 1831. Em 1857 a vila foi elevada a cidade e o povo festeiro comemorou com comes e bebes e grande foguetório. O baile foi até o amanhecer no grande quintal de terra batida. Montes Claros já nasceu com disposição para crescer, sem desprezar o romantismo sertanejo nem a poesia do lugar. Veio a guerra do Paraguai e Montes Claros ainda menina, mandou seus filhos; entrou na política partidária e elegeu deputados. Cultivou a cultura e apareceram os primeiros intelectuais que instalaram a Escola Normal sem necessidade de professores de fora; veio o primeiro jornal em 1884 com o nome de “Correio do Norte”. Beleza natural, simplicidade poética e cultura aliaram-se na criação da cidade. Naturalmente bela, culta, romântica e poética, cresceu, tornou-se menina-moça enamorada do sertão, querida e admirada, respeitada pelo porte de grandeza que lhe fez respeitada. Mas, quem disse que a sertaneja Montes Claros parou por ai? Entrava o século vinte e novos horizontes descortinavam-se na cidade menina que queria crescer em tudo. Por isso não parou no tempo, apoiada na fama. Não, foi buscar na Bélgica os cônegos premonstratenses, de batina branca, com a missão de propagar a fé católica e instruir a juventude. Chegaram e admiraram a cidade que lhes sorria. Colocaram mão à obra: investiram na educação e fundaram mais um colégio; criaram mais um jornal, um grêmio literário e até um modesto observatório astronômico. Inaugurou-se, na pacata cidade sertaneja, uma nova era espiritual. A veia poética e romântica sobressaiu-se ao comércio frio, fazendo a cidade resplandecer em noites e dias luminosos, na sua juventude gloriosa. A cidade nascida humildemente no rincão sertanejo superlota-se de atores, cantores, instrumentistas, menestréis e jornalistas, assemelhando-se ao triunfo de Péricles na Grécia antiga. Nessa época de poesia, surgiu o bardo João Chaves cantor nas serestas ao luar. Compôs a modinha “Amo-te muito” que se tornou o hino dos seresteiros. Mas, Montes Claros, a menina ambiciosa, não parou na poesia nem quis viver somente o clima do romantismo. Nem só do sarau, da flauta e do violão, vivia a Montes Claros romântica. Um seu filho, Gonçalves Chaves que governou a província, destacava-se no cenário jurídico nacional com a redação do livro Direito de Família, do Código Civil Brasileiro. Nessa ocasião, Rui Barbosa era o máximo em nossas letras jurídicas e se tornou um dos grandes admiradores do montesclarense Gonçalves Chaves, colocando-se entre os seus maiores admiradores, tratando-o de “meu mestre de direito constitucional” . Montes Claros presta-lhe uma grande homenagem colocando o seu nome no primeiro Grupo Escolar da cidade e até hoje, mantém, essa homenagem. O Grupo Escolar Gonçalves Chaves foi o berço dos grandes nomes da intelectualidade de Montes Claros como Dr. Plínio Ribeiro, Simeão Ribeiro, Darcy Ribeiro e outros que enriqueceram o catálogo de intelectuais montesclarenses. Não queria parar, mas, se quisesse, não poderia fazê-lo freando o avanço progressista. Foi por isso que em 1926, uma locomotiva apitava freneticamente anunciando que a estrada de ferro acabava de chegar. Com a ferrovia, Belo Horizonte estava ali, podia ser alcançada com doze horas de viagem. Foi o empenho do Engenheiro Francisco Sá, filho de Brejo das Almas, Ministro da Viação e Obras Públicas, no governo de Arthur Bernardes, que trouxe a ferrovia até Montes Claros em 1926. A estatua desse mineiro patriota, na Praça da Estação, tem o braço levantado apontado para o norte como a dizer que a estrada de ferro não morreria ali, seguiria em frente, o que, de fato, aconteceu. A cidade não parou de prosperar-se e treze anos depois, ou seja em dezembro de 1939 o então Governador do Estado Benedito Valadares inaugurava o aeroporto local com o nome de Aerodromo Governador Valadares. Em 1942 a aviação comercial, pela Panair do Brasil, iniciava sua atividade no norte de Minas com vôos de Montes Claros para Belo Horizonte, Salvador e Recife usando aviões DC-3 com capacidade para 24 passageiros. Daí pra frente, não parou mais e Montes Claros, hoje, é a quinta cidade mais importante de Minas Gerais o que nos orgulha e envaidece. (José Prates, 84 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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