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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Uma Boa Noticia Ruth Tupinambá Graça Paira no ar uma boa noticia vinda do Centro Cultural de nossa terra: a fundação de uma Banda de Música. Confesso que fiquei muito contente. É o que nossa terra precisa e merece: com seu grande desenvolvimento político e social ( tantos anos de existência e um número considerável de habitantes) já deveria possuir uma Banda de Música para abrilhantar suas festividades políticas e sociais. É triste dizer: Montes Claros já teve uma Banda de Música (a Euterpe Montesclarense), que por displicência dos nossos governantes , desapareceu , deixando-nos uma grande tristeza e saudade. Fundada em 1856, quando nossa cidade era apenas a Vila de Montes Claros das Formigas, por uma grande mulher: Dona Eva Barbosa Teixeira de Carvalho (irmã do nosso saudoso prefeito Dr. Santos), uma musicista inata que sonhava com uma Banda de Música para nossa terra. Apesar das dificuldades ela não desistia e conversando com o Coronel Prates, Padre Chaves e Dr. Carlos Versiani, (pessoas influentes da época) o entusiasmo cresceu, aumentando o sonho daquela gente e a possibilidade de realizá-lo. Difícil era achar um bom Mestre da Música. Entusiasmado, o Dr. Carlos Versiani mandou buscar um maestro em Diamantina e um mês depois chegava à Vila de Formigas o famoso músico Risério Alves Passos , o´Mestre Risério´.Tudo era difícil naquela pequena Vila, mas o entusiasmo e força de vontade venceram as dificuldades. Até os ´coronéis´, deixando de lado as ´rixas´ políticas, se entregaram de corpo e alma numa cooperação geral na organização da sonhada Banda. Os ensaios corriam com dedicação, pontualidade dos músicos e a vigilância da Dona Eva. E, no mês de Julho de 1857 ,a Banda Euterpe Montesclarense tocou em público pela primeira vez, nos festejos da passagem de Vila de Montes Claros das Formigas para Cidade de Montes Claros. Anos depois com a morte do ´Mestre Risério´ (primeiro Regente) e do segundo , Professor Justino Guimarães, filho da Dona Eva e Pedro Guimarães, dois grandes músicos, a Banda quase desapareceu. Sobrevivia aos trancos e barrancos, graças à perseverança dos músicos, fazendo este trabalho sem remuneração. Tocavam pelo prazer de tocar em todas as festividades da nossa cidade. E como se sentiam felizes dentro daqueles uniformes, empunhando seus instrumentos! Suaram para angariar verbas junto à população para comprar novos instrumentos, cavaletes individuais, cadeiras e até uniformes brancos com botões dourados e bonés enfeitados com galões para os dias de gala. A cidade foi crescendo. Alguns músicos morreram. Em 1906 a Banda foi toda reformada, com 26 figuras, instrumentos novos, cadeiras e estantes portáteis individuais e dois uniformes, sendo um de gala. Assim foi legalmente constituída com estatuto registrado, amparada por uma diretoria externa. Foi nesta época que eu conheci a Banda, já com meus oito anos morando na Praça da Matriz. Adorava vê-los ensaiar. Os músicos já eram outros, sendo todos meus vizinhos. Á tardinha, o piston do Augustão Teixeira (apaixonado pela Banda), quebrava o silêncio daquela Praça antiga, chamando os músicos. Dava gosto vê-los chegando, um a um, afobados, trazendo seus instrumentos de metal dourado, polidos e lustrosos Durante muitos anos a casa do Augustão, no inicio da Rua Justino Câmara, na entrada da Praça, foi o ponto de encontro desses homens extraordinários que tanto lutaram e se esforçaram para que a Banda Euterpe Montesclarense sobrevivesse. Ensaiavam lindos ´dobrados´, marchas militares e valsas. As festas de Agosto se aproximavam e a Banda não podia ´fazer feio´ nas missas dos Reinados de Nossa Senhora, São Benedito e na Procissão do Divino ou nas empolgantes ´cavalhadas,´ um belo espetáculo em que a Banda tinha papel importante E também nas estréias dos circos, com as melodiosas valsas. Estas comemorações tradicionais da cidade eram animadíssimas. Começavam às quatro da madrugada com a alvorada. Era uma delicia! Acordávamos com o som da música, o pipocar dos foguetes e o repicar dos sinos da velha Matriz. Tudo era tão simples! Abriam-se as janelas que, de repente, ficavam cheias de curiosos. Outros corriam para a rua, eufóricos, para ver a Banda passar... Um céu lindo estrelado era testemunho da alegria daquele povo simples, enquanto uma brisa leve, gostosa, passava levantando os cabelos e provocando arrepios... Tudo tão natural, interessante... A Banda passava imponente no seu uniforme branco, retumbando seus instrumentos, dando um show de alegria, deixando em nossos ouvidos os sons doces e melodiosos daqueles celebres dobrados. Aos domingos, tínhamos retretas na Praça da Matriz (apenas um Largo enorme com um coreto no centro). Era ali que a Banda ficava por duas ou três horas deliciando nossos ouvidos com suas músicas. Todos se juntavam para ouvir: crianças e velhos. Os casais de namorados tornavam-se mais românticos e apaixonados, os velhos, lembrando-se dos tempos passados escutavam embevecidos. E a criançada aproveitava para brincar, correndo em volta do Coreto, escondendo-se no meio da multidão, esbarrando-se, de propósito, nos casais de namorados, só para vê-los atrapalhados, as caras assustadas das mocinhas que se encabulavam, Anos mais tarde os ensaios passaram para a casa do tio Basílio (pai do Dr. Hermes de Paula) que na época era o Presidente da Banda e se sentia muito lisonjeado. Após os ensaios a tia Joaquina preparava ´aquele café´ para os músicos com biscoitos e bolos variados, famosos e feitos especialmente para o ´café dos músicos”. Nesta hora apareciam muitos ´filantes´ daquele cafezinho gostoso e caprichado... Infelizmente alguns daqueles dedicados músicos morreram. Os dirigentes da nossa cidade tinham as vistas voltadas para empreendimentos mais lucrativos e numa displicência total e falta de sensibilidade deixaram a Banda Euterpe Montesclarense morrer abandonada. Será que nos meus 95 anos terei o prazer de ver novamente a Banda passar? Que Deus ilumine o Secretário da Cultura de Montes Claros. Acredito que ele é bastante sensível, como vem demonstrando. Apoiado pela nossa comunidade e dirigentes da Prefeitura, que estão reconhecendo que o ´SER é muito mais importante que o ´TER´, a notícia da fundação de uma Banda de Música transformar-se-á em realidade e a Banda Euterpe Montesclarense ressuscitará. (N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 95 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).

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