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Mensagem: Cidade sitiada Waldyr Senna Batista Deu em nada, como era de se esperar, a audiência pública promovida pela Assembleia Legislativa para tratar do problema da criminalidade em Montes Claros. O assunto foge à competência dos deputados, que no máximo poderiam formular comentários e apresentar sugestões. O presidente da comissão, deputado João Leite, reconheceu que a violência não se restringe a Montes Claros, estende-se a todo o território nacional. Se era este seu entendimento desde antes, resta imaginar o que o moveu a vir debater o tema. Ao final do encontro, salvou-se sugestão do delegado Marcelo Eduardo Freitas, da Polícia Federal, para limitação do horário de funcionamento de bares e restaurantes, que passariam a fechar à meia noite, e a aplicação rigorosa das normas que controlam a presença de menores de idade em áreas de risco. Essas medidas poderiam contribuir para minorar o problema, considerando-se que nesses locais, principalmente na periferia, costuma ter origem grande parte das desavenças que levam ao crime. A criação de barreiras nas entradas da cidade, sugerida pelo prefeito Luiz Tadeu Leite, é inexequível, por ferir direitos constitucionais e por envolver grandes contingentes policiais na sua eventual aplicação. Se é verdade que Montes Claros é o segundo maior entroncamento rodoviário do País, pode-se avaliar como seria complicada a implantação de medida dessa natureza. Na reunião, ficou evidenciado que medidas paliativas e discursos cosméticos são mero jogo de cena. Embora extensivo a todo o território nacional, aqui o problema da violência assume proporções mais preocupantes, devido à posição geográfica da cidade, que foi inserida na rota do narcotráfico oriundo das fronteiras com países sulamericanos produtores de maconha e cocaína, tendo como destino o Nordeste. A disputa de posições nesse comércio maldito levou à formação de grupos de extermínio, que têm comprometido a imagem da cidade. Ela não foi tão depreciativa nem quando Montes Claros era tida como um dos maiores centros de prostituição do Brasil, com algo em torno de cinco mil prostitutas. Isso por volta dos anos 1940, quando estava em andamento a implantação da linha férrea para Monte Azul e o jogo carteado era liberado. O ambiente era de tamanha euforia, que se construiu edifício na rua Carlos Gomes, esquina de Visconde de Ouro Preto, que ainda existe e cujas dimensões até hoje impressionam, para a instalação de um cassino. A combinação de jogo e prostituição marcaria a cidade e foi geradora de violência. É esse passado nada recomendável que ressurge, trazido pela sucessão de homicídios que, só neste ano, aproximam-se da marca de 100, sendo 80% pelo menos atribuídos a acertos de contas de grupos que vieram de outras regiões para disputar posições no tráfico de drogas. A população procura resguardar-se com a instalação de muros, grades, cercas elétricas, arame farpado, alarmes e o que mais houver. Essa parafernália transformou Montes Claros em cidade sitiada, em que não se vê a fachada das casas, escondidas por ás de muralhas, e onde a procura por condomínios fechados tem se expandido. Tudo isso em pura perda, já que o dispositivo policial, com dois batalhões, um presídio de segurança máxima, e sistema informatizado tem se mostrado pouco eficaz. O delegado Aluizio Mesquita está anunciando agora a reativação de delegacia especializada em investigar homicídios. Mas a notícia, cuja eficiência parece duvidosa, diante do forte aparato de que dispõe a bandidagem, já surge comprometida com a informação de defasagem de 81 policiais no seu efetivo. Assim, talvez fosse mais recomendável promover a recomposição do pessoal antes de reativar a delegacia. (Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil)
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