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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Os bons ares de lá Alberto Sena Lá a vida passa devagar, vista de todo lugar. Seja da janela, seja da porta ou do fundo do quintal. A cidade fascina quem está enjoado dessa correria dos grandes centros. Lá se pode escutar o silêncio, que não é como o silêncio do vácuo, porque a natureza esbanja os seus ruídos característicos. Os sabiás laranjeira cantam neste momento lá, em todos os cantos. As árvores, muitas deles seculares, são verdadeiros campos de pouso para os passarinhos. Uns chegam, cantam e partem para outros campos de pouso. Outros chegam, cantam, limpam o bico num galho e voam para outras paragens. Mas é preciso ter olhos para enxergá-los e sensibilidade para apreciá-los. Lá é assim: violência não há. Há amizade. Os vizinhos trocam oferendas. A campainha toca. Chega um com prato de biscoito. Passa um pouco, outro vizinho chega com vasilha de mandioca cozida junto com uma porção de carne de sol. E assim vai o dia inteiro. Uma beleza de cortesia. Lá as mangueiras regurgitam mangas. Mangas de todos os tipos: espada, sapatinho, rosa etc. Com as chuvas caindo devagar, sem aquela força das temporadas anteriores, dentro em pouco as mangas amadurecerão. Concomitantemente à safra de mangas, vem o saboroso e forte pequi. Dizem que o pequi de lá é o melhor. Um dia, certamente, vou experimentá-lo. Dizem: “o pequi é vermelho, carnudo, uma beleza!” Lá, as pessoas falam baixo. São educadas para isto. Não ligam som nas alturas. Por isto também lá é diferente de tudo quanto os muitos lugares vividos e sentidos. É por isto que lá a gente pode ouvir os ruídos característicos da natureza; o bulício das folhas das árvores; o som da jia noturna. Lá é desse jeito, “sem tirar nem pôr”, como se diz por lá. O ar é puro e se pode saber o ar puro por causa dos liquens que se espalham pelas pedras. A cidade é um verdadeiro presépio ao ar livre. As pedras formam imagens. Basta ter olhos para ver e sensibilidade para enxergar. Lá tem pedra parecida com leão preguiçoso espalhado no chão. Lá tem pedra parecida com galo. Tem também pedra que se parece com tartaruga. E até pedra com aparência de navio, quase suspensa no ar. A essa altura deste monólogo quem se dá ao trabalho de ler estas linhas está curioso para saber aonde é lá. Lá é Grão-Mogol, cidade distante 143 quilômetros de Montes Claros, no Norte de Minas. Lá é a terra de Lúcio Benquerer. E como reza o próprio nome dele, lá – e em todos os lugares – ele é querido por todos. Vai inaugurar em breve um presépio já considerado o maior do mundo em sua categoria: natural e a céu aberto. Lá é a terra de Antônio de Pádua Bicalho, que já conta mais de 80 anos e guarda a memória da cidade. Garanto que neste momento ele está sentado na soleira da porta do estabelecimento comercial com um livro aberto, lendo. Grande Bicalho! A cidade toda o reverencia. Lá é a terra de dona Nem – Maria Paulina Benquerer – com os seus 86 anos vividos na paz e na tranqüilidade de Grão-Mogol. Ela não troca a cidade por nada deste mundo. Ela conta histórias mil. Até mesmo de uma jiboia que um dia apareceu, pasmem todos, no quintal da casa dela. E quê quintal ela possui! No quintal da casa de dona Nem tem parreira de uva. Bananeiras têm. Mangueiras abarrotadas de mangas por amadurecer. Têm pés de café, de graviola. Este é o paraíso dela. Vida longa para dona Nem. Lá é onde nasceu e vive Geraldo Ramos Frões, que esbanja sabedoria botânica. Ele cuida do viveiro e do presépio da cidade. Produz uma quase infinidade de mudas. Até de pequizeiro, que é difícil. E as mudas são distribuídas de graça para quem se interessar possa. Lá não podia ser diferente de tudo isto porque tem a proteção de Nossa Senhora do Rosário, lembrada e festejada no feriado local, segunda-feira, 31 de outubro, com uma alvorada de foguetes. Grão-Mogol é também do padre Geraldo Magela, que nasceu em Montes Claros, mas adotou a cidade e a região, aonde conduz a paróquia Santo Antônio, toda feita de pedras. O padre se diz em “estado de êxtase” com o presépio enorme em fase de conclusão. Os olhos dele brilham com a novidade. Lá é assim, como disse em poucas palavras. E se Deus quiser continuará assim, porque cada um dos seus mais de sete mil habitantes cuida de Grão-Mogol como cuida da própria casa.

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