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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Praça de Esportes, Retalhada! Ruth Tupinambá Graça O que será da nossa “Princesa do Norte de Minas” se a Administração Pública continuar retalhando-a, vendendo pedaços às empresas gananciosas que pensam somente em “cifras”? Chegou ao cúmulo do absurdo: vender parte da nossa Praça de Esportes, para, em troca, construir um “majestoso estádio”, um “grandioso teatro” terminal de ônibus urbanos, etc. A cidade realmente precisa (pelo seu valor cultural) de um teatro, mas não é “desvestindo um santo para vestir outro” que se resolve um problema. Não será retalhando a Praça de Esportes, destruindo uma obra tão querida e necessária, em troca de outras construções para as quais faltam verbas. As crianças e adolescentes - juventude de nossa cidade- precisam de práticas esportivas e lazer e não têm outra opção: por que a Praça de Esportes ficou abandonada, sem rumo sem direção adequada? Tudo culpa da administração pública e também da nossa comunidade displicente que aceita tudo por comodidade. Sabemos que o esporte é a esperança, a solução para tirar a juventude do vicio das drogas, que cresce assustadoramente em nossa cidade. Traficantes tomaram conta e as “bocas de fumo” se espalham por toda a periferia, causando diariamente mortes e assaltos. A violência nos assusta; a população vive presa atrás dos altos muros e das cercas elétricas, enquanto os “reis das drogas”, matando e roubando, zombam da policia. Pois realmente são os “donos do pedaço”. A nossa Praça de Esportes já deveria ter sido tombada como Patrimônio Histórico pelos relevantes serviços prestados á nossa comunidade. Ela Tem valor próprio, È a nossa herança do passado com que vivemos hoje e passaremos para gerações vindouras, levando-se em consideração seu interesse e trabalho para identidade cultural da nossa cidade. No passado, centenas de jovens atletas ( por ela treinados) brilharam, disputando em várias cidades do nosso Estado, elevando o nome de Montes Claros e trazendo medalhas. A Praça de Esportes tinha vida, tinha alegria e orgulho dos seus campeões, Eu era jovem e freqüentadora e posso neste momento dizer o que foi a Praça e os momentos felizes da sua existência e que muitos desconhecem. A Praça de Esportes não surgiu de uma noite para o dia como num “passe de mágica”. Foi muito difícil a sua trajetória. Em 1941 ela surgiu bela e majestosa conquistando todos os corações. Este acontecimento marcou época em nossa cidade. Nem todos sabem o que foi outrora o local onde ela se localiza hoje. Era uma várzea servindo de logradouro público, e na época de chuvas ela se transformava num verdadeiro pantanal. Até 1938 esta várzea escura e triste permaneceu abandonada. As noites eram tranqüilas e o único sinal de vida era o coaxar dos sapos, que na sua orquestra extravagante quebrava a monotonia daquela várzea, em completa solidão. Chamava-se Prado Oswaldo Cruz. Um largo enorme, maltratado, algumas casas comerciais antigas espalhadas ao seu redor e no centro um grande “papa vento”. As autoridades competentes da nossa cidade, até então, nunca conseguiram transformá-la numa praça atraente e bonita, nem tampouco aproveitar aquela imensa extensão para melhores fins. Os anos foram passando e o destino (para sorte de Montes Claros) deu-lhe um novo Prefeito: Dr. Antônio Teixeira de Carvalho, o Dr. Santos, como era chamado. Inteligente, dinâmico, admirável força de trabalho, empreendedor de grande coragem e otimismo. Bom caráter (o que hoje é mais difícil) personalidade forte que levava pessoas a respeitá-lo, inclusive os amigos e correligionários. Dr. Santos sonhava com o progresso de Montes Claros e cheio de entusiasmo, idealizou a Praça de Esportes. Queria um esporte planejado e bem orientado, de maneira que a infância, adolescência e juventude montesclarense pudessem praticá-lo desenvolvendo-se física e socialmente. A obra era caríssima, levando em conta os cofres vazios da Prefeitura. Naquela época não existiam as gordas verbas de hoje, principalmente para as regiões esquecidas do nosso sertão. Entretanto nunca desistiu, nem vendeu pedaços da nossa cidade. Graças á sua capacidade de trabalho e prestigio, conseguiu vencer todos os obstáculos. Em 15 de março de1939 foi lançada a pedra fundamental, começando imediatamente a drenagem daquele famoso pântano. E em 1941 estava pronta a sonhada Praça de Esportes com quadras de vôlei, tênis, piscina, etc. Trouxe de Belo Horizonte, para beleza e estética, plantas variadas e um jardineiro especializado para cuidar do jardim e treinar os novos contratados da Prefeitura ,que ainda desconheciam técnicas de jardinagem. Nossa Praça ficou um luxo! Mais tarde foi construída a sua sede social, luxuosa e confortável, anexa . Era o ponto onde se celebravam todos os acontecimentos políticos e sociais da nossa cidade. AS recepções (inclusive serviço de “buffet”) dos casamentos das minhas filhas foram realizadas no salão da sede da Praça, com um serviço impecável . Aos domingos aconteciam as celebres “matinês dançantes”, a “coqueluche dos anos dourados. No salão repleto reinava alegria, animação e respeito. E como dançavam naquele tempo!.. Época dos boleros de rosto colado, única extravagância permitida aos namorados. Nada de bebidas alcoólicas. Era só o prazer de dançar e sentir o calorzinho do par muito querido e desejado. A nossa cidade foi crescendo, surgindo novos clubes e a Praça de Esportes foi ficando no escanteio. É o grande defeito dos prefeitos( na maioria) : quando assumem a Prefeitura não valorizam e abandonam o que os antecessores fizeram. Até a sede social foi demolida, nem mesmo sabe-se por que. Coisas que só em Montes Claros acontecem. Hoje ela está mais velha e mais triste. O seu jardim, antes tão bonito, perdeu aquele colorido, as flores desapareceram , morreram de sede e de paixão... E as “bougainvilles” que formavam uma cerca viva em sua volta - numa festa de cores - foram desaparecendo, pouco a pouco. Árvores enormes, sem trato, tomaram conta quebrando sua estética. Hoje é apenas uma caricatura. Tornou-se cada vez mais isolada com ausência dos namorados , dançarinos e atletas dos áureos tempos. Desprezaram-na. Esqueceram-se dos mais de 60 anos de benefícios prestados á nossa comunidade. Nossa Praça de Esportes está morrendo e que morte triste ! Retalhada. Acordem montesclarenses! Basta de displicência e comodismo. Balancem este “formigueiro humano” (como no passado) e protestem, gritem, convoquem os responsáveis pelos problemas políticos e sociais da nossa cidade e região, deputados, vereadores, políticos e comunidade. Não deixem a peteca cair... Do contrário será mais um Monumento Histórico que irá desaparecer, assim como Igrejinha do Rosário, Mercado Municipal , Colégio Diocesano e muitos outros já demolidos para nossa tristeza e saudade. * Da Academia Montesclarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. (N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 95 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).

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