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Mensagem: UMA VISITA AO ONTEM JOSÉ PRATES Carmen Netto tem razão de sobra ao dizer que quando chega o Natal, o clima de festas realimenta nossas emoções. São lembranças de um passado distante, pedaços da infância perdidos no labirinto dos sonhos irrealizados. Tudo isto brota na mente que não envelhece e está sempre pronta a buscar no seu arquivo, pedaços de nossa vida que lá estão arquivados. Da infância propriamente dita, passada na cidadezinha onde nasci, quase nada existe a relembrar. Dos Natais, apenas, a Missa do Galo na Igreja iluminada por luz elétrica que vinha do motor instalado nos fundos da farmácia de “seu” Chiquinho. Eu ia acompanhando minha avó que sempre estava de chale preto a lhe cobrir a cabeça. Gostei quando Carmen, nas suas lembranças, enveredou-se pela Rua Pres. Vargas, retornando ao tempo de sua infância. Ai, então, empolgou-me e peguei carona porque aquela Montes Claros menina, tranqüila e poética, brotou-me na lembrança, fazendo-me reviver o final da adolescência na Pensão de “seu” João, na Praça do Cruzeiro, hoje, Dr. João Alves. De carona com Carmen pensei por onde começar a caminhada que teria varias paradas no encontro com amigos, para um dedo de prosa. Por onde começar, então? Pensei em descer a Rua Dr. Santos, começando pela Praça Cel Ribeiro, de onde poderia ver a nova fachada do Cinema que o Dr. Mário Ribeiro mandou fazer. Começando a descida, passei pelo Hotel São Luiz, ali na esquina, onde encontrei o Sargento Moura que me falou sobre as inovações no Tiro de Guerra. Terminada a conversa, desci a rua calçada com “pé de moleque”, cheguei na Grafica Orion e entrei para falar com Laerte. Também, coisa rápida. Não demorei na gráfica. Sai dali e entrei no Foto Pinto, pra ver umas fotos dos Catopés que foram tiradas na Igrejinha do Rosário. O que me interessava ali na Dr Santos, era a Loja Macedo, Queria ver a nova geladeira que chegou e estava à venda: elétrica, coisa moderna pra nós que só conhecíamos a geladeira a querosene. Na loja, recém inaugurada, tinha muita coisa nova que Montes Claros via pela primeira vez, como fogão a gás com botijão; maquina de lavar roupa e outras coisas que nos davam a impressão de loja da capital. Passei para o outro lado da rua e entrei no O Jornal de Montes Claros pra falar com Antonio Meira sobre a primeira pagina que esperava uma matéria. Saindo do jornal, dei uma passada rápida no escritório do Dr Orestes Barbosa somente para um cumnprimento. Na saída, vi Dona Helena Prates que estava à porta, cumprimentei e perguntei pelo Dr Alfeu. Respondeu-me que ele estava na Santa Casa. Desci devagar, sem falar com ninguém, até o bar de Zé Periquitinho onde não demorei. Entrei na Rua Quinze e fui devagar, passo a passo, contemplando o movimento que já era grande. Ali mesmo, logo ao anoitecer, quantas moiçolas casadoiras, em traje domingueiro e de braços dados, estariam andando de um lado para o outro sob os olhares enfeitiçados da rapaziada postada no passeio da Casa Ramos. Imaginei um “lanche” no restaurante do Ramiro, logo ali, perto da Praça de automovel. Desisti ao lembrar-me do almoço. Já que estava ali perto, fui à Agencia da Real Aerovias falar com “seu” Natércio França e dar um abraço em João Leopoldo. Foi ai que vi o Café Galo, recém inaugurado, com “seu” Augusto, o proprietário, atendendo. Estava vindo de Urandi, Bahia, e o sotaque baiano ainda intacto, nos chamava atenção. Terminar o passeio? Ainda é cedo. Desci a rua, passei pelo armazém 13 de Armenio Veloso, entrei na Rua dos Marimbondos cheia de mulheres com cara de sono, ainda nos bares que não fecharam. O velho Cassino estava fechado. Desde que proibiram os jogos de azar, ele fechou. Fui seguindo até o Alto de São João, sem pressa, andando devagar, olhando pra todo lado em busca de alguma coisa conhecida. Parei ao alto, contemplando a cidade aos meus pés. Casario baixo em ruas estreitas que se enchem de povo; uma cidade que mais tarde, sem que eu estivesse lá, tornar-se-ia a metrópole do Norte de Minas. O menino com o jornal na mão grita a manchete do dia: “A Real Aerovias inaugura linha para Montes Claros, com vôos diários”. Foi porem o vôo da imaginação que terminou. A mente voltou à realidade para dizer à Carmen: muito obrigado pelo passeio. (José Prates, 84 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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