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Mensagem: Adeus, Flora! Ruth Tupinambá Graça Há momentos em nossa vida que não encontramos palavras para exprimir o que sentimos o que vai em nosso coração. Foi o que me aconteceu ontem quando fui ao velório, me despedir, pela ultima vez, da minha amiga Flora Pires Ramos. Ela se foi, nos deixou, é a triste verdade. Por instantes fiquei em estado de choque; meu coração batia desordenadamente e um nó parecia estrangular minha garganta. Foi muito chocante aquele momento. Não podia acreditar que Flora, aquela mulher tão ativa, tão forte, tão segura nas suas decisões durante toda sua vida, era a mesma que ali jazia, fria ,inerte; somente as pétalas de rosas que cobriam o seu corpo, nos mostrava a triste realidade. Notava-se, naquele momento, a expressão de dor e tristeza no rosto de seus filhos, parentes e amigos que, como eu, a contemplava em silencio. Olhando-a, Flora, pela última vez, meus pensamentos voaram para o passado (como uma cortina que se partisse, deixando à mostra tantos acontecimentos) as lembranças de momentos tão especiais que juntas vivemos e estão guardadas na minha retina; fases da nossa infância, adolescência e juventude; as brincadeiras de roda” “Veadinho quer mel” “Guarda o meu anelzinho” em frente à Igrejinha do Rosário , onde você morava . Os passeios na Fazenda do Cedro (existia ainda a Fabrica de Tecidos) onde brincávamos nos montões de algodão que quase nos encobria, rolando e procurando objetos que escondíamos para testar a nossa esperteza... Mas era o Teófilo que sempre os encontrava e zombava da nossa derrota. Na Escola Primária fomos colegas e assentávamos na mesma carteira. Você ,sempre prestimosa, emprestava-me os lápis de cor e sempre repartia comigo, no recreio, as frutas do seu quintal. Formamos juntas, foi uma festa tão bonita! Na juventude cursamos a Escola Normal Oficial de Montes Claros onde fizemos o curso de Magistério. Foi um período apertado, com professores exigentes e responsáveis: Doutor Plínio Ribeiro, Doutor Coutinho, Doutor José Thomaz, Doutora Lilia Câmara,Sr. João Câmara com uma matemática complicada(raiz quadrada, Maximo divisor Comum, Regra de Três etc. Era a matéria que eu detestava...E você levava-me para a sua casa , onde Dona Vidinha(com extrema boa vontade) tirava minhas dúvidas. Depois, Flora, o destino nos separou. Você se casou e eu também. Nossos filhos nasceram , os trabalhos e deveres de mãe e esposa dificultaram nossa convivência. Mas a amizade sempre existiu. Você continuou com sua energia em sua atividade dedicando-se inteiramente às obras de caridade, seguindo as pegadas da sua mãe na Presidência da Associação das Damas de Caridade. Com seu espírito filantrópico (traço característico da sua personalidade) você fez um trabalho magnífico. Fundando a”Escola de Ensino Emendativo Dona Vidinha Pires” (profissionalizante) você ajudou muito a Juventude pobre montes-clarense . Nesta ocasião nos encontramos novamente, você se lembrou de mim,convidando –me para ser sua vice-diretora arranjando minha transferência para sua escola. Foi um tempo feliz e juntas trabalhamos com amor e dedicação. Você, Flora, foi para nós um exemplo de mulher, filha, esposa, mãe e professora, extremamente dedicada aos problemas sociais de nossa terra, doando-se incansavelmente em benefício da classe pobre. Quando a Associação das Damas de Caridade estava financeiramente falida você oferecia diariamente aos pobres, por sua conta, a sopa milagrosa. Milhares de vezes saiu à rua, com as companheiras, pedindo ajuda para o sustento das internas do” Asilo das Velhinhas”,fundado por você. Graças a seu trabalho, seu dinamismo, sua inteligência, sua filantropia, hoje a Associação das Damas de Caridade é uma potência, abriga um grande número de carentes, tratados com todo conforto social e financeiro. Mesmo depois de aposentada e ter entregado ao Bispo de nossa paróquia o grande patrimônio da Associação, você não deixou de olhar para os necessitados. E agora Flora eu vejo-a dormindo e sabemos que jamais acordará Jamais ouviremos aquela voz forte que comandava sem ferir alguém. Sempre sentiremos sua presença, que era um conforto, uma segurança, um apoio. Você, com sacrifício, trouxe a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Sua chegada á nossa terra foi uma apoteose de luz e religião. Ela sempre esteve presente em todos os seus momentos e sob sua proteção você foi um esteio forte de uma família que hoje segue seus passos, perpetuando assim sua existência. Vá em paz, Flora. Você será sempre lembrada com saudade por sua família e por esta grande amiga que teve a sorte de conhecê-la, ter a felicidade de seu convívio e a segurança de sua amizade por tanto tempo. E, em recompensa ao que você plantou na terra, estará entrando hoje no céu com honras e glórias, muita música num lindo Coro de Anjos. ADEUS!... FLORA. (N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 95 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).
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