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Mensagem: DENÇO, ROUXINOL E AMARELÃO. Batizado Lourenço, Denço nasceu nas águas de março, abençoado por São José e sob a proteção das almas ciganas. Um king curraleiro, filho do gênio da humanidade. Cedo ainda, recebeu de sua avó, a velha Belmira Rezadeira, benzeções, contra-mandingas e as artes do catimbó. A matriarca era filha de escravos livres, nascida no final da era dos oito, na Cachoeira do Jaguar. Bahia de todos os Orixás. Intuitivo, logo percebeu que os animais domésticos falavam a sua própria maneira. Bastava para isso, assuntar a sua linguagem corporal e a expressão dos olhos, janelas da alma. Tinha o Amarelão, um cão mestiço de estimação que vivia na larga, a rolar na beira de currais e a lambuzar-se de lama nos córregos. Passava horas deitado no chão de terra batida da cozinha, na casa do patrão, a escutar o pipoco das brasas e as chamas da madeira que queimava no fogão de lenha. Vivia espreitando o gato manhoso que se aquecia nas cinzas do borralho e a escutar os dois dedos de prosa das comadres e compadres, sempre de caneca esmaltada na mão esperando um gole de café moído no pilão e adoçado com rapadura. Amarelão aprendera a sentir as intenções dos humanos pela janela dos seus olhos. Denço era alma liberta das coisas e peias do mundo. Vivia mergulhado em seu universo interior. O barro do qual foi constituído, fora avivado pelo vento doce do astro Taunay. Sabia fazer reza catimbozeira, ficar oculto de alguém, passar em chuva sem se molhar. Afugentava cobras, escorpiões e marimbondos. Quando desafiado por algum menino desafeto rezava no pisado. O dito tropicava e batia as fuças no chão. Assobiava e cachorro bravo vinha de mansinho lamber o couro das suas alpercatas. Rouxinol, seu burrico branco, quase albino, mais parecia um unicórnio tupiniquim. Aos onze anos, viajando pelas escarpas da Serra da Jaguatirica, em noite de chuva pesada, caiu em uma enorme fenda entre os paredões das rochas. O Cavaleiro da Lança Negra viera buscá-lo. Ele havia terminado a sua missão na terra. Com ele caíram Rouxinol e Amarelão, que também estava na garupa. Bem que no dia anterior tivera um presságio. Perdera a sua medalha de São José e o coração pediu-lhe que adiasse a viagem. Denço, Rouxinol e Amarelão foram-se ajuntar à boa alma da Belmira Rezadeira que cantava ponto na Roda de Aruanda, no Oráculo de Oxalá.
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