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Mensagem: A “chuva de São José” Waldyr Senna Batista Chegou a “chuva de São José”. Mansa, preguiçosa e desigual, mas mantendo a tradição de ser a última manifestação da estação dita chuvosa. Mesmo tendo nascido muito antes, ela poderia ser considerada a versão “caipira” do belo poema musicado de Tom Jobim, “águas de março fechando o verão”. Neste ano, as águas de março chegaram atrasadas e com mensagem nada tranquilizadora, depois de sessenta dias de estiagem inclemente e prevenindo que a seca será longa e destruidora. Somando o estrago que já aconteceu aos danos que virão, a região deve preparar-se para o pior. Serão pelo menos dez meses seguidos sem chover, fato que assusta quando narrado a pessoas de outras regiões do País, onde dois ou três meses sem chuva caracterizam seca. Aqui, nesse período, o sol escaldante fez um arraso em toda a região. Exterminou pastagens, esturricou a pouca lavoura que alguns teimosos ainda insistem em plantar, vai continuar matando reses aos milhares e provocando a sequidão dos rios e tanques. Um desastre total. Mas, já foi muito pior, se isso possa servir de consolo. Em passado não muito distante, o Norte de Minas não dispunha do mínimo de estrutura para enfrentar a estiagem. Na época,oitenta por cento da população habitava a zona rural, e essa gente fugia para as cidades, para não morrer de fome. Montes Claros já então se situava como ponto central para o êxodo interminável. Mas como não dispunha de meios para acolher os flagelados, eles se amontoavam na estação ferroviária, aguardando “passe” a fim de tomar o trem rumo a São Paulo e outros centros maiores. Enquanto esperavam, dedicavam-se à mendicância ou a pequenos trabalhos que mal lhes permitiam mitigar a fome. Hoje, esse drama pessoal tem proporções bem mais reduzidas. A começar pela população, cujos índices se inverteram: menos de 20% moram na roça, e os programas assistenciais dos governos são permanentes, eliminando a figura do retirante e do pau-de-arara. As oportunidades de trabalho se ampliaram, embora tenham crescido também o favelamento e os índices de criminalidade. Amenizado o problema social, os proprietários rurais têm aprendido a conviver com a seca, que desafia o poder de análise de ambientalistas e técnicos que tentam explicar o fenômeno sob as luzes da ciência, que fala de aquecimento global, camada de ozônio e crimes cometidos contra o meio-ambiente. E os ambientalistas também vão cumprindo seu papel. A verdade é que a atividade agrícola na região, nos últimos tempos, tem sido de subsistência, pois a produção de escala passou a ser praticada por grupos empresariais ou com base em grandes projetos governamentais. Quanto aos meios tradicionais, eles sobrevivem mais como crendice e devido ao relato de idosos, que viam a “chuva de São Miguel” ( 29 de setembro), quando ocorria na data certa, como prenúncio de fartura, e a “chuva de São José”(19 de março) como aviso da natureza para a longa e sofrida jornada que se aproximava. Se farta, ela ganhava a denominação de “enchente das goiabas”, por coincidir com a safra da fruta. (Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil)
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