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Mensagem: LEMBRANDO NIVALDO MACIEL JOSÉ PRATES Foi uma surpresa, aliás, agradável, quando vimos na Folha de São Paulo de ontem, dia 18, uma matéria sobre Nivaldo Maciel nosso amigo e colaborador conosco na velha ZYD-7 nos anos 50, quando, com Argentino e Serpa, tentávamos soerguer a emissora que estava “lá em baixo” quase abandonada. Nivaldo era um seresteiro que nas noites claras de lua cheia, nas ruas quietas de Montes Claros, fazia janelas serem abertas com jovens e velhos debruçados para ouvirem canções de amor na voz dolente do seresteiro. Nivaldo foi apaixonado pela seresta e com o grupo João Chaves encantou muita gente que lhe ouvia. Eu me lembro que em 1952 ou 53 quando a ZYD-7 entrou em franca decadência, praticamente abandonada, foi por iniciativa de Nivaldo que formamos um grupo para tentar reergue-la, contando com apoio do Capitão Eneas que era o Prefeito Municipal e do Dr. Mário Ribeiro que acabava de assumir o Cine Cel Ribeiro. Para dirigi-la formou-se uma diretoria provisória com Argentino na direção comercial, Serpa na direção artística, eu na direção jornalística. Nivaldo não quis fazer parte da direção. Aconselhou porem, que começássemos contratando um artista de rádio, famoso, para um show, como inicio do soerguimento da rádio. Sugeriu Dalva de Oliveira que estava no auge da fama. Aceita a sugestão, formamos, então, um grupo composto por mim, Serpa e Argentino, com financiamento do Capitão Eneas, para virmos ao Rio de Janeiro contratar Dalva de Oliveira. Fizemos o contrato e ela apresentou-se num show da ZYD-7, no palco do Cine Montes Claros. O show foi precedido por artistas da casa, com Nivaldo Maciel abrindo o espetáculo, encantando a Dalva com sua voz melodiosa. Quando nos lembramos de pessoas como Nivaldo Maciel, João Leopoldo, Argentino, nós sentimos a Montes Claros sertaneja, poética, que fazia das noites enluaradas o cenário para a poesia das serestas ao som do violão. Em alguma casa da rua iluminada pela lua, uma janela se abria, depois mais outra e mais outra, formando uma audiência mista de jovens e velhos ouvindo a canção que lhes transportava para o passado de romantismo ou o sonho com o amanhã de alegrias. Não sei se ainda existem cancioneiros nem se ainda existem serestas porque o chamado progresso destrói o que é romântico. Montes Claros, hoje é cidade grande industrializada com as ruas fervilhando de apressados, sem tempo para o romantismo. Não foi só Montes Claros que mudou, não. O romantismo, a poesia, acabou em quase todos os lugares do mundo. No Rio de Janeiro, o “morro” era o berço da poesia, motivo de versos e canções, pois quem “quem morava lá no morro já vivia pertinho do céu” isto acabou; Maria, com a lata d’água na cabeça desapareceu expulsa pelo trafico de drogas. O som do pandeiro e do violão foi abafado pelo matraquear dos fuzis e a cervejinha inocente no barzinho da esquina foi substituída pelo papelote de cocaína. Não estou falando de Montes Claros, falo aqui o Rio de Janeiro, mas, é bem provável que lá, também, ocorra a mesma coisa porque a droga tomou conta do mundo, destruiu a inocência, emudeceu o cancioneiro e enterrou a poesia. Outro Nivaldo Maciel, cantando nas noites de luar, não existirá mais porque o hoje, esse hoje em que vivemos, não conhece poesia e nem sabe o que é romantismo do amor puro, inocente, sem desejos. O que hoje conhecem é o interesse financeiro que move tudo e compra tudo, até a consciência. Fique na paz de Deus, amigo Nivaldo. Se você, ainda, estivesse aqui conosco, ficaria triste, como ficamos, ao relembrar o passado. (José Prates, 84 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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