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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 15 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Montes Claros merece Ruth Tupinambá Graça Li no Jornal de Noticias as declarações do nosso Secretário da Cultura, Ildeu Braúna, sobre o inicio do Ano Cultural e a dos projetos que vinham sendo trabalhados desde 2010 e que só agora,neste semestre,serão concluídos. “ Os projetos são de ordem estrutural e visam organizar o setor cultural e produzir resultados positivos em curto , médio e longo prazo, deixando um eixo para ser trabalhado no futuro.” O nosso Secretário da Cultural merece nossos aplausos. Confesso que senti grande alegria e faço votos para que todos os seus projetos, tão ansiosamente esperados pelos montes-clarenses, sejam complementados o mais breve possível : Corredor Cultural, Promemoc, Festival de Cinema e Banda de Música. O Corredor Cultural, emoldurado pelos dois velhos Sobrados (onde serão instalados o Museu Regional e a Secretaria da Cultura) já foi inaugurado com muita alegria. Teremos realmente um espaço cultural e turístico para a nossa comunidade. Um lugar alegre onde poderão ser realizados encontros musicais, sociais e educativos, feiras com objetos de arte, artesanato, lojinhas com livros, discos e revistas. Os artistas também terão oportunidades de encontros, troca de idéias e motivação para grandes trabalhos. Este Corredor Cultural irá valorizar muito a parte antiga da cidade que terá três opções para visitas: o solar dos Versiani Mauricio, o Casarão da Fafil e o próprio Corredor Cultural. Será um ambiente ideal para realizações das Serestas, principalmente em noites enluaradas em que os poetas cantores se recordarão da Montes Claros antiga falando de amores em ternas canções. Promemoc é a memória de Montes Claros que nos apresenta de uma maneira romântica, implantada no solar dos Versiani Mauricio. Será uma fonte digital para estudiosos, pesquisadores e a população em geral. Festival de Cinema , de 18 a 22 de Abril, com, sessões gratuitas de curta e longa metragem;mostra de Filmes Infantis Interativo e a mostra Digital Norte Mineira.O objetivo do Festival de Cinema é promover a socialização e o conhecimento através do cinema estimulando o cineasta montes-clarense, através de homenagens e exibição de filmes de sua direção. Banda de Música, outro projeto importante, será um respaldo na cultura de Montes Claros. Nossa cidade já teve duas bandas de música: Euterpe Montes-Clarense e a União Operária. A Euterpe foi fundada em 1856 por uma mulher: Dona Eva Barbosa Teixeira de Carvalho. Muita gente, da nossa cidade nem sabe quem foi e o quanto ela trabalhou por nossa terra. Era dinâmica, batalhadora incansável pelo progresso de Montes Claros. Foi professora primária durante muitos anos, quando nossa cidade era apenas Vila de Montes Claros das Formigas. Musicista nata, cheia de entusiasmo e grandes ideais, sonhava com uma banda de música para a nossa terra e incentivada pelo Dr. Carlos Versiani (Presidente da Cãmara Municipal na ocasião) e o Vigário Antônio Gonçalves Chaves, mandou buscar em Diamantina( a cidade mais civilizada – e próxima - naquela época) o mestre Risério Pereira Alves Passos, grande músico. O drama da organização e funcionamento da Euterpe Montes-Clarense é uma longa história em que seus componentes e o esforço da Dona Eva são dignos de admiração. A Vila era pobre e esquecida pelo nosso Governo Eles lutaram para angariar verbas junto a Comunidade para compra de instrumentos, cavaletes e uniformes, inclusive um de “gala” para os grandes festejos. Sobreviveu aos trancos e barrancos fazendo este trabalho sem remuneração. E como se sentiam felizes dentro daquele uniforme de brim cáqui, empunhando seus instrumentos! Em 1857, nos festejos da elevação de Vila a Cidade , a Banda Euterpe saiu a rua pela primeira vez, bem organizada e brilhante no seu uniforme de gala dando um show de musicalidade. Desta data em diante tomou parte em todos os acontecimentos políticos sociais e religiosos da nossa cidade. Tudo era difícil, mas eles eram como soldados em seus postos de honra. Muitos anos depois (pois não sou tão velha assim) a conheci ,quando Montes Claros já era adulta . Adorava ver a Banda ensaiar. Eu morava na Praça da Matriz, hoje Dr. Chaves. À tardinha, o pistão do Augustão quebrava o silêncio daquela Praça antiga, chamando os músicos. Dava gosto vê-los chegando, um a um, afobados trazendo seus instrumentos de metal amarelo ouro, polidos e lustrosos. Durante anos, a casa do Augustão Teixeira no inicio da Rua Cel. Celestino (esquina com a Praça) foi o ponto de encontro destes homens extraordinários que se esforçaram para que a querida Banda sobrevivesse. Eu gostava de ver a cara vermelha do Augustão soprando com entusiasmo o seu pistão,; Tonico Teixeira, sempre risonho,com sua clarineta; Joãozinho Guimarães com sua trompa; Corsino com seu trombone; Sebastião Peba com seu bombo; Olimpio de Abreu, sempre sisudo, supervisionando a turma; Juca de Sapé, exímio na flauta; Zé do Ó, Procópio, Judelcino, Aristides Guimarães, com outros instrumentos cheios de voltas e botões (que me esqueci os nomes) e os mais novos, Adail Sarmento e Luiz de Augustão na clarineta e Altininho, “mascote da Banda”, criança ainda,mas já sabia manobrar os “pratos”. Ensaiavam dobrados, marchas militares e valsas para tocar nas festas de Agosto, nas missas, procissões e Reinados de Nossa Senhora, São Benedito e do Divino. Aos dmingos tínhamos a”Retreta” na Praça da Matriz (hoje Dr. Chaves) quando ela era apenas um largo enorme sem calçamento, rodeado de centenárias mangueiras com um “Coreto “ no centro.Era lá que a Banda ficava por 2 ou 3 horas deliciando nossos ouvidos com suas músicas. Tocavam pelo prazer de tocar sem remuneração. Todos se juntavam para ouvi-la: crianças, jovens e velhos. Os casais de namorados tornavam-se mais amorosos e românticos, era o momento das declarações... Os velhos, lembrando dos tempos da juventude, escutavam embevecidos os acordes. E a criançada aproveitava o momento para brincar. Corria em volta do Coreto, brincando de “Veadinho Quer Mel,” Chicotinho Queimado”, “Boca de Forno” (quanta inocência) escondendo-se no meio da multidão, esbarrando propositalmente nos casais de namorados só para vê-los encabulados e as caras assustadas das mocinhas... Foi um tempo maravilhoso! Mais tarde os ensaios passaram para casa do tio Basílio (pai de Hermes de Paula) que era, naquela época,o Presidente da Banda e muito se orgulhava daquele cargo. Hoje todos aqueles valentes e dedicados músicos desapareceram e infelizmente com eles enterraram também as duas Bandas de Musica da nossa cidade. Merecem, portanto, uma palavra, um gesto de louvor: foram homens que tanto lutaram e se dedicaram à nossa cidade com verdadeiro amor. Parabenizo o Secretário da Cultura que , no momento, tenta ressuscitar, com grande esforço, a nossa Banda Euterpe Montes-Clarense, o que não será fácil, se não houver cooperação da Comunidade e da Administração Publica e as demais Secretarias. Seja forte, Senhor Secretário Ildeu Braúna, não deixe a peteca cair. Acredito na sua sensibilidade e capacidade de administração. Lute contra todas as dificuldades e obstáculos; lute contra as contradições e criticas dos despeitados; siga o seu propósito. Montes Claros precisa e bem merece! (N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 95 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).

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