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Mensagem: Cachoeira de hipocrisia Isaías Caldeira O Brasil sempre endeusou a cultura da malandragem. Quem, de minha geração, não ria e aplaudia a esperteza de um “Zé Carioca”, malandro sempre disposto a um jeitinho para continuar sem dar se ao trabalho de algum esforço para sua sobrevivência, sob o olhar criativo de Walt Disney? Os malandros do morro, os contraventores do jogo do bicho, os proxenetas e alcoviteiras em geral, tão romanceados pela literatura nacional, de Jorge Amado a Nelson Rodrigues, sempre sob a aura de gente boa, íntegra moralmente, contra um Estado opressor, dirigido por uma elite egoísta e conservadora, contextualizam o pensamento dominante no cenário intelectual brasileiro desde o século passado. Agora, sob os mais variados pretextos, inclusive em nome da santa ética, a mídia nacional volta-se contra um dos ícones culturais que ela tanto acalentou e deu expansão, levando à berra pública , como se maior criminoso do País, a figura de um decano dos jogos de azar no Brasil, o tal Carlinhos Cachoeira, de Goiás, amigo do discípulo de Catão, o eloqüente Senador Demóstenes Torres e outros tantos. Uma geladeira de presente de aniversário é a prova maior de corrupção, aliada às ligações telefônicas interceptadas, onde o moralista Senador se prontificava a defender os interesses do contraventor em votações na Casa Alta. Como se fosse novidade esse entrelaçamento entre o jogo de bicho , seus correlatos e a classe política, tendo por gênesis a cultura carioca, onde tais contraventores lobrigam de conceito invejável junto à população , especialmente entre a classe média e a pobreza, além de responsáveis diretos pelo carnaval , em que se destacam como benfeitores e líderes das comunidades. Goiás e Goiânia não são o Rio de Janeiro. O tal Carlinhos Cachoeira não levou isto em conta e deu-se mal. Ninguém nega os lobbies de banqueiros, com os maiores lucros de todos os tempos no mundo financeiro , de construtoras e empresas poderosas, com seus inúmeros políticos financiados para defender seus interesses no Congresso Nacional, como se isso fosse legítimo, embora em jogo recursos do erário. Demonizam o Senador Demóstenes, mesmo sem uma única acusação de prejuízo ao patrimônio público, embasados tão somente no fato de defender , também, os interesses do contraventor , em sua atuação política. A hipocrisia nacional não tem limites. A moralidade no Brasil é desonesta, pois veste-se segundo o figurino do Poder, usando como instrumento a mídia amestrada e domada à força de verbas publicitárias ou, quando esta ainda guarda alguns pruridos éticos, os interesses de grupos políticos. O Senador Demóstenes apenas revela, com seu comportamento, a crua realidade da política nacional, onde a ética é relativa, e o que conta é o sucesso da empreita, pois feio é perder. Não fosse o vezo moralista do Senador, o que para mim já é motivo de sua condenação, afinal todo moralista é um canalha enrustido, elegeria o dito como ícone da brasilidade, do jeitinho brasileiro de acomodar-se e sobreviver, sempre de olho na casa do vizinho, enquanto o lixo se acumula sob seus tapetes.
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