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Mensagem: Croniquinha proposital Haroldo Lívio Atenção, amigo leitor, por acaso, você já foi chamado alguma vez de poeta? Talvez você ainda desconheça o poeta que traz escondido dentro de seu (pobre) coração. De médico, poeta e louco, todos nós temos um pouco, diz o adágio. Certa vez, o historiador Hermes de Paula, que era médico e gozava de boa saúde, contou-me, em entrevista, achando muita graça, ter sido chamado de poeta pelo folclorista Câmara Cascudo. Ao que se sabe, até aqui, o privilégio de ser tido nesta alta conta é de Drummond, é de Bandeira, Vinícius... O Brasil é muito rico em jazidas de minérios, de pré-sal e de lirismo puro; em cada esquina você pode ter a felicidade de bater um papo com um poeta. Gente assim, inspirada, sentimental, sofredora, não tem estrela na testa indicando que se trata de um bardo à disposição de quem seja capaz de saborear um favo de poesia, que é doce que nem mel, quando fala de amor; e amargo que nem fel, quando chora um desengano. Antigamente, os poetas eram ouvidos e queridos, havendo alguns que diziam ouvir e entender estrelas. Porém, a poesia ainda anda por aí, no meio da rua, por toda parte, feito nuvem de chuva no céu, feito tarde de sol no estio, com cigarras cantando, sem que o sujeito, absorvido pelo cotidiano esterilizante, possa abrir um intervalo de admiração para contemplar a simplicidade encantadora da vida. Aponto o exemplo do intrépido jornalista Oswaldo Antunes que, em mais de meio século de serviço ativo e producente, construiu imagem de ser exclusivamente homem de imprensa, de agenda cheia, que não teria tempo para vagar por aí, tocando viola e versejando, à luz da lua merencórea. No entanto, depois de aposentado e com o livro de memórias publicado, retira a máscara de audaz articulista para exibir sua verdadeira face de trovador renascentista, revelando, neste volume, a face preponderante de sua alma de artista. Intitulou sua obra poética de “Estrela final”, dando por encerrada a produção do menestrel, o que não pode ser verdade. Assim como passou a vida inteira incógnito, sem permitir sua identificação como poeta de primeira categoria, apresentando-se apenas como o mestre insuperável da prosa jornalística, suspeita-se de que esteja ocultando matéria já pronta, para encher outros volumes de poesia de alta voltagem. O futuro confirmará esta desconfiança. Por cautela, é aconselhável ficar de olho nele: tem que publicar. Retornando ao título, perguntaria como explicar a presença desta prosaica croniquinha, mero subgênero literário, ocultada dentro deste ramalhete de versos trabalhados com o suor do criador e perfumados com a pureza de suas essências raras. Cartas para a Redação do O Jornal de Montes Claros. (Este texto foi aprovado pelo saudoso poeta para a “orelha” de “Estrela final”.)
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