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Mensagem: O tiro de guerra José Prates Quando nos lembramos de nosso passado em Montes Claros, lá no Norte de Minas, o Tiro de Guerra, chamado TG-87, vem à nossa lembrança com a moçada em uniforme verde oliva, de fuzil ao ombro, nos feriados cívicos, desfilando com imponência nas ruas centrais da cidade, precedendo os colégios que apresentavam em desfile uma juventude garbosa, vestida de azul e branco, enfeitando as ruas que tinham suas calçadas e janelas apinhadas de gente para assistir ao belo espetáculo. O Sargento Moura, o mais antigo instrutor, em uniforme de gala, comandava o desfile. Depois, veio o Sargento Alaor que ficou pouco tempo. O último instrutor do TG que eu me lembro, e que me teve como auxiliar nas aulas cívicas, foi o Sargento Benicio. Nessa ocasião era uma turma grande, composta de noventa jovens que recebiam instruções de “ordem unida” na Praça da Estação onde ficava a sede do TG. Á noite eram as aulas de civismo e cidadania, ministradas no salão principal da sede. A preocupação era não prejudicar o aluno em seu trabalho, como, também, permitir à freqüência escolar sem nenhum prejuízo. Daí, então, não havia grande rigor quanto à freqüência, embora sempre recomendada. Como aconteceu em todos os lugares onde existiu, o Tiro de Guerra teve uma grande influencia na formação do jovem montesclarense que alem da instrução militar, recebia, também, educação cívica que permitia desenvolver nos alunos atitudes de auto-estima, respeito mútuo e regras de convivência que conduziam à formação de cidadãos autônomos, participativos e civicamente responsáveis, criando neles o sentimento de cidadania. Não era exclusivamente uma escola militar preparando o jovem para a guerra, mas, sobretudo uma escola de cidadania e bons costumes, capaz de preparar o homem para a convivência social com respeito e obediência às leis. A maioria dos cidadãos montesclarense passou pelo Tiro de Guerra e graças a essa maioria, a cidade desenvolveu-se civilizadamente. É muito antiga a origem do Tiro de Guerra. Remonta a 1902 quando foi denominada de Linha de Tiro, criada no Rio Grande do Sul originária de uma sociedade de tiro ao alvo com finalidade militar. A pregação do poeta Olavo Biilac em prol do serviço militar obrigatório influenciou nos administradores municipais daquela ocasião, que viram nos chamados “tiro ao alvo”, a oportunidade de transformá-los numa escola para formação de reservistas para o Exército, evitando com isso o êxodo rural com a ida de jovens para o serviço militar obrigatório nas unidades do Exército que, naquela ocasião, ficavam, geralmente, nas capitais dos Estados. Nasceu, então, o Tiro de Guerra que ao longo do tempo foi-se ampliando, com a instalação de TG em cidades estrategicamente localizadas, chegando a todo o país com o objetivo de formar reservistas de segunda categoria aptos ao desempenho de tarefas no contexto da Defesa Territorial e Defesa Civil, sem afastar o jovem de sua cidade, do seu trabalho e de sua escola. Quando chegaram a Montes Claros o Comandante e Oficiais do Batalhão de Policia Militar que estava se instalando, o Tiro de Guerra sob o Comando do Sargento Benicio, formou-se na Praça, em frente à entrada da Estação, para recebê-los. Era o TG perfilado em continencia criando um ambiente de confraternização entre eles que, a partir daí, tiveram uma convivência tranqüila e civilizada. Alguns jovens saídos do TG ingressaram na Polícia Militar, contribuindo para criação de um ambiente de fraternidade e cooperação entre as duas tropas o que permitiu que o TG, ao irromper a revolução de 63, fizesse a segurança da cidade com guardas e patrulhamentos, substituindo os PMs deslocados para Belo Horizonte, convocados pelo Comando Geral da PM. O Tiro de Guerra, TG 87, deixou de existir com a vinda para a cidade de unidade regular do Exército. Entretanto, sua memória ainda existe latente nos velhos atiradores. (José Prates, 84 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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