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Mensagem: A Fuga Haroldo Lívio Quem já leu ou já viu as apresentações do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, ou de Vida e Morte Severina, de João Cabral de Melo Neto, certamente gostará da performance de Manoel Vilela, pernambucano do Agreste, na interpretação do monólogo “A Fuga”, de sua autoria e de seu uso exclusivo para o grande círculo de amizade que angariou ao longo de sua vida. Para apreciar o espetáculo teatral vem gente de longe. Do Recife, de Belo Horizonte, do Rio de Janeiro, de São Paulo, Salvador e outras paragens por onde tem passado em suas andanças de nordestino que sempre gostou de correr mundo. O esperado monólogo resume-se numa reunião de amigos e vizinhos que costuma fazer anualmente, em sua casa hospitaleira, em que, entre deliciosos comes e bebes, ele, o anfitrião, faz um relato tragicômico de suas venturas e desventuras de ex-flagelado da seca do Nordeste. Sua história pessoal de retirante, que deixou o povoado natal no município de Garanhuns, a cidade onde o padre matou o bispo, guarda alguma semelhança com a trajetória de outro menino, chamado Luiz Inácio da Silva, que morava em outro povoado a pouca distância do seu, por mera coincidência e em outra época mais recente. O enredo desta odisséia, narrada pelo próprio personagem, representa situações comumente vividas por outros nordestinos, oprimidos pelo drama da seca cíclica, que deixavam seus lares e tomavam o primeiro pau-de-arara em busca da terra prometida, ao Sul, onde, rezava a lenda, esperavam encontrar correndo rios de leite e mel. Ou, pelo menos, chovesse no chão e a asa branca não fosse embora para longe. Prestem atenção na fala do ator, que acumula as funções de autor e diretor desta interessante peça da dramaturgia nordestina. Ele vivencia o drama da seca e da ilusão do retirante. Ele tinha apenas 14 anos de idade, em 1952, quando fugiu de casa, burlando a vigilância de seus pais, e praticamente se escondeu na carroceria de um caminhão que partiu para o paraíso de São Paulo. Dá para imaginar a penúria de uma criança inexperiente enfrentando as dificuldades de sobrevivência na terra da garoa, à procura de emprego e exposto a todo tipo de perigo. Seu plano falhou e ele decidiu vir para Montes Claros a fim de trabalhar na loja de calçados de seu bondoso tio José de Souza Zumba. Foi aí que a sorte mudou, e de lá para cá encontrou o caminho de sua vitória na luta pela vida. Encontrou o emprego, entrou para o ginásio, conheceu Nair, sua futura cara metade e mãe de seus filhos Andréia, Patrícia e Gustavo, seu patrimônio afetivo. Sua esposa e companheira de trabalho, muito participante em todas as campanhas que enfrentaram, divide com o esposo a coroa de glórias. Mudaram-se para Belo Horizonte e lá iniciaram a labuta com um pequeno negócio de fabricação caseira de pastéis. Este foi o ponto de decolagem para vôos estratosféricos. Sempre trabalhando com seriedade, obtiveram ótimos resultados em todos empreendimentos, fixando-se, por último, na construção civil. O menino retirante acabou incorporador de edifícios de apartamentos de luxo, que costuma batizar com os grandes nomes da música erudita. Acho muito mais importante dizer que esse crescimento pessoal se deu sem abrir mão do brio e da dignidade. Não percam o espetáculo, na noite de 25 de maio, no Portal de Eventos. Infelizmente, não haverá venda de ingressos. Apenas convidados serão admitidos. Sucesso!
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