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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: Reginauro: amores e aventuras Quando soube da morte súbita do Reginauro, fui compelido pela emoção a escrever uma nota, na qual descrevi, sucintamente, sobre o início de nossas vidas profissionais no Jornal de Montes Claros e na ZYD-7, naqueles bicudos anos 70. Com a pressa de manifestar-me, tive a impressão, após ler a nota, de que o próprio Reginauro, lá de cima, me repreendeu: ´Qualé, bicho, foi só aquilo q`ocê conseguiu escrever sobre nós? Que desconsideração, heim?´ É por isto que volto a escrever sobre a saga do menino pobre, que se impôs com seu talento, com um baita esforço próprio e um indisfarçável amor à vida, aos amigos e às mulheres, não necessariamente nessa ordem. Bem recentemente ele me disse que estava contando, uma a uma, as mulheres (já tinha chegado a cem) e suas aventuras amorosas. Estava até mesmo escrevendo qualquer coisa que não sei se vai transformar-se em livro ou peça teatral. O menino pobre, de Dona Laura e Seu Rebeldino, começou mesmo na escola do mestre Oswaldo Antunes, na cobertura policial do JMC, por onde iniciavam-se os focas e logo depois migrou para a cobertura da política. Entre outras façanhas, como repórteres, fomos conhecer, sobre o lombo de cavalos, uma distante comunidade rural de quilombolas chamada de Furado Redondo, guiados pela Dona América, o que lhe rendeu um prêmio jornalístico depois que a reportagem foi publicada n`O Globo, de quem foi correspondente na região. Pouco depois nos encontramos, ainda jovens imberbes e idealistas, dos que amavam ´os Beatles e os Rolling Stones´ e fazíamos poesias, recitando-as para um grupo seleto que apelidamos de Catibum, onde pontificavam Georgino Jr, Eduardo Lima, Luis Carlos Novais, o Peré, Rita e Clarice Maciel, Márcia Sá, entre outros, sob a liderança de um poeta já conhecido da época, Fernando Rubinger. Catibum, definimos, era o barulho que fazia a pedra, quando lançada na água de um poço e que provocava ondas em volta. Isto era o que queríamos provocar de efeito multiplicador nas camadas sociais, nas cabeças sonhadoras daqueles jovens dos anos 70. Dizia Reginauro, anos mais tarde, que o grupo acabou quando decidimos oficializá-lo, criando uma diretoria e cargos definidos, mas penso que o Catibum acabou do mesmo jeito como acabam algumas ideias de jovens: sem que nem pra que e nem por que. Em seguida, já na Faculdade de Direito, em tempos de enorme idealismo e memorável sofrimento, enfrentamos as eleições e assumimos a direção do DCE da FUNM, protótipo da futura Unimontes e realizamos o primeiro Festival Universitário da Canção, ele cuidando organização e eu promovendo o foguetório, no campo do Cassimiro. Fui eleito vereador em 1976 em campanha liderada por um grupo que tinha Reginauro à frente e permanecemos atuando em diversas atividades lúdico-lírico-etílicas, algumas patrocinadas por Perereca ou melhor, pelo seu pai, Seu Novaizinho que, sem saber, contribuía com garrafas da boa pinga que este tomava ´emprestado´ da vasta coleção do pai para degustação da catreva, entre uma poesia e outra. Poesia, aliás, era um hábito de então, quando se tornava uma das formas de galantear a futura namorada ou mesmo de mostrar talento ao grupo, no que o Reginauro era craque. Em 1982, com a organização de um grupo de jovens rebeldes e idealistas, Reginauro à frente, fui eleito prefeito de Montes Claros, com apenas 27 anos e, à frente da Assessoria de Comunicação do município, ajudou-nos a realizar uma administração fantástica e histórica. Foi dele a alcunha dada a Montes Claros como ´cidade da arte e da cultura´ e, com sua criação, tivemos o retorno do carnaval de rua. E como era a administração Mutirão, logo ele inventou um samba-enredo que falava dos índios que teriam dominado a região no passado, de três tribos: MUriatã, TIcoara e SuaRÃO, uma espécie de acróstico com as três sílabas que formavam a marca da administração municipal. Após o término da nossa primeira administração, Reginauro foi à cata da concretização de outros sonhos, em outras praças, recitando textos para outras platéias, chegando a morar em BH, no Rio de Janeiro e em Brumado, na Bahia, onde criou um jornal. Trilhamos, aí, durante muitos anos, caminhos paralelos e só agora, na atual administração, nos reencontramos, quando o convidei para ser nosso Assessor de Gabinete. Reencontrei um Reginauro mais maduro, mais prático, melhor conselheiro, que assumiu de vez as nossas causas com o ardor daquele jovem tinhoso dos tempos do Catibum. Em longas e recentes conversas, quase como numa refazenda, revivemos nosso passado e ele, a tudo custo e com enorme insistência que, só agora compreendo o porque, planejou escrever uma espécie de romance contando passagens de nossas vidas. Ele tinha pressa, talvez pressentindo que não tinha mais tempo e eu, sempre adiando as conversas que ele queria ter para embasar aquela que poderia ter sido sua última obra literária. Morreu esta semana, no dia do aniversário de Stela, não sem antes ter ligado para dar-lhe os parabéns, dizendo-lhe: ´vocês são pessoas muito especiais pra mim´. E, poucos minutos antes de, na ante-sala do meu gabinete, passar mal e ser fulminado por um ataque cardíaco, a propósito da presença de técnicos do TCE que faziam uma das muitas devassas na prefeitura, mandou-me uma mensagem que agora reproduzo exatamente como postou: ´Chefe, TCE chega hoje pra buscar mais documentos, com microcâmeras´. Deu uma pausa e completou, para tranquilizar-me: ´TUDO EM PAZ´. Consternado fico, com a sua demonstração última, de proteção devotada para com o seu velho amigo. De relatos de vida assim é que são moldados os homens de caráter, os amigos de verdade. Por isto é que dói, dói muito quando amigos como Reginauro se vão: sem qualquer cerimônia, sem um balanço final, sem um pomposo ´The End´, que era como terminavam os filmes de nossos tempos bicudos, nas matinês do Cine Fátima ou do Ipiranga, cinemas onde se deram inúmeras e inesquecíveis histórias, algumas que ainda serão contadas, aquelas dos tempos em que éramos felizes e não sabíamos!

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