Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.
Clique aqui para exibir os comentários
Os dados aqui preenchidos serão exibidos. Todos os campos são obrigatórios
Mensagem: A seca e os feudos Waldyr Senna Batista A chuva da semana passada foi pouco além de Montes Claros. Na direção do extremo Norte de Minas, ela não chegou a Espinosa, área que abrange Porteirinha, Mato Verde, Monte Azul e Mamonas, onde os riachos deixam de “correr”, mas manteem empoçada alguma água. Neste ano esses cursos d’água secaram de vez. Até a barragem de Estreito, na divisa com a Bahia, está sem água. Segundo os mais vividos, esta será a pior seca da história. Nesse “ranking”, a avaliação se torna difícil devido ao próprio desenvolvimento do País, que garante a assistência aos flagelados de forma mais eficaz do que há 100 anos, quando se registraram até casos de antropofagia, no município de Salinas, onde quatro pessoas foram mortas para servir de alimento a famintos desesperados. O episódio é comprovado porque deu origem a processo judicial, que tramitou na Comarca de Grão Mogol, que então abrangia toda a região, e também porque mereceu citação de Rui Barbosa da tribuna do Senado Federal. Ele havia sido derrotado ao disputar a Presidência da República, obtendo um único e solitário voto em Salinas, fato que foi ironizado por senador que o aparteava. E o grande tribuno respondeu, com a veemência que a história registra: “Salinas de Minas? Que me importa Salinas de Minas, onde a fome impera e o homem é levado aos horrores da antropofagia?”. Aquela, sim, pode ter sido a pior seca da história, embora jornal de Belo Horizonte tenha agora relacionado as de 1939, 1975, 1996 e 2008 como as mais dramáticas, todas elas com testemunhas vivas, o que não é o caso da que colocou o hoje progressista município de Salinas na berlinda. Atualmente, com cestas básicas, aposentadoria rural, eletrificação rural, carros-pipa de prefeituras em anos eleitorais e distribuição de cisternas de plástico para armazenar água ( quando água houver para armazenar), os flagelados encontram o mínimo necessário para garantir-lhes a sobrevivência. Nem isso, contudo, é bastante para eliminar os efeitos da atual estiagem, como mostrou o jornal “Estado de Minas” em reportagem assinada pelo repórter Luiz Ribeiro. Durante três dias, ele percorreu a área conflagrada no extremo Norte de Minas e trouxe imagens dramáticas colhidas pelo fotógrafo Jackson Romanelli. Elas são idênticas às do Nordeste, mostrando o solo crestado no que antes havia rios e barragens, além de depoimentos que atestam o agravamento do drama. Como o do idoso que testemunhou outras secas: “Nas secas dos outros anos salvava alguma coisa. Desta vez não sobrou nada.” Seria o caso então de se perguntar ao Dnocs e à Codevasf o que eles têm a declarar diante dessa nova calamidade. Do passado, há empreendimentos que atestam a operosidade desses órgãos do Governo federal. A adutora do Rebentão dos Ferros e a implantação dos “aneis de Cross” para melhorar o abastecimento de água em Montes Claros, sem esquecer milhares de poços tubulares perfurados, foram obras da maior importância realizadas pelo Dnocs; e a implantação do projeto Jaíba e da barragem de Bico da Pedra não deixa dúvidas quanto à eficiência da Codevasf. Ambos, nos últimos dez anos, foram “aparelhados” pelos governos petistas e transformados em feudos de parlamentares que integram a base de sustentação do Governo na Câmara dos Deputados. Em função disso, a escolha de dirigentes desses órgãos passou a ser atribuição dos deputados Fernando Diniz (falecido), Márcio Reinaldo e José Saraiva Felipe, que indicam prepostos seus ou componentes de suas equipes, sem que sejam tecnicamente preparados para a função. Bem diferente dos técnicos como Manoel Athayde, Joaquim Costa, Luiz Antônio Medeiros, no Dnocs, e Roberto Amaral (que não devia, mas virou político no exercício do cargo) e Ciríaco Serpa de Menezes, na Codevasf. Em razão dessa mudança de estilo é que os dois órgãos, nos últimos anos, têm se limitado à distribuição de canos de água com fins eleitoreiros. Em outras épocas, em momentos de crise como o de agora, eles se colocaram na linha de frente. Hoje, não são sequer lembrados. (Waldyr Senna é o decano da imprensa de Montes Claros. É também o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil)
Trocar letrasDigite as letras que aparecem na imagem acima