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Mensagem: A noite de São João José Prates “É noite de São João. O céu está todo iluminado, está todo enfeitado, pintadinho de balão” Não está mais. Hoje, em nossos dias tumultuados, na correria em busca dos meios de subsistência ou na gula do poder, ninguém se lembra do São João e a maioria nunca viu uma fogueira na porta de casa, cercada de beleza e romantismo. Não existe mais isto. Até os balões que enfeitavam o céu, desapareceram como por encanto, obedecendo a proibição. O que nos resta das noites de São João, está, apenas, na lembrança que nunca apaga. São poucos, porém, os que se lembram porque são poucos os viventes que tenham gozado as delicias daquele tempo. Muitos, a maioria, já partiu para o outro lado da vida e, talvez, estejam de lá, tristemente contemplando, sem poder dizer nada, as ruas vazias, sem o calor das fogueiras com a meninada pulando, soltando bombinhas, porque era muito gostoso para os “mais velhos” bem agasalhados, sentarem em cadeiras de “palhinha”, esperando os amigos para um dedo de prosa, enquanto no salão principal da casa, enfeitado e com assoalho bem limpo, a vitrola tocava para a moçada dançar, sob os olhos fiscalizadores dos pais. Lá fora, na rua iluminada pelas fogueiras, a meninada corria de um lado para o outro, soltando “traques” numa algazarra inocente. Na Praça da Matriz a rapaziada soltava foguetes que iluminavam o céu, fazendo descer estrelinhas brilhantes que encantavam todo mundo. Tudo isto acabou. É noite de São João, mas, o céu não está enfeitado, nem todo iluminado porque balão é proibido. Fogueira não existe em lugar nenhum. Está frio porque é inverno. Mas, pra aquecer o ambiente não necessita fogueira, liga-se o aquecedor. Não é possível esquecer a cidadezinha no sertão, gente humilde que seguia à risca as tradições e a fogueira de São João era tradicional numa festa popular que envolvia grandes e pequenos, velhos e jovens. O progresso foi chegando, ocupando espaço e as tradições foram desaparecendo para dar lugar ao que o progresso ia trazendo de “moderno”. A luz elétrica nas ruas acabou com as fogueiras nas portas das casas. Sem fogueira não tem canjica nem batata assada; os mais velhos não levam as cadeiras para o passeio, nem o salão está enfeitado com a moçada dançando de rosto colado. Vitrola não existe mais. Agora é aparelho de som que até parece voz natural, mas, ninguém quer dançar porque dançar agarradinho caiu de moda. Hoje, vivemos um mundo que nunca imaginamos que viesse a existir. Conseqüência do progresso ou dissolução dos costumes? Não sei dizer. Jacques Rousseau disse-nos que “a grande questão é: o homem, ao deixar seu estado de natureza, com toda a sua probidade, honradez, força e energia para se dedicar às ciências e às artes não teria se corrompido no que possuía de mais puro”, retirando a inocência dos costumes para lhes adaptar a novos modos e maneiras de vida como as de nossos dias atuais? Os costumes mudaram adaptando-se ao progresso que trouxe novo modo de vida para a humanidade corrompida pelo egocentrismo que fez desaparecer o amor ao próximo. Daí, então, toda beleza que existia nos atos da vida acabou cedendo lugar a interesse que não sabemos de onde vieram. Não existe noite de São João nem Missa do Galo porque a religiosidade e a poesia caíram de moda com a morte da inocência. Que saudade dos tempos que se foram e não voltarão jamais. (José Prates, 84 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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