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Mensagem: A festa do Divino José Prates Quando Julho está chegando, lembramo-nos da Festa do Divino que mobilizava as cidadezinhas do sertão mineiro que, até hoje, continuam com o culto, mas, a festa como era antigamente, na maioria delas, não existe mais. O progresso chegou trazendo outros interesses e escorraçou o folclore de uma beleza inocente. A festa do Divino com todo seu encanto, hoje, é coisa do passado. Pois é com saudade que nos lembramos dessa festa, desde os seus preparativos que começavam uns três meses antes, com os cavaleiros enviados pelo “festeiro” às fazendas distantes, em busca de donativos para a grande festa que não era só da Igreja, mas, da cidade inteira. Os enviados eram três cavaleiros que partiam levando a bandeira do Divino. Depois de léguas e léguas de marcha, quando se aproximavam da casa grande da fazenda visitada, faziam rufar os tambores avisando que a bandeira do Divino estava chegando. Os moradores paravam seus afazeres e iam para o pátio da casa grande, para recebê-la. Quando os cavaleiros se aproximavam em passo de marcha, o que vinha à frente desfraldava a bandeira e os moradores ali presentes se ajoelhavam contritos. Ele, então, descia do cavalo e, cerimoniosamente, ia a cada um dos presentes ali ajoelhados, levando a bandeira para ser tocada e beijada. Era um ato emocionante pela comoção e contrição daquele povo diante da bandeira desfraldada, tocada e beijada com emoção e respeito. No dia da festa, as solenidades começavam com um grande cortejo acompanhando o Imperador, personagem vivido por um menino, escolhido entre os primeiros alunos da escola, trazendo na cabeça a coroa e aos ombros, o manto imperial. Vinha com sua corte assistir à missa solene, debaixo do pálio, escoltado por Oficiais da Guarda Nacional metidos em uniforma de gala, retirado do fundo do baú onde ficava guardado para ocasiões especiais. O Padre celebrante, paramentado, acompanhado por jovens coroinhas, vinha recebê-lo à porta da Igreja. O coro, acompanhado por um violinista, entoava o hino do Espírito Santo, enquanto o Imperador, caminhando devagar e acenando aos fiéis, era conduzido ao trono ao lado do altar mor. No inicio da tarde, era a grande procissão com quase a totalidade dos habitantes, percorrendo as principais ruas com as casas enfeitadas, tendo à frente a Banda de musica local, com os músicos em uniforme branco com botões dourados, tocando musicas sacras. O Padre paramentado, de breviário na mão, cercado pelos coroinhas, ia à frente da banda de musica.. As imagens dos Santos, conduzidas por jovens vinham logo atrás. Nas janelas enfeitadas com lençóis e colchas alvas como a neve, pessoas esperavam a passagem da procissão, muitas de terços na mão. Era o fervor religioso ali presente. Não terminavam ai, porem, as festividades. Depois da procissão, na grande Praça da Matriz, mais conhecida como largo da Igreja, realizava-se a Cavalhada, uma encenação da guerra entre mouros e cristãos, com o roubo da princesa. Os comerciantes e fazendeiros em numero de 24 sendo 12 com roupas azuis, imitando os cruzados, que eram os cristãos protetores da Princesa e 12 com uniformes vermelhos, que eram os mouros, entravam no grande largo por lados opostos. Os cristãos adiantavam-se chegando ao “palácio” onde colocavam a princesa, sentada num trono e ali montavam guarda. Os mouros de espada em punho, com os cavalos bem tratados e com montarias enfeitadas, entrevam a galope, lançando-se à “luta”. Os cristãos empenhavam-se na defesa e a luta era grande. Ao longe se podia ouvir o retinir das espadas em choque até que os mouros eram vencidos e expulsos e a Princesa salva pelo Principe pretendente. Vinha, então, o foguetório espocando no ar fazendo cair milhares de estrelinhas brilhantes. Hoje, talvez, em poucos lugares, no interior do país, estes festejos se repetem. O progresso avançou e ocupou todos os espaços disponíveis. A poesia, o romantismo, existentes na alma do sertanejo calou-se diante da vida frenética de um pais industrial em que se transformou o Brasil. A lembrança do que é belo, entretanto, não morre jamais.Fica viva, guardada na memória de quem viveu esses momentos. (José Prates, 84 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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