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Mensagem: TURMA DE HAROLDINHO Essa turma já não é tão grande. Por ser eterna, ainda somos uns gatos pingados dispostos a sempre nos confraternizarmos. Perdemos vários amigos: Lucílio e Wanderley Fagundes, Tone Abreu, Dácio Cabeludo, Afrânio Temponi, Nem Passarela e Affonsinho Ramos. Ainda estamos na ativa, com nosso Chefe Haroldinho, sempre que possível nos congregando, seja em nossa aldeia ou em qualquer outro lugar deste mundo. A chefia é una, hereditária e vitalícia. O próximo chefe será Luciano. Dentre os vivos ainda estamos Odorico Mesquita, Cláudio Athayde, Robertão Gomes, Joenildo Chaves, Marinho Alaor, Carlos Alberto Prates Correia e esse pobre escriba. Nosso chefe tinha um corcel branco, placa 8157. Depois de uma jornada de trabalho a gente saía de nossos locais e parecia que sentíamos o cheiro desse carro. Onde ele estivesse estacionado chegávamos para nossas horas felizes, que o pessoal chama de “happy hour”. No “Quintal”, no “Espeto de Ouro”, no “Skema”, no “Intermezzo” ou em qualquer outro bar ou restaurante da cidade os carros iam se enfileirando atrás do corcel branco, quando as vagas permitiam. Quanto aos que a vida roubou de nós, Lucílio era o “frio”. Nada alterava seu temperamento. Haroldinho dizia que um dia o levaria aos maiores cassinos do mundo para jogar e limpar a grana deles. Podia estar com um “royal straight flus” que sua fisionomia permanecia inalterável. Wanderley era sempre o mais preocupado com nossa harmonia. Quando um chato chegava às nossas mesas ele logo dizia: esse aí é “dos contra”. Numa virada de ano fizemos uma serenata para Toninho Rebello que, de pijama, abriu a porta de sua residência, foi até o corcel estacionado na garagem, o famoso 2121 marrom, e colocou para nós, em cima do teto do veículo, um litrão do melhor escocês. Como chovia torrencialmente a garrafa começou a escorregar porque a superfície estava meio molhada. Quando ela ia ao solo Wanderley se adiantou a todos e literalmente voou, caindo abraçado ao litro do precioso líquido. Que bela defesa! Goleiraço! Tone Abreu, nosso querido professor, dizia que todo homem deveria ter “historiografia”, o que ele definia como “ter histórias alegres pra contar na velhice”. E arrematava: o que esse povo que não faz farra terá pra contar de interessante quando ficar velho? Escrevi uma crônica narrando como ele, Secretário Municipal de Educação, com tiros de revólver, detonou uma escola rural que caía aos pedaços, dizendo que estava a impedir que uma criança morresse. E era verdade. O estado da escola era tão precário que o telhado, a qualquer momento, poderia desabar em cima dos meninos. Toninho logo mandou construir outra no lugar. Cabeludinho, Dácio Cabeludo, foi e ainda é um de nossos ídolos. Tantas são as histórias sobre ele que daria para escrever um livro. Sua memória é cantada em verso e prosa pelos montesclarinos. Afrânio Tempone veio de Valadares e usava pulseiras e cordões de ouro. Nós o apelidamos de “Six Million Dollar Man”. Bom de prosa e viola, nos brindava com lindas músicas em nossos encontros. Nem Passarela, nosso querido “Sô Nem”, craque no futebol, acometido por uma grave doença que o impediria de beber conosco, só curtia os papos e a gente ficava doido para que ele tomasse uma, ao mesmo tempo que nossa razão nos aconselhava a proibi-lo caso ele tivesse vontade. Vinha aquela dúvida atroz: deixemos Sô Nem beber? Não deixemos Sô Nem beber? O Chefe e eu até fizemos uma paródia em cima de uma música de Tom Jobim que retrata um amigo dele, chamado Miguel, que teve o mesmo problema. Affonsinho Ramos, vermelhinho, inteligente como ninguém, jornalista de escol, era presença das mais queridas. Criou o famoso “Ônibus dos Chatos”, com passagens só de ida para a Cordilheira dos Andes. Uma vez trouxe Miltinho para dar uns shows na cidade. O famoso cantor conheceu e gostou tanto da Turma de Haroldinho que não queria mais voltar para o Rio de Janeiro. Quanto aos que ainda estão por aqui, Odorico Mesquita advoga a todo vapor, em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Sempre se encontra com Cláudio Athayde, na “cidade maravilhosa”. Quando a coisa fica boa demais, nos telefonam, dizendo onde estão e o que estão fazendo, para nos matar de terríveis ciúmes amorosos. Um dia saí para o Aeroporto da Pampulha para pegar um avião e encontrar com os dois no calçadão de Copacabana. Só não fui porque não consegui lugar no voo. Robertão Gomes só aparece de vez em quando. Depois do casamento sumiu. Nunca vi um casamento mudar tanto uma pessoa. Quando ele aparece em algum evento é a maior festa. Joenildo é Desembargador do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul. Vive em Campo Grande, onde é muito querido. Marinho Alaor, “certinho”, “caladinho”, “arrumadinho”, continua assim até hoje, para nossa alegria. Carlos Alberto, que durante as filmagens do “Cabaré Mineiro” se dizia o “cineasta da Turma de Haroldinho”, permanece no Rio de Janeiro, fazendo filmes e ganhando prêmios em festivais. Haroldinho, nosso Chefe vitalício, agora, avô, sempre em Montes Claros, dando de vez em quando, como diria Tone Abreu, suas crises de franqueza, com o coração voltado para o cultivo de nossas amizades, não perdendo uma oportunidade sequer de nos reunir. Quanto a mim, aposentado, continuo em Belô, atualmente só escrevendo, em busca de novos horizontes, com saudade de todos e orgulhoso por integrar essa turma de gente tão boa e amiga.
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