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Mensagem: Uso político da seca Alberto Sena Desde criança, em Montes Claros, ouvíamos dizer, e várias vezes sentimos nos ombros e até na moleira, os efeitos da seca crônica do Norte de Minas, porque tínhamos de buscar latas d’água em algum lugar. Era quando das torneiras das casas de Montes Claros só se ouviam o ronco do cano cheio de ar. Antes, muito antes de nós o problema da seca no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha existia e ao que parece ninguém conseguirá resolvê-lo um dia. O que se pode fazer – e já devia ter sido feito – é encontrar meios de amenizar o problema climático, de modo permanente. É justamente por esta janela que os maus políticos furtivamente entram: fazem uso da aflição de milhares de pessoas, em benefício próprio. Daí o surgimento da expressão “indústria da seca”. Há sempre alguém ganhando com a desgraça alheia. Por duas vezes consecutivas fizemos uma série de reportagens para mostrar às autoridades e à sociedade o drama da seca no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha. Foi na década de 1980, há 32 anos. Fizemos este roteiro: Belo Horizonte, Montes Claros, Janauba, Porteirinha, Monte Azul, Mato Verde e Espinosa, por onde entramos no Vale do Jequitinhonha, até Pedra Azul, e retornamos pela BR 116, a Rio-Bahia, perigosíssima, também naquela época. Tanto tempo depois, secas outras castigaram e ainda agora castigam outra vez o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha. Muitas promessas não foram cumpridas enquanto rios de dinheiro público inundaram os bolsos dos “políticos indignos”, numa afronta à sociedade aparentemente incapaz de reagir. Uma das características negativas dos brasileiros é a lentidão para reagir quando é necessário solucionar problemas relacionados à coletividade. Vejamos: o Brasil foi o último país a abolir a escravidão negra. Até hoje o Brasil não resolveu o problema da Reforma Agrária. E pelo visto e revisto, nunca conseguirá uma maneira de conviver bem com a seca do Nordeste por causa dos maus políticos. No Estado de Israel, menor que o menor estado brasileiro, Sergipe, em qualquer lugar do país é possível abrir uma torneira e ver sair dela água, mesmo no deserto da Judeia ou no Mar Morto. Neste, se pode boiar sobre água 100 vezes mais salgada que a água dos oceanos e depois entrar em um banheiro e tomar gostoso banho de água doce. Lá em Israel, água é “uma preciosidade”. Não há desperdício. Na agricultura, a irrigação é feita em gotas ao pé da planta, de modo mais racional possível, e o resultado são frutos vários exportados fresquinhos de manhã cedo para a Europa. Evidentemente, o problema da seca no Nordeste, aqui inclusos Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha, é político. E não basta ter “vontade política” para atenuar o problema. É necessário haver prática política porque só “vontade” muitos políticos dizem ter, mas na hora do “vamos ver”, o resultado é pífio; mas a grana escapada pelo ladrão, não; é em espécie. Quem tem em si mesmo a imagem do planeta terra como um mero ponto de parca luz tendente a desaparecer da vista perante a imensidão do espaço sideral, não se conforma com o fato de a humanidade não se convencer, numa comparação, de que não passa de uma formiga, e pode eventualmente ser esmagada pela sola desavisada do sapato de alguém ao dar um passo. Abaixo de Deus, já disse aqui, noutra ocasião, tudo na terra depende da política. Se nós vivemos bem é devido a política. Se nós estamos mal é a política a culpada. E como este país é cheio de desigualdades socioeconômicas, grande parcela da população sofre ano sim e no outro também por causa da política. No Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha o problema é a seca. Aqui, por essas plagas, logo virá o problema das enchentes. Um e outro são problemas políticos resultantes das promessas não cumpridas. A seca é mais antiga. E o uso político dela também. O escritor Graciliano Ramos marcou para sempre o drama da seca nordestina a partir da família expulsa da terra andando pela estrada tendo a cadela Baleia a frente. “Vidas Secas” é o título do livro. É só pegar pra ler.
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