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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 5 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Uma charmosa e extravagante boneca Ruth Tupinambá Graça Lendo neste Jornal a crônica do Felipe Gabrich, falando da “Inesquecível Mulher”, eu me lembrei que nos anos 30 eu a conheci e também, a sua história e criação. Seu Nunes e Seu Marques, dois portugueses que acreditaram na antiga Montes Claros e deram à nossa cidade uma casa comercial moderna e importante para aquela época. Instalada na Famosa “Rua Quinze” (hoje Presidente Vargas) onde funciona atualmente a “Roka Confecções”. A loja chamava-se “Vale Quem Tem” e era , justamente, uma grande Agencia da Loteria Mineira, que pela primeira vez, surgia em nossa terra. Até então, os escassos bilhetes que aqui chegavam, eram vendidos por cambistas nas ruas, todos apregoando a sorte grande. Na mesma loja, ao lado, para dar maior impressão de conforto, civilização e aspecto de loja moderna, funcionava uma seção de frutas importadas, bombons finíssimos e as deliciosas balas holandesas, que eram a paixão da criançada. As maçãs, vermelhinhas e brilhantes, arrumadas em caixas e acomodadas entre fofas palhinhas (como se fossem ovos preciosos) nos deixavam encantadas, porque maçã era fruta rara. Dificilmente chegava à nossa terra e, mesmo assim, como um presente especial que se trazia para os amigos do peito e familiares, comprado em raros passeios à nossa Capital. Maçã lá em casa era só para quem adoecesse, portanto sonhávamos em ficar doentes e fazer dieta com o “pome” delicioso. Pela primeira vez “Vale Quem Tem” nos dava também a “Laranja Americana” que estava em moda nas cidades civilizadas. Logo na entrada da loja, os grandes recipientes de vidro grosso em cima de uma base de metal, através dos quais se contemplava o liquido amarelinho em movimento rotativo e borbulhante. As crianças acompanhavam com água na boca. Tudo para nós era novidade e, um suco daquele porte, a gente via pela primeira vez. Até então, o que se vendia nos botequins do velho Mercado Municipal-principalmente aos sábados (dia de feira) - era groselha, limonada colorida com anilina, que o comerciante adicionava uma colherinha de bicarbonato na hora de servir, para espumar e, ainda ( para mais entusiasmar o freguês) gritava: olha a “birinata”, olha a “moreninha! A loja era bonita, muito incrementada, cheia de enfeites lusitanos, com muitas novidades, graças ao bom gosto dos dois portugueses que, com muita garra, entraram no comércio da nossa cidade almejando sucesso e ganhar muito dinheiro. Mas, para tal acontecer, precisava-se de uma propaganda arrojada que entusiasmasse a freguesia e, naquele tempo, ainda não existia TV (nem em sonhos), apenas o rádio, mesmo assim funcionando muito mal. Os portugueses tiveram uma idéia: fazer uma publicidade bem diferente. Bolaram, juntamente com Leonel Beirão de Jesus,um a grande boneca,” Maria Bamba”, para inauguração da grande loja. E assim aconteceu A Rua Quinze transbordava de gente naquela manhã de setembro . Crianças, moços e velhos, todos eufóricos com a inauguração da grande loja “Vale Quem Tem” As crianças ,alegres,requebravam ao som da música gostosa e excitante da” Maria Bamba”, com seu acompanhamento de sanfona, caixas, tambores e pandeiros e o povo, encantado com aquela Boneca enorme, dançava pelas ruas da cidade, fazendo propaganda da casa recém inaugurada. Era impressionante o seu tamanho, sua enorme cara pintada, vermelha como tomate, turbante bem feito envolvendo aquele cabeção, peitos muito grandes e empinados, saia muito rodada de chitão engomado, com estamparia de flores enormes num colorido berrante. Todos se impressionavam com a leveza daquela Boneca enorme que se requebrava e movimentava, fazendo mil trejeitos e rodopios num ritmo contagiante, movida por habilidoso dançarino, que suava em bicas debaixo daquele saião engomado Era um espetáculo interessante e uma grande novidade para aquela cidade longe da civilização. O povão delirava com aquela “giganta peituda” e as ruas se enchia de toda a gente da cidade, da mais rica a mais humilde. A Maria Bamba ajudou muito e a loja ia de vento em popa. Os fregueses entravam, entusiasmavam com o ambiente e, sugestionados com o nome da loja, logo compravam um bilhete inteiro, na esperança de se enriquecerem em 24 horas, como num passe de mágica! Tomavam uma laranjada chupando no canudinho (outra grande novidade) e compravam maçãs para as doces companheiras. Para as crianças, um pacotinho de balas holandesas. Que luxo! Era mesmo um luxo entrar na Vale Quem Tem e se deliciar com as novidades. A loja tornou-se a “coqueluche” da cidade Quando descíamos para a Escola Normal (já mocinhas) os rapazes lá estavam. Era o ponto estratégico para apreciarem a passagem das futuras normalistas e, como já sabíamos destes admiradores, esmerávamo-nos nas “toilletes” . Muito dengosas, arriscávamos lânguidos olhares que eram ardentemente correspondidos. De longe tudo valia, só não podiam se aproximar. De vez em quando recebíamos maçãs e bombons daqueles mais afoitos que aguardavam nossa passagem. Cada dia, uma era contemplada. Como era emocionante! Os tempos passaram. Seu Nuno faleceu e foi um grande pesar para todos os montesclarenses Com ele morreu também a Vale Quem Tem. Mas, a Maria Bamba ficou como uma lembrança. Continuou como a Boneca de Leonel, sua sucessora, vibrando pelas ruas e fazendo propaganda de outras lojas que surgiram. Uma Boneca mais civilizada, mais valorizada e tão bem cotada que foi até aos Estados Unidos com o Grupo Folclórico Banzé. (N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 95 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).

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