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Mensagem: Carta em que Darcy Ribeiro, então senador pelo Rio, pede ao amigo Oscar Niemeyer um projeto seu para M. Claros, então governada por seu irmão Mário Ribeiro. O propósito era localizá-lo no Parque Municipal. Rio de Janeiro, 9 de setembro de 1991 Oscar, meu irmão, Sai de Montes Claros há 50 anos, mas meu coração ficou lá pulsando. Quando sonho com eu menino a cidadezinha me ressurge, com o seu frescor de ilha de arvoredo no meio do carrascal Norte-mineiro. As saudades que tenho são saudades de mim, lá, naqueles idos. Montes Claros tinha então umas 3 mil almas e corpos que comiam, todos juntos, nos três dias das festas de agosto. Todos também cantavam lãnguidas serenatas nas noites de lua cheia, no alto dos morrinhos, que era um morrinho à toa, mas de onde se via a cidadeza toda, ali, aos pés, e a imensidão do céu prateado. Hoje, minha cidade se chama MOC e tem quase 300 mil habitantes, coitada. Da última vez que fui lá, fechava os olhos para ver minha Montes Claros, que, agora, só existe no meu peito. Meu irmão está realizando seu maior sonho na vida que era ser prefeito de MOC. E quer prefeitar bonito, deixando alguma coisa bela, que ajude todo aquele povão, sobretudo à criançada, a ter alegria de viver. Precisa ser alguma coisa recreativa, esportiva, que é o que o povo gosta mesmo. Mas deve ser, também, tanto quanto possível, educativa, cultural e até científica, para situar minha gente nesses tempos modernos tão complicados. Mário destinou uma vasta área central (4 hectares) cercada por avenidas, que são as principais vias de acesso da cidade. Ao lado há um lago de 3 hectares e um bosque ainda maior, sobrevivente das queimadas. Pode gastar lá de imediato US$ 1 milhão e outro, logo depois. Com esse parco dinheiro quer fazer mundos e fundos com um projeto Oscárico programado por mim. Ambição é o que não falta àquele meu irmão. Como sonhar não é caro, fiz funcionar minha fábrica de utopias, que se fará quando o tempo der. Tudo se centrará num casarão, de onde se veja o lago, o bosque. O casarão deverá abrigar: - Auditório-teatro para 250 pessoas, com telão para receber imagens através de uma antena parabólica e para projetar discos de videolaser. - Videoteca com arquivo de 250 videocassetes, do cinema mundial e brasileiro e 12 televisões. - Sonoteca com acervo de 500 horas de música computadorizada, acessível através de 60 audiofones. - Centro de teledifusão, como mini-estúdio, ilha de edição e emissora UHF (60 m2). - Biblioteca com sala para 120 leitores e setor autônomo de empréstimos. - Central de informática educativa, de três salas, com dois conjuntos de 15 computadores cada, capazes de atender, simultaneamente, a 60 usuários. - Galeria de arte para exposições temporárias. No futuro se poderia pensar em um museu com acervo próprio. - Fora do casarão, quero um parque infantil para os pais se livrarem dos filhos, por uma hora ou duas, enquanto se divertem ou estudam. Precisamos, também, de uma casa de festa, que a população toda use, nos fins de semana, sobretudo nos dias santos e feriados. Simplesmente, para relaxarem e se divertirem. Neste conjunto quero contar com: - Anfiteatro, arena, concha, acústica para 5 mil pessoas, ao ar livre, onde se revivam as antigas serenatas em todo o seu esplendor e se ouçam concertos ou participe de shows. - Feira de comidas para curtir a culinária da terra - paçoca, carne de sol, surubim, pequi de forma bem popular. - Pista de dança, para a mocidade se esbaldar. Como não custa nada sonhar, e é até gostoso, vamos adiante, pedindo um centro olímpico que ofereça: - Seis quadras esportivas polivalentes (já existentes). - Dois campos de pelada, com vestiários e sanitários entre eles. - Centro olímpico, com as prescritas pistas de correr, pular e suar, em disputas esportivas. O fundamental mesmo deste conjunto é um piscinão, com repuxo d’água e prainha de areia para o povo se alegrar, refrescar e lavar os olhos na beleza das novas gerações que irão surgindo. Nas quadras de secura em que o verão é medonho, a cidade toda se refrescará no piscinão. Tudo isto no meio de um arvoredo de mangueiras, jaqueiras, pitombeiras, abacateiros, coqueiros, cajueiros e cajazeiros, por amor à sombra fresca, às fruta e à passarinhada. Este é o meu sonho. Ambicioso demais, talvez, para as posses da terra. Mas apenas suficiente para atender meu coração. Acho um absurdo pedir isso a você, sem garantia de que seja feito com toda a grandeza que poderá ter. Mas, quem sabe? Uma vez existindo o projeto, talvez consiga, depois, dinheiro para se ir completando essas maravilhas. Quando ouvirem falar disso vão dizer outra vez que caí num outro dos meus sonhos desvairados. Por isso até crêem que meu desejo maior é ser imperador. Ignoram, os inocentes, que não é imperador do Brasil o que quisera ser. É tão só imperador do Divino Espírito Santo, nas festa de agosto, de Montes Claros. Nunca pude ser, quando devia, porque minha mãe, professora, não podia pagar os custos da enorme festança. Agora me vingo, pedindo a você que crie em Montes Clan um espaço aberto, permanente, para todo menino brincar de imperador do Divino. Obrigado, Oscar. Meu abraço Darcy Ribeiro Exmo. Sr. Dr. Oscar Niemeyer
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