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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 1 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Enchente Há uns 20 ou mais anos, em noite de janeiro, uma tromba-dàgua inundou o bairro Todos os Santos. Disseram, à época, que o reservatório do Pai João havia rompido, não aguentara o peso da chuva. A água, ladeira abaixo, atravessou os Bois até pousar no miolo do bairro, formado pelo baixio das ruas dos santos Mateus, Marcos, Antônio, João e Paulo, perpendiculares aos logradouros das santas Bernadete, Lúcia, Maria e Luzia. Ficou tudo encharcado. Uma enorme lagoa urbana. O lendário Dr. João Vale Maurício, morador de esquina da São João com Santa Lúcia, contava que ao acordar de madrugada e descer da cama para ir ao banheiro, assustou-se ao molhar o meio das canelas. Suas sandalinhas boiavam serelepes na piscina em que transformara a sua suíte. Alarmado com o volume e com a constância que a água subia, despertou aos gritos toda a família para baterem em retirada. Nas primeiras horas da manhã, ele, a patroa, as filhas e a cozinheira, de pijama e camisolas, transpuseram o aguaceiro até a garagem a procura de um escape a motor, mas o carro já estava cercado e embebido de água. No desespero para a fuga telefonou para o irmão e pescador Joválcio, que morava dois quarteirões acima, na São Pedro: - Mano, Mano, só você vindo aqui nos acudir. A água já está no meu umbigo. Pelo amor de Deus, pegue seu barco e venha nos socorrer antes que seja tarde. Dr. Joválcio, mais que depressa, com ajuda de vizinhos apijamados, arrastou a carreta com o barco pela rua Santa Lúcia até uns poucos metros depois da São Paulo. A partir dali, tudo era água trêmula e turva. No seco, a beira do recente lago, amontoavam-se moradores assombrados, bem como curiosos admirados com o tamanho charco. O irmão pronto, com a mesma empolgação de quando foi campeão de natação, desceu o barco da carreta, colocou-o na água e ligou o motor de popa. Olhou à sua volta, viu uma senhora despenteada com um bebê de meses nos braços e querendo ajudar perguntou: - Ô dona, a senhora quer ir? A mulher, sem vacilar, assentiu com a cabeça e brucutu dentro do barco. Sentou-se e agasalhou a criança. Dr. Joválcio, todo vaidoso, embicou a embarcação pela Santa Lúcia. No quarteirão abaixo, na esquina da São João, deparou com seu irmãozinho Maurício sacudindo os braços com água pelo peito e a família toda empoleirada nas grades da casa. Joválcio, com pressa, disparou: - Aguenta mais um pouquinho Mano, que só vou despachar esta senhora e já volto! Aí, voltando-se para a mulher, perguntou: - Ô Dona, a senhora vai pra onde? A distinta deu uma pausa, emudeceu e depois destramelou: - Uê, eu pensei que a gente ia era passear.

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