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Mensagem: Radiografia Juracy Ferreira da Silva foi presa como chefe de uma quadrilha composta de dez bandidos, quatro dos quais seus filhos. Não fazia política: quando foi presa, Juracy trabalhava no tráfico de drogas e tinha em estoque boa quantidade de crack além de haxixe, incomum na região em que operava. Como sabe o leitor, haxixe, bango ou pango é droga de efeito entorpecente preparada com a resina segregada pelas inflorescências femininas do cânhamo, Cannabis sativa, cujo componente ativo é o tetraidrocanabinol. A Grã-Bretanha, palco dos últimos Jogos Olímpicos, tem dois milhões de residentes consumindo habitualmente haxixe “importado” de Marrocos, onde se produz o melhor do mundo. Falei que Juracy trabalhava no tráfico? Esquece. É melhor dizer que trabalha, porque logo, logo, estará de volta às ruas de Montes Claros, MG, que já foi a gloriosa Vila de Montes Claros de Formigas. Os montes-clarenses ficam furiosos com a menção de seus antigos nomes, motivo pelo qual é mais prudente citar a divisa Sub umbra alarum tuarum, “debaixo da sombra de tuas asas”. Sombra, de resto, muito útil, porque a região é soalheira e muito quente. Já andei por lá querendo comprar fazenda no Rio Verde Grande e tenho fotos divertidas: diversos companheiros de viagem nadando no rio com um só braço, considerando que o outro andava ocupado na proteção do respectivo aparelho reprodutor externo. Parece que nos rios havia peixes aparentados com as piranhas. Ainda hoje, decorridos mais de 40 anos, tenho por lá bons amigos e me lembro das aventuras vividas na região, uma das raras do Brasil que tem terremotos, mas felizmente fraquinhos, que só balançam lustres, racham paredes e botam o pessoal para correr. Hospedado na casa de um amigo, que ficou provisoriamente sem luz com a explosão do transformador de sua rua, saí para comprar os jornais de domingo. Era dia de corrida de Fórmula 1. Voltando com os jornais para a casa do amigo, passei diante de imensa residência onde havia um telão, no cômodo vizinho da piscina, transmitindo a corrida. Parei do lado de cá do portão gradeado para espiar e logo apareceu um morador me convidando para entrar. Entrei. Grupo muito simpático, uísques e salgadinhos da melhor qualidade, telão gigantesco – esbaldei-me na manhã montes-clarense. Terminada a corrida, agradeci o convite e os muitos uísques, tomei o caminho de volta para a casa do amigo, que se assustou: “Você passou a manhã na casa do maior traficante do norte de Minas!”. Por aí, dá para o leitor do Correio Braziliense fazer ideia de como são as coisas. Se a Polícia Federal baixasse na tal casa, teríamos um philosopho preso e enrolado até esclarecer as coisas. Já que falamos de prisões, deixe-me contar que participou da primeira excursão que fiz ao Rio Verde Grande um mineiro muito educado, muito simpático, mais ou menos da minha idade, conhecido como o homicida mais procurado de todo o estado de Minas Gerais. Problemas de família e briga de terras numa região conhecida pelo capim colonião sempre verde ao longo do ano, mesmo nas maiores secas. O certo é que o cavalheiro, suposto de ter mais de 40 mortes nas costas, ficou meu amigo e sempre que me sabia, através dos jornais, hospedado em Montes Claros, dava um jeito de aparecer para me visitar. Espero que não tenha sido preso e ainda esteja vivo. No fundo, é uma alma de ouro. Quarenta mortes são ossos do ofício.
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