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Mensagem: O que diria Pirandello sobre Montes Claros Alberto Sena Se o escritor italiano Luigi Pirandello (1867-1936) estivesse no meio de nós, e, se numa hipótese, ele sobrevoasse hoje Montes Claros, de helicóptero, repetiria aquilo que disse ao então repórter Assis Chateaubriand, na década de 20: “Acabo de chegar do Brasil (Montes Claros) e estou triste porque o País (a cidade) adota o modelo norte-americano de espigões”. Montes Claros, que nasceu fazenda, virou “Arraial das Formigas” e depois “Princesinha do Sertão”, atualmente é de fato a capital da região metropolitana do Norte de Minas, com direito aos ônus de uma metrópole plana que segue o modelo norte-americano de espigões; cresce para cima. Pirandello é um dos maiores escritores da literatura moderna, autor do livro “O falecido Mattia Pascal” e de peças de teatro tipo “Seis personagens à procura de um autor”. Ele foi uma das personalidades entrevistadas por Chateaubriand, que, a mando de Aurélio Buarque de Holanda, fez uma série de reportagens com personalidades europeias influentes de diversas áreas do conhecimento, para publicação no Brasil. Claro que a opinião de Pirandello em nada influenciou no processo de crescimento vertical das grandes cidades brasileiras, “um modelo urbanístico equivocado”, segundo nos disse, semana passada, em Belo Horizonte, o navegador Amyr Klink, ao participar de um seminário promovido pelo jornal Hoje em Dia, sobre mudanças climáticas. Equivocado, segundo ele, porque excludente e gerador de favelados. “As cidades têm que diminuir e crescer em oferta de qualidade de vida”, disse Klink, que já experimentou o frio da Antártida 42 vezes. No início da década de 70, Montes Claros possuía, se muito, dois ou três espigões. Um deles, localizado na esquina das ruas Pedro II e São Francisco ficou em obras, no esqueleto, durante anos. Era usado até por estudantes gazeteiros como plataforma de lançamento de aviõezinhos de papel. Os aviõezinhos plainavam até a Praça Dr. Carlos, onde antes havia o casarão do mercado municipal, quando arremessados lá de cima. Quarenta anos depois, vários espigões brotaram em Montes Claros e em compensação a qualidade de vida na cidade caiu, e as reclamações devido à falta de segurança tornaram-se uma cantilena sem consequência. Os problemas socioeconômicos há muito tempo escaparam por entre os dedos das autoridades, que nem tão responsáveis são no combate das suas causas. Quem viveu a Montes Claros de até a década de 70 não conhece mais a cidade que cresceu de maneira desordenada e recebeu gente de todas as partes do País trazida pela BR 251, atraída pelas possibilidades econômicas. Primeiro o comércio e a pecuária de corte foram o forte da economia. Depois o carvão vegetal feito de árvores nativas do Cerrado e o Distrito Industrial. Agora, o atrativo é o minério de ferro e a exploração de gás natural da região. A voracidade como tudo se deu foi de assustar e Montes Claros tanto fez que, por último, passou a tremer. As explicações sobre as causas verdadeiras dos tremores de terra não foram convincentes ao ponto de excluir as explosões de dinamites nas entranhas da gente-terra. O que muita das vezes é chamado progresso, porque realizado a qualquer preço é em realidade atraso. O mais importante não é conjugar o verbo ter, mas o verbo ser. De que adianta Montes Claros ter isto e aquilo se não consegue ser uma cidade que preza primeiramente o bem estar dos seus habitantes? Qualquer pessoa que der um giro nos próprios calcanhares vai perceber: Montes Claros, em seu aspecto urbanístico, não tem estrutura para suportar essa carga pesada e desordenada do que aparentemente é progresso e desenvolvimento, antes ignorando a razão da existência dos cidadãos que dão corpo e alma à cidade. Os problemas que os montesclarinos enfrentam hoje no dia a dia são resultantes da falta de visão dos governantes. A cidade perdeu a oportunidade de conceber um plano diretor que pudesse conservar o traçado antigo das ruas e dos imóveis antigos e construir um lugar moderno voltado exclusivamente para o conforto dos seus habitantes. Agora, pode ser tarde demais. Qualquer atitude nesse sentido pode custar os olhos da cara. A cidade se expandiu horizontalmente e, nas últimas décadas, cresce para cima, sem criatividade, imitando o modelo equivocado dos norte-americanos. A esta altura, Pirandello poderia dizer, utilizando de uma expressão portuguesa usada no Norte de Minas, “Agora, Montes Claros, sua alma, sua palma”.
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