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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: O PEQUI QUE NOS ALIMENTOU José Prates O pequi que me alimentou na infância, na juventude e muitas vezes me encheu a língua de espinhos, até que eu aprendesse a comê-lo, está na mesa do povo do “cerrado” desde tempos imemoriais, como nos conta a história. Quando me lembro do pequi, toda minha infância vivida na pequena e gostosa Jacaraci volta-me à mente e me vejo debaixo do pequizeiro, catando a fruta que amadureceu e caiu do galho, nos avisando que é tempo de sua colheta. “Catar” pequi debaixo do pé, não sei se acontece, ainda, hoje, mas, no meu tempo que já vai longe, era festa pra meninada que saia aos bandos, balaio na mão, correndo pela estrada arenosa até chegar no cerrado onde estavam os pequizeiros. Era perto, logo depois do “cruzeiro”, como chamávamos a igrejinha que ficava no alto do morro, antes da “areia branca” onde íamos apanhar enfeites naturais para o presépio e o pessoal de “seu” Chiquinho David buscava areia para enfeitar a calçada do bazar, nos dias festas. Não era só pequi que nos atraia ao cerrado. Eram, também, as frutas que lá nasciam, como cagaita, cabeça de negro, umbu, mandapuçá, araçá que, maduras, caiam do pé enchendo a mata com seu cheiro gostoso, colocando os animais em festa diante do banquete. O gado roia o pequi caído no chão, deixando a castanha limpa, sem tirar um espinho sequer, ao passo que nós, de vez em quando enchíamos a língua de espinho, difícil de ser retirado. Comer pequi foi coisa que demorei a aprender, enquanto o boi e o cavalo já nasceram sabendo. Não há necessidade de falar muito sobre o pequi porque é conhecido de todo mundo e tido como coisa da gente. Guimarães Rosa em seu gostoso romance “Grande Sertão, Vereda”, conta que ´o Garanço se regalava com os pequis, relando devagar nos dentes aquela polpa amarela enjoada. Aceitei não, daquilo não provo: por demais distraído que sou, sempre receei dar nos espinhos, craváveis em língua´ Aqui em casa, aconteceu isto ano passado. Mandaram-me de Montes Claros, umas dúzias de pequi. Minha esposa os cozinhou no arroz. Foi ai que aconteceu: meu neto foi experimentar e encheu a língua de espinhos que tiramos com uma pinça. Mesmo residindo há muito em plagas distantes não esquecemos o pequi e, ainda, sentimos o seu cheiro e o seu gosto ao nos transportar para o passado porque a presença do Pequi na nossa vida é de fato marcante. Não conseguimos esquecer o seu lado folclórico, sua importância na nossa gastronomia, como sabor exótico, sua versatilidade em se fazer combinações e seu poder afrodisíaco. Dizem que na época do pequi, oitenta por cento das mulheres casadas engravidam, resultado do poder nutritivo da fruta. Carlos Ribas, psicanalista e diretor de TV, comentando a revista Magazine Pequi diz que ” Seria também mais importante que saber dos seus preciosos valores nutritivos, para os quais tanto se dissertou como a “carne dos pobres” do sertão. Seria também mais importante até que reforçar o incansável discurso ecológico e preservacionista ao denunciar a ameaça do desmatamento que o coloca no rol dos espécimes com risco de extinção” Creio que Montes Claros protegeu, por lei, o seu pequizal, proibindo o corte do pequizeiro. Ribas conclui o seu comentário, dizendo que “talvez sua maior importância seja a de um orgulho em que nós, nativos, desse sertão, somos acometidos ao descobrir que esse vegetal, de certa forma, nos une. Até mesmo quando escutamos desencontrados discursos críticos em torno dessa preciosidade sertaneja. Quem nunca teve a sensação de, ao dividir um elogio ao Pequi como se fosse um passaporte, uma senha de identificação regional, se sentir realmente em casa? “Se ele ou ela gostam de Pequi, então são um dos nossos…” Outro lado interessante do pequi é a medicina. Gostar de pequi, todo mundo do cerrado gosta, mas, acredito que poucos sabem que a utilização terapêutica do pequi não está restrita à medicina popular. Depois que li a noticia do pequi na pré-historia, fiz uma pesquisa sobre ele e com surpresa encontrei referencias a um trabalho publicado na Revista Brasileira de Medicina Tropical que descreve a atividade antifúngica das folhas, dos dois principais componentes presentes no óleo essencial das sementes, além do alto poder nutritivo. Foi verificado neste trabalho que a parte mais ativa contra os fungos é a cera epicuticular da folha, coletada no período da seca, inibindo o crescimento de 91,3% dos isolados de fungos (José Prates, 87 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Atualmente, é um dos diretores do Sindicato da Classe)

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