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Mensagem: Saudade dói; e como dói, João Jiló Alberto Sena Uma ida de menos de 48 horas a Montes Claros, a fim de buscar fogo; uma descida pela Rua Dr. Santos, em frustrada tentativa de encontrar algum casarão antigo ainda de pé; uma passada pela Praça Dr. Carlos e pela Rua Simeão Ribeiro até o Café Galo foram suficientes para a conclusão de que, ao longo de quatro décadas, uma nova cidade surgiu e a memória da outra volátil tanto quanto os gases prospectados na região, desapareceram. Aliás, existem apenas dois vestígios, um deles é a casa da família do amigo Alcebíades Batista, e a outra é a do empresário e poeta Luiz de Paula Ferreira, a ambos rendemos homenagens. A essa altura do campeonato lúdico da vida como querer encontrar tudo como dantes no quartel de Abrantes? Muitos dos rostos conhecidos, aqueles que naquela época eram figurinhas fáceis em todas as hostes, já se foram. E quem dos que ficaram e vivos estão em Montes Claros ainda se lembra desses nomes: Fernando Gontijo, Zim Bolão, Lourinho, Waltinho Fernandes, Ildeu, Rubens Sena, Cícero “Cuecão”, Geraldo Santana Machado, Popó, Lazinho Pimenta, Tião Boi, só para citar alguns entre tantos? O café Galo continua sendo um termômetro montesclarino. Dependendo da temperatura do café ou do conteúdo do gostoso pastel servido por Jadir Rodrigues, é possível saber um pouco do paradeiro deste, daquele ou daquela pessoa com a qual houve convívio em passado nem tão remoto considerando a relatividade do tempo. Os frequentadores do café Galo, ponto tradicional aonde intelectuais da cidade e os políticos em campanha não podem deixar de entrar para tomar cafezinho e comer pastel, têm como característica falar só bem uns dos outros. Pra eles, fofoca é coisa de gente careta. E estão certos. Montes Claros tornou-se uma metrópole e como acontece em toda metrópole, as pessoas cheias de afazeres não dispõem de tempo para cuidar da vida alheia. Nem bem havíamos chegado ao café Galo, ainda a meio caminho da Rua Simeão Ribeiro, eis que surgiu serelepe Raphael Reys, que, com poucas palavras nos convenceu de que a vida começa realmente aos 65 anos, afinal o sentimento chamado amor é como a fase da infância, que tanto pode durar pouco como pode ir de zero aos 105 anos em gente apaixonada. De fato, o amor é lindo e pudemos comprovar isto por meio da nossa paixão por Montes Claros, mesmo sabendo que a qualidade de vida na cidade já foi há muito tempo “pras cucuias”. Depois de pousar para fotos a pedido do Reys e de uma prosa rápida sobre literatura, lançamentos de livros e tal e coisa, conseguimos chegar ao café Galo e dar de cara com rostos conhecidos, desde muito tempo, como Saul Sena, que admitiu ter sido “fruto de um milagre” porque viu a nossa vó (ele é primo) pela greta. Hoje em dia, toma cafezinho, come pastel e recita salmos bíblicos a fim de reacender corações. Lá se achava também o poeta repentista, cantor, compositor e escritor Téo Azevedo, de Alto Belo, a quem não encontrava desde a década de 80. Lá estava também assinando ponto o jornalista Jorge Silveira, que iniciou carreira no Diário de Montes Claros e nós no O Jornal de Montes Claros, de Oswaldo Antunes, falecido recentemente. Ponciano chegou, cumprimentou e saiu. Theodomiro Paulino passou de raspão, tempo suficiente para saber sobre o estado de saúde da mãe dele, que ele valoriza tanto como todo filho deveria valorizar os pais. Lipa chegou e foi então que nos deu a notícia bastante retardada de como faleceu o amigo Cícero Cuecão com quem jogamos futebol e vivemos as noites montesclarinas, em companhia de outros que nem ousamos citar os nomes para não correr o risco de deixar alguém fora da lista. Tomamos cafezinho, comemos pastéis, despedimos dos que ali estavam e fomos andando tentando reconhecer os lugares onde havia algum sinal da cidade de até o início da década de 70. Ao mesmo tempo, como quem empurra para o fundo da mochila algo que insiste em sair, evitamos ao máximo o sentimento de saudade, porque gera banzo. Saudade dói; e como dói, João Jiló. Não resistimos à curiosidade e pedimos ao motorista do táxi para passar pela Rua Corrêa Machado, entre ruas João Pinheiro e Dr. Veloso, onde havia um campo de futebol, em verdade um paraíso mágico, palco de parte da infância, adolescência e início da fase adulta de muitos que já se foram e de muitos que ainda vivem eternamente enquanto durar o tempo.
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