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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: O estalar de ossos do meu pai Alberto Sena A única palmada que levei do meu pai foi quando a polícia, um soldado PM fardado, foi lá em casa para me intimar a comparecer à delegacia. Já contei esse episódio em um outro texto, mas em rápidas pinceladas, como de certo não diria o pintor baiano mais montesclarino, Godofredo Guedes, permitam-me voltar ao assunto. Morávamos no trecho da Rua Corrêa Machado, entre as ruas João Pinheiro e Dr. Veloso, em frente ao campo do União, à época, década de 60, um lugar mágico. A turminha brincava de atirar pedras com estilingues, do lado do campo que dava para a Rua João Pinheiro, quando um dos meninos atirou sem querer querendo, uma pedrada no para-brisa de um caminhão basculante do DER que, inadvertidamente passava por ali. Foi nesse dia que levei a única palmada do meu pai, pelo menos ao que eu me recordo. Não pensem que conto isso agora porque guardo algum ressentimento em relação a essa bendita palmada. Conto isso porque hoje é considerado pelo comércio “o Dia dos Pais”. Naquela década entrante, com só 11 anos de idade, como é que podia um menino ser intimado a comparecer à delegacia? Não vou me estender nisso porque, como disse, já escrevi a respeito, mas só para fechar, tudo foi resolvido da melhor maneira possível, pois o “coronel Coelho”, delegado “calça-curta” naquela época, era amigo de meu pai e foi uma boa oportunidade para os dois baterem um papo, já que “delegacia de polícia não foi feita para menino de 11 anos”, disse ele. Os mais antigos vão se recordar do coronel Coelho. O que quero dizer, aproveitando esse minifúndio eletrônico, é que meu pai, até o quanto convivemos, pois ele morreu quando eu tinha 12 anos, foi um grande amigo. Tenho boas lembranças dele, de quando, mãos dadas, íamos ao mercado municipal, aquele casarão onde as mercadorias chegavam em bruacas trazidas no lombo dos animais, cavalos, mulas e jumentos. Acho que o meu gosto por caminhadas se iniciou nessa fase intermediária entre a infância e a pré-adolescência, quando pai me levava à fazenda Aliança, a pé. Viajei várias vezes com ele, de trem, como uma vez em que fomos nos encontrar com a minha irmã Ladinha vinda de Belo Horizonte. Fomos até Buenópolis esperar “o trem de Ladinha”. Pai me levava ao campo de futebol e também à Praça de Esportes, onde aos domingos funcionava uma rinha de galos de briga. Naquela época, o campo do Cassimiro de Abreu ainda não existia no bairro Todos os Santos. Havia só o estádio João Rebelo e o do Ferroviário. Foi no João Rebelo que conheci Chinezinho, Manoelzinho, Manoelito, João Batista, entre outros craques do futebol da nossa terra. Um dos episódios mais marcantes da relação paterna foi num Natal, quando o menino acreditava ainda em Papai Noel. O sonho de ganhar uma bicicleta havia se tornado realidade. Chovia muito. Como eu soube depois, meu pai deixara a bicicleta do lado de fora, na parte da frente da casa para não desmoralizar Papai Noel. Se fosse hoje, do modo em que vai a criminalidade em Monte Claros, Papai Noel estaria com um furo no saco. Quando acordei no dia de Natal com a porta entreaberta e vi a bicicleta, só queria ficar montado nela. Mas não podia ir experimentá-la lá fora porque, pasmem, ainda chovia em Montes Claros. Dá janela vendo a chuva cair lá fora, eu torcia para parar de chover a fim de estrear a bicicleta. No dia do falecimento do meu pai, em 15 de janeiro de 1961, era de manhã e eu me encontrava na rua jogando bolinha de gude, quando ouvi o grito da minha irmã, Lúcia, me chamando. Foi só o tempo de quicar a bolinha do companheiro e embolsar mais uma, para atender ao chamamento. Algo não ia bem, senti logo. De fato, meu pai estava nas últimas. Ele ficou doente durante algum tempo, na cama. Foi atendido pelo médico “Mauricim” – João Valle Maurício. Talvez para me tirar do quarto naquele momento, mãe me pediu para correr à casa de tia Ambrosina, a dois quarteirões da nossa casa. Fui voando de bicicleta. Avisei tia Ambrosina e voltei a tempo de ver pai dar o último suspiro. Antes, ouvimos um estalo de ossos dos pés de pai. Alguém disse depois: “Foi um sinal da partida dele”. Hoje, acho que não. Os ossos estalam mesmo em qualquer situação. E podem estalar até na hora da partida final.

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