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Mensagem: Cartas de Esperidião Santa Cruz HAROLDO LÍVIO Em 1957, a comissão organizadora do Centenário de Montes Claros teve o cuidado de convidar para virem participar dos festejos todos os montes-clarenses ilustres que moravam fora da terra natal. Um destes foi o poeta Agenor Barbosa, considerado por Cândido Canela como o maior de todos os menestréis nascidos nesta cidade. Pouca gente, hoje em dia, sabe de quem se trata. Tornou-se completamente desconhecido de seus conterrâneos, com o passar dos anos; no entanto sua memória é reverenciada em São Paulo que, de certa feita o elegeu para o rol dos dez maiores poetas paulistas, juntamente com Guilherme de Almeida, Menotti Del Picchia e outras celebridades. Pergunte ao Google, se desejar mais informações sobre o personagem. Ele saiu daqui ainda criança, na mudança de sua família para Belo Horizonte, onde iniciou os estudos e ganhou fama no meio literário como trovador de rara inspiração. Da capital das Alterosas alçou vôo para a terra da garoa, tendo ali crescido ainda mais e conquistado lugar cativo no coração dos paulistas, que o tinham como um dos nomes gloriosos da literatura de São Paulo, a despeito de ser um mineiro do sertão. Por ocasião da badalada Semana de Arte Moderna de 1922, o montes-clarense Agenor Barbosa foi o único participante aplaudido pelo público, que vaiou Manuel Bandeira, Villa-Lobos, Mário de Andrade e outros famanazes das artes. Recomendo ao leitor a leitura de sua biografia completa, na obra “Efemérides Montesclarenses”, de Nelson Vianna. Pois devidamente convidado para o Centenário, ele não se dignou de vir participar das comemorações festivas. Pode ter tido suas razões, quem sabe... Porém, nosso poeta Cândido Canela tomou-se de dores pelo não comparecimento do colega que gostaria de conhecer pessoalmente e escreveu uma série de cartas em que um velho montes-clarense chamado Esperidião Santa Cruz, havia mais de meio século ausente de seu berço e morto de saudade, lamentava não mais poder regressar à terra de origem, para rever os amigos da mocidade. Esperidião foi o pseudônimo que o inspirado autor das cartas criou para substituir o nome real do homenageado Agenor Barbosa. A cidade inteira acompanhou a publicação, na Gazeta do Norte, das cartas chorosas que foram chegando toda semana. Nos saraus familiares tornou-se o assunto predileto, porque o macróbio Esperidião, apesar de ser um ancião de escasso convívio, recordava-se nitidamente da Montes Claros de sua mocidade. Declarava os nomes de seus antigos companheiros de bailes e serestas, como também se lembrava das donzelas românticas de seus tempos de rapaz. Ninguém sabia, exceto o jornalista Jair Oliveira, que se tratava de uma brincadeira do autor das cartas, e ambos se divertiam com o sucesso de público. O relato das cartas era tão fiel à realidade, que algumas pessoas de boa memória acreditaram ter conhecido pessoalmente o missivista Esperidião Santa Cruz, que ao final das publicações ficou muito mais conhecido do que o próprio Agenor Barbosa. Agora mesmo, a Dra. Maria Ribeiro Pires, escritora e oradora de mão cheia, está à procura de exemplares do jornal que publicou as cartas, há mais de meio século. Está com a palavra o guardião da coleção encadernada da Gazeta do Norte, que não sabemos de quem se trata.
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