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Mensagem: Mãe Terra treme Alberto Sena Para o bem de Montes Claros e da população montesclarina, a essa altura do campeonato, quer dizer do mandato, a administração pública já deve ter solucionado os problemas verificados há cerca de um mês quando aí estivemos com a intenção de buscar fogo e respirar os ares (secos) do Cerrado. O que registramos “neste minifúndio” (eletrônico), como diria o falecido amigo jornalista e escritor Roberto Drummond – ele costumava dizer “minifúndio de papel”, porque publicava suas crônicas em jornal impresso – são algumas impressões que nos deixaram intrigados ao andar pelas ruas centrais e da periferia de nossa cidade. Era sábado. Ali por volta do meio-dia. Na Rua Dr. Santos íamos rumo à Praça Coronel Ribeiro, que o então prefeito Luiz Tadeu Leite recuperou nos estertores do seu controvertido terceiro mandato. Ficou melhor do que estava, é preciso admitir. Nem precisamos dizer, mas muitas vezes o óbvio tem de ser falado, apalpado até para ser visto. A Rua Dr. Santos e todo o centro da cidade assustam qualquer pessoa, mesmo as nascidas aí e criadas na terra, quanto as que, há muito tempo vivem fora. Naquele dia, os carros, as bicicletas, as motos e o vaivém de gente se misturavam ao incômodo de ter de desviar de sacos de lixo entulhados na estreita calçada, à espera da coleta. Uma má impressão sem tamanho, que gerou pergunta também incômoda: quase ao meio-dia, será que não havia ninguém para recolher o lixo? É claro que, tanto tempo depois, o problema de coleta de lixo da cidade já deve ter sido solucionado. Afinal, é um estorvo o lixo. Mas, ficamos a nos perguntar onde estariam, àquela hora, “os mundos e os fundos” prometidos durante a campanha política? Oito meses já se vão. Será que o prefeito Muniz tem conseguido inaugurar uma obra por mês como havia prometido em campanha almejando a prefeitura? Naquele sábado, portanto, apesar da pressa, a impressão era a de que a cidade estava largada. Os buracos deixados por Luiz Tadeu se misturaram com os buracos abertos pelas parcas chuvas deste ano e se somavam aos da administração Muniz e corriam o risco de virar crateras de raios crescentes nas ruas. Não há roda ou suspensão de carro que aguente tanto solavanco. A cidade e os moradores não merecem tanto descaso repetitivo. Montes Claros e a população nela vivente merecem tratamento respeitoso. A cidade tem grande importância no cenário político e socioeconômico do País, mas tem sido maltratada pelas más administrações. Pelo menos foi isto que mais se ouviu nas imediações do Café Galo, considerado termômetro, no reencontro com vários amigos. Lá, o galo canta no horário comercial o dia inteiro. A frase do mestre jornalista Fialho Pacheco, aqui reverenciado por tudo que foi e pelos cinco Prêmios Esso de Jornalismo, ao deparar com as ruas de Montes Claros pela primeira vez, “a cidade vai explodir”, é uma realidade nua e crua hoje. É preciso que a população se levante e exija uma cidade cada vez mais dotada do aparato necessário para oferecer qualidade de vida a todos. É preciso mudar o espectro de Montes Claros, que, de “cultural” no passado, a cada ano mais ganha o epíteto de “cidade violenta”. Montes Claros precisa criar perspectivas para a população, ultimamente assustada com a frequência de tremores de terra mal explicados – nunca dantes na sua história, a cidade registrara esse tipo de ocorrência. Hoje em dia não se pode mais dizer que “o Brasil é um paraíso” porque em Montes Claros tem terremoto, notícia que nunca tivemos da parte dos que vieram antes e durante os 22 anos vividos no torrão querido. A cidade cresceu de modo estonteante. Foi desfigurada de maneira agressiva. Os costumes foram modificados tanto pela voraz passagem do tempo como por parte dos que vieram de fora, pela BR 251 – que urgentemente precisa ser duplicada, tamanho assombro do seu trânsito de carretas – em busca de ouro de aluvião. Agora, o grande risco que a cidade e a região correm é o de ser engolidas pelas gigantescas máquinas que escarafuncham a terra em busca de minério de ferro e gás natural. Só de ver essas máquinas, a Mãe Terra treme. Como toda gente treme diante do perigo.
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