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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 6 de novembro de 2024
 

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Mensagem: TEMPO DE BALCÃO E COMEÇO DE ESTUDOS Wanderlino Arruda Nos anos cinquenta, a gente mais bonita e mais falante da cidade eram os jovens do footing, Rua Quinze e Praça Doutor Carlos, trecho que ia do antigo Clube Montes Claros até a esquina da Rua Doutor Santos, bar de Manoel Cândido e Hotel São Luís, transformado em Caixa Econômica e, depois, em Copasa. Pela única pista calçada da cidade, andavam as moças mais atraentes e os rapazes mais bem vestidos, mais bem postos na vida, seguros candidatos ao namoro, ao noivado e ao casamento. Assim como uma sala de visitas ao ar livre, a Rua Quinze era uma eterna passarela, principalmente ali pertinho do Clube dos Bancários, em frente às antigas Casa Ramos e Casa Alves, onde as esquinas eram muito mais claras, porque iluminadas pelas vitrines de luz florescente, ontem e hoje um grande luxo. Lá pertinho estavam o Cine São Luís, os bares, os salões de sinuca, as sorveterias, os melhores salões de barbeiros, os bancos, as lojas mais modernas e mais ricas. Quando cheguei a Montes Claros para trabalhar e estudar, janeiro de cinquenta e um, só se falava no Capitão Enéas, o novo prefeito que ia tomar posse, quando os alto-falantes não bradavam outra coisa. O Colégio Diocesano já estava quase terminando o curso de admissão, o Restaurante Valério, na Rua Simeão Ribeiro, marcava uma época de grande fama, e as lojas de discos da Praça Doutor Carlos faziam grande estardalhaço com o baião ´Delicado´, tocado dia e noite. Destinado a trabalhar como engraxate no Salão Rex, Antônio Guedes não me aceitou porque eu já não era tão menino como ele esperava, e - falando um pouco de inglês - não ficava bem em serviço tão humilde. A segunda possibilidade era trabalhar na Casa Leda, de Marcelo Alcântara, mas como Marcelo ia viajar uma semana inteira, não pude esperar, porque também podia não dar certo. Aí, o Dr. Carlyle Teixeira me levou para apresentar a Joaquim F. Correia, dono da Imperial, loja mais grã-fina da Rua Quinze e da cidade, onde já no dia seguinte, engravatado, camisa branca e calça azul, iniciei um período de aprendizagem sob as ordens do gerente Antônio Chamone. Na frente da Imperial, as lojas de José Alves da Silva e de Artur e Antônio Loureiro Ramos. Do outro lado da esquina, a Pernambucana, na Rua Camilo Prates, por onde passaram várias farmácias. Vizinha, de lado, a Gazeta do Norte, de Jair Oliveira, a Rádio Sociedade, de Zezinho Fonseca. O Chamone começou me ensinando que balconista não podia ficar sentado, não podia encostar nas prateleiras ou no balcão, não podia parar em tempo nenhum, todo momento de trabalho pleno, atendendo os fregueses, arrumando, limpando. Na loja de louças e de vidros, se quebrasse alguma coisa teria de pagar. Fumar, só se fosse no banheiro. Perfume, só usar se fosse do vidro de amostras. No primeiro dia, bati o pé em uma bateria de cozinha, que ficava na porta, e as panelas e caldeirões foram para o meio da rua. Nunca me esqueço do grito de ´bota na minha conta´ que o Afonso André Rodrigues gritou de lá de Casa Luso-Brasileira, e do pessoal da Gazeta que saiu para ver o que acontecia. Foi uma a ventura maluca... Por ter só duas calças, duas camisas e uma gravata, a Rua Quinze para mim só valia pelo que tinha nas horas do dia. A noite pertencia aos bem vestidos, a quem tinha dinheiro para passar pela sorveteria, normalmente bancários, comerciários mais velhos, filhos de comerciantes, estudantes ricos, sócios dos clubes. O brilho da noite nunca pertenceu aos deserdados e iniciantes. Para o estudante pobre, a noite foi sempre hora de dormir ou de ler bons livros, o que eu fazia a exemplo de outros companheiros da pensão de Dona Tonica. Nada complicado, porque, afinal, morávamos na esquina do beco do Padre Marcos com a Rua Afonso Pena, muito pertinho da Biblioteca Pública... Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros

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