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Mensagem: É TEMPO DE PEQUIJosé Prates O mês de outubro está em curso e nos faz lembrar nosso tempo de criança em Jacarací, nossa terrinha, sertão baiano de sol gostoso e pouca chuva. Mês de outubro, tempo de pequi. Por causa dele, gostoso e procurado, quantas vezes, mesmo debaixo de sol, lá íamos nós com os pés descalços, cesto na cabeça, junto com a moçada, enveredar pelo cerrado adentro, correndo para os pequizeiros, apanhar o pequi maduro caído no chão, antes que o gado devorasse tudo. Não era trabalho. Era diversão, difícil de esquecer. Quem não se lembra? Só quem não viveu isto. O pequizeiro frondoso, carregado de frutos, era a segurança de alimentação de muita gente que pouca coisa, além disso, tinha pra comer. Era o alimento poderoso que muita gente disputava com o gado, debaixo da árvore onde o fruto se espalhava cobrindo o chão e todo mundo alegre, passava à colher, enchendo a cesta. Eram horas de festa que em festa eram vividas. O ar enchia-se da melodia gostosa das “modinhas,” entoadas pelas moças em cantarolas com voz suave, enquanto apanhavam os frutos espalhados no chão. Os meninos, não. Esses corriam pelo mato a procura de umbuzeiro e se regalavam com a fruta que já amadurecia. Essa época do ano no cerrado, rico em frutas, não era só o pequi que atraia o povo. Outros frutos enchiam o ar com seu perfume atraindo principalmente a criançada: umbu, jatobá, cagaita, mandapuçá, pitomba, jaboticaba... eram tantas as frutas que de algumas já não nos lembramos mais. Do que me lembro com saudade é do arroz com pequi que minha avó fazia. Chegava da escola e lá estava em cima do fogão a panela de pequi à minha espera. Era um luxo. Anos e anos que não como um só pequi, mas, ainda tenho na mente o seu sabor inconfundível. Dizem, não sei se é verdade, que agora, na época do pequi, o índice de natalidade aumenta por causa de suas propriedades. Pode ser. Que tempo bom, tranqüilo, sem atropelos. Passou! Mais de meio século ficou para trás com os momentos inesquecíveis de nossa vida. Ninguém que era como eu, menino naquele tempo, pode esquecer aqueles passeios gostosos, montados em cavalo de pau, correndo para Areia Branca buscar enfeite para o presépio ou então, aos domingos, subir a serra até o Cruzeiro e ficar, lá de cima, olhando o casario cá em baixo. Não é possível esquecer os nossos folguedos nas ruas tranqüilas, vazias de povo, que atravessamos correndo, “pegando parelha” que eu sempre perdia. Não é possível esquecer a escola, a primeira mestra, inesquecível Dona Julieta, que Deus a tenha no Seu Reino. Esquecer como, se eram momentos que nos alegravam a vida? O tempo passou; os meninos cresceram, tornaram-se homens e a responsabilidade chegou a tudo modificando, mas, a lembrança do passado está aí nos fazendo revivê-lo de vez em quando. Está aí fazendo-nos lembrar que fomos crianças e crianças felizes dentro de nossa inocência, num lar onde havia paz e amor. Aos que nos deixaram a chamado de Deus, prestamos nossas homenagens. (José Prates, 87 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Atualmente, é um dos diretores do Sindicato da Classe)
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