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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 30 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: O “CHINELÃO” QUE JOGARAM FORA

José Prates

Sinceramente, eu lamento dizer que não vi, por isso não conheci o “chinelão”, obra do Dr. Konstatin homenageando o tropeiro, aquele homem abnegado que cortava o sertão sem estradas, conduzindo sua tropa carregada de mercadorias, de um lugar para o outro. Era o Brasil sem estradas em que somente o animal de carga era empregado no transporte que hoje é feito pelos caminhões, pela Estrada de Ferro ou pelos navios. Muito antes das estradas de ferro de norte a sul, antes das rodovias pavimentadas cortando o país, quando nem se falava em transportes ferroviários ou rodoviários, o transporte de mercadorias do produtor ao consumidor, no interior do país onde não havia alternativas de navegação marítima ou fluvial, era feito por tropeiros, em lombo de burros que formavam uma tropa. As regiões interioranas, distantes do litoral, como os sertões, principalmente no nordeste, dependeram durante muito tempo desse sistema de transporte por burros e mulas. Os tropeiros existiam desde o final do século XVII, quando os garimpos mineiros exigiam a formação de grupos de mercadores no comércio interiorano para negociar o produto das minas e fornecer alimentos e mão de obra. Como nos conta a história, ai começou a formação de tropa, sendo os condutores chamados de homens do caminho ou viandantes. Com a freqüência de tropas nas estradas, os seus condutores passaram a ser conhecidos como tropeiros. Naquela ocasião, essa tropa passou a ser empregada no transporte em geral. Além das ferramentas para os mineiros, transportavam gêneros de primeira necessidade e, também, açúcar mascavo, aguardente, vinagre, vinho, azeite, bacalhau, peixe seco, queijo, manteiga, biscoito, farinha, gengibre, sabão, fruta seca, chouriço, salame, tecido, carne seca, algodão, sal, etc. A maioria desses abnegados trabalhadores, não se limitava ao serviço de transporte, usando sua tropa. Alguns deles faziam-se comerciantes comprando e vendendo de tudo um pouco, como ferramentas, vestimentas, alimentos, inclusive escravos, o que dava a eles maior importância no cenário comercial que surgia no país.
O tropeiro estava intimamente relacionado ao ir-e-vir pelos caminhos e estradas, algumas abertas por eles próprios. Entre essas estradas que foram muito percorridas por tropas conduzidas por tropeiros, destaca-se a Estrada Real, via pela qual o ouro mineiro chegou ao porto do Rio de Janeiro de onde seguia para Portugal. De maneira, talvez, inconsciente, o tropeiro teve um grande desempenho na formação da economia nacional porque permitia a atividade normal e crescente do comércio em quase todo território nacional. Diz a história que quando uma tropa chegava a um lugar era recebida com alegria pela população porque trazia toda espécie de mercadoria para abastecer o comercio local. O constante movimento, o ir-e-vir das tropas, não só viabilizou o sistema comercial que se instalava com a abertura de lojas varejistas e atacadistas como, também, de “botequins” que eram supridos de mercadorias transportadas pelos tropeiros que passaram a ter uma grande importância para os habitantes dos lugares onde chegavam com suas mercadorias. Daí, então, a importância do “chinelão” na bela homenagem a esses abnegados trabalhadores. Esse “Chinelão” jogaram fora. Só nos resta, então, é pedir a Deus: perdoe-lhes Senhor, eles não sabem o que fizeram.

(José Prates, 87 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Atualmente, é um dos diretores do Sindicato da Classe)

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