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Mensagem: “Vamo’simbora” viver Alberto Sena Na semana passada faleceram dois amigos da mesma safra de montesclarinos, dos tempos vividos em Montes Claros. Um deles, o dentista Antônio Leão Coelho Filho e o outro, o arquiteto Aliomar Veloso Assis. É difícil, mas precisamos nos conformar desde sempre, o inevitável vem para cada um quando é chegado o momento. Nada acontece antes. Não há o que lamentar nos casos de Toninho e Aliomar, sabendo dos bons serviços prestados por ambos à comunidade montesclarina em meio a qual eram queridos. Foram cidadãos exemplares, criaram família, viveram o que para eles estava previamente traçado, apesar da sujeição ao livre arbítrio. Só existe vida. Essa é a certeza. O que se sucede é como simples ato de atravessar o umbral da porta ou passar pelo parapeito da janela, entrar em dimensão desconhecida. A vida segue o seu curso inexorável e é justamente este o ponto intrincado para quem se encontra do lado de cá e fica a chorar a falta do ente querido. Cada um tem o direito de encarar o momento derradeiro, neste plano de vida, da maneira como melhor lhe convier. Muitos dirão não temer a morte em si, mas a maneira como tudo poderá se dar, o que não deixa de ser uma forma de evitar encarar a questão de frente. É o que a psicologia chama de “misoneísmo”, o medo do novo, do desconhecido. Mas há algo mais antigo do que a morte? Já devíamos estar acostumados com ela. Muitos dirão, falar é fácil, vivenciar as situações é difícil. Com Toninho Leão e Aliomar tivemos convivência durante o período de adolescência e início da fase adulta, quando a Praça de Esportes viveu dias de efervescência, centro onde acontecia quase de tudo em matéria de esportes e diversão. De Aliomar guardo os dias em que disputamos peladas na pista gramada da Praça de Esportes e também disputas de pingue-pongue debaixo do telhado próximo da piscina grande. Foi um convívio rápido. Não nos encontramos mais depois dos 22 anos de idade. Sobre Toninho, embora o convívio também tenha sido curto, marcou-nos mais três acontecimentos que aproveito o ensejo para narrar. O primeiro foi no final da década de 50. Tínhamos de participar, no cine Coronel Ribeiro, de uma chamada da Escola Normal Professor Plínio Ribeiro para o início da nova turma de alunos entrantes na 1ª. Série ginasial. Todas as cadeiras estavam ocupadas. Acostumado a frequentar o cine aos domingos, duas horas da tarde, quando a meninada gritava ao surgir na tela um dos caubóis da época, Rock Lane, Roy Rogers e Rex Alen, era estranho estar ali para participar de algo nada relacionado com cinema. Sentado ao meu lado se encontrava um adolescente desconhecido, vibrante, irrequieto. Logo travamos conversação dividindo as expectativas de a qualquer momento surgir alguém no palco para prestar informações a respeito do início do curso. Antônio Leão Coelho Filho era o nome dele. Qual não foi a nossa surpresa, dias depois ao descobrirmos, éramos colegas de sala?! Sentamo-nos juntos casualmente ali no cine Coronel Ribeiro. Fomos, em seguida, selecionados para a mesma classe. Achamos isso uma boa coincidência. Anos depois, em finais da década de 60, encontramo-nos novamente no TG 87 – Tiro de Guerra. Depois disso, a corrente da vida nos separou e dele tinha notícias esporádicas, até receber a nota de seu falecimento por meio do Facebook. O outro lado, o lado dos que vão e não voltam mais, deve ser um lugar maravilhoso. Nunca ninguém voltou em carne e osso para contar. Particularmente, tenho curiosidade em saber, mas como nesse campo todo tipo de especulação é possível, prefiro aguardar o meu momento, sem me preocupar com o tema porque seria estupidez querer lutar contra a corrente natural da vida. Enquanto isso, o melhor a fazer é viver. E viver com qualidade para aproveitar ao máximo de todo momento porque, sabemos, mais dia menos dia... Quando nascemos morremos para a vida uterina. Nascidos para o mundo, vamos morrendo todo dia, até o momento definitivo. O melhor a fazer é nos solidarizarmos com os parentes dos que já foram e cada um procurar viver a própria vida sem se ocupar com a vida alheia. Viver é o verbo a ser praticado. A vida é bela. O planeta é lindo. Precisamos ter olhos de ver e alma de viver as belezas encontradas em derredor. Como ninguém sabe a hora, ‘vamo’simbora’ viver.
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