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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 7 de novembro de 2024
 

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Mensagem: “Indústria da seca” (Ou, a galinha dos ovos de ouro) Alberto Sena Para o engenheiro agrônomo Reinaldo Nunes de Oliveira – o Reinaldinho –, coordenador técnico da Emater-MG, o Norte de Minas amargou, neste ano, a “pior seca dos últimos 50 anos”, disse ele em artigo. Os prejuízos, na contabilidade dele, “ultrapassam a casa dos R$ 500 milhões, considerando as perdas de duas safras consecutivas de grãos, 2011/2012 e 2012/2013, e mais de 60% da produção de leite estimada em 600 mil litros/dia”. Será que dá para dormir com um barulho deste? Como historia Reinaldinho, “a seca no Brasil data da época do império”. É cíclica. Nuns anos é de seca mais rigorosa noutros menos, mas o problema climático é antigo, anterior ao Brasil colonial. É, como se diz, “velho pra encardir”. O próprio Dom Pedro I teve o bom senso de se ocupar com os efeitos da seca, como disse o agrônomo. Chegou ao ponto, imagina, de pôr “a coroa a prêmio para implantação de infraestrutura de convivência com a seca (...)”. “Convivência”, a palavra-chave para abrir definitivamente a porta de entrada da solução do problema denunciado, na literatura, por Graciliano Ramos, no livro Vidas Secas; em filmes e no dia a dia pela mídia e por milhões de brasileiros. Uma coisa é criar infraestrutura capaz de conviver bem com a seca, de modo à quase nem sentir os seus efeitos. Outra, humilhante, é transformá-la em indústria. A seca já serviu de plataforma para muitos políticos inescrupulosos. Dela fizeram e ainda fazem uso sem se sensibilizarem com o sofrimento de milhões de famílias, no sertão, mortas à míngua ou que tiveram de engrossar a massa em cidades como Montes Claros, a fim de se livrarem do sofrimento. Ou para sofrerem de outro modo. Diante do quadro da seca repetido há séculos, no Norte de Minas, é o caso de apontar de dois um descaminho ou os dois simultaneamente para explicar o porquê de a região ainda sofrer com os maus humores climáticos: incompetência e ladroagem. Até nós mais bobos sabemos, ao redor do mundo há cidades brotadas na areia do deserto. Criaram-se até rios para esverdearem a paisagem em lugares onde nem se plantando daria alguma coisa. Alguém pode concordar e tentar justificar: “Nesses lugares rolam os petrodólares”. Claro, criar infraestrutura para tornar sadia à convivência da vida no Norte de Minas com a seca é preciso investir, sem roubalheira, na criação de meios capazes de atenuar os rigores climáticos. Quais sejam? Com a palavra, os técnicos. A este escriba compete denunciar e cobrar soluções para os problemas socioeconômicos, políticos e ambientais, não necessariamente nesta mesma ordem. Se os técnicos daqui não têm ideias, busquem tecnologia no exterior. Em Israel, onde a irrigação é feita gota a gota, ou em outros países do Oriente Médio construtores de maravilhas em pleno deserto. O que não pode mais continuar acontecendo – e se continuar a culpa é da própria sociedade norte mineira, apática, incapaz de tomar atitudes – é esse desgastante ciclo de secas, enquanto rios de dinheiro público jorram fazendo a riqueza dos detentores do poder, políticos eleitos porque prometeram indevidamente pôr um fim ao problema crônico. A infraestrutura para assegurar aos norte mineiros boa convivência com a seca, segundo o agrônomo da Emater, está ao alcance, mas falta observamos, atitude política: “A construção de barragens nos rios e córregos ainda perenes, sistemas de abastecimento de água para os municípios do semiárido, reativação da construção das barragens de Berizal e Congonhas”. “Caso contrário”, ele encerra o artigo com uma grave advertência, “o sistema de abastecimento de água de Montes Claros entrará em colapso”. Medidas paliativas não irão criar infraestrutura para a convivência do sertanejo com a seca. Não irão levar empreendedores a investir economicamente na região. Se o problema dos políticos e dos técnicos é, além da corrupção, falta de criatividade e competência para encontrar soluções, se lessem estas linhas com atenção encontrarão, aqui, caminhos para acabar com os descaminhos e a nossa vergonha de ver a seca sendo usada politicamente entra década sai década. Devemos ou não aguardar a chegada de outro personagem com a coragem de Dom Pedro I? O do grito: “Independência ou Morte”. Reeditado, hoje, o grito seria dirigido aos políticos, às margens do Rio Verde Grande: “Competência e ética ou morte”.

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