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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 16 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Um Conto do Vigário. Isaias Caldeira Depois de ser preso temporariamente ou preventivamente, apresentado nos noticiários de tvs e jornais como ladrão de dinheiro público e integrante de uma sofisticada organização criminosa, mesmo consciente de sua inocência, veja-se entrando em sua casa, onde o esperam a esposa amada, filhos, parentes e amigos. Como você olharia nos olhos deles? Após amargar dias em cadeias ou presídios, junto à marginais de toda a espécie, sofrendo o escárnio da sociedade, condenado sem o devido processo legal, destruído moralmente pela sentença precipitada diante dos meios de comunicação, em geral sedentos de notícias que elevem suas vendas ou audiências, como você se sentiria? E as vidas de seus familiares, especialmente dos filhos, nas escolas e na comunidade onde vivem, como serão doravante? Desde que me entendo por gente, sei que é preciso colocar-se no lugar do outro antes de o acusar. A isso chamamos ética. Mas ética hoje é apenas “ um nome no pântano enganoso das bocas” de mistificadores e sofistas. Afinal, é tão fácil acusar e destruir pessoas quando se bradam palavras ao gosto popular, especialmente no combate a corrupção e na necessidade de se moralizar a administração pública, que aos olhos do povo, desde que o mundo é mundo, mostra-se corroída pelos desmandos dos políticos. A tese nunca encontra combatentes, deixando aos acusadores um campo aberto para atuação, sob o aplauso quase geral , de modo que acaba se transformando- esta licença sem limites- em escandaloso abuso, levando ao cadafalso moral pessoas de bem, tantas já encanecidas e com relevantes trabalhos na sociedade, que nunca tinham pisado antes em uma delegacia de polícia. O gozo da histérica é a destruição do ser amado, diz a psicanálise. É a inveja, esse câncer que abunda nos fracassados, que impele à destruição de quem galgou alguma projeção na vida pública, numa aparente forma de nivelar a todos ao chão existencial onde vivem os salteadores da honra alheia . Pois bem, explico a minha indignação, que não é atual, mas repetida à exaustão aqui desde alguns anos,desde a primeira barbárie levado a cabo pelos contumazes discípulos de Torquemada. Como foi noticiado anos atrás, realizou-se uma operação policial em cidade ribeirinha, na nossa região. Dezesseis ( 16 ) pessoas foram presas e apresentadas como ladrões de dinheiro público, diante de câmaras de tvs e jornais, tendo como “Show Man” um policial, circundado por integrantes do Ministério Público, todos eles apresentando os prisioneiros como troféus, afinal aqueles homens e mulheres roubariam verbas destinadas à pobreza, ao serviço público, num país onde tudo falta e as pessoas morrem em filas de hospitais. Sucesso midiático infalível, a causa é nobre. Em sua fala diante dos holofotes, a autoridade policial busca comover a população, fala dos filhos e do prazer da missão cumprida, de olhar nos olhos de seus rebentos, após prender os malfeitores, com o orgulho de um servidor cumpridor de seus deveres. Acesa a fogueira pública onde arderam vidas e honras, vem a Justiça, mesmo que tardia, a absolver quase todos os acusados, inclusive em instâncias superiores. Pasmem, a própria Acusação somente denunciou 05 ( cinco ) daqueles presos, de modo que onze pessoas foram execradas publicamente, para todos os séculos, nas redes sociais ,TVs e jornais, postas algemadas e com roupas de presidiários, e depois sequer foram denunciadas pelo Ministério Público. Somente 3 ( três ) foram condenados, ao final do processo, dentre os cinco que foram denunciados. Trânsito em julgado da decisão, ao que consta. Não conheço nenhum desses infelizes brasileiros, vítimas dessa barbárie praticada por agentes do Estado, o que me autoriza a crítica e indignação. Em geral os acusadores sabem que as pessoas são inocentes, mas prendem porque querem alguma revelação sobre aquele que pretendem condenar, o verdadeiro alvo da operação. Tal prática já foi até denunciada em matéria no jornal Folha de São Paulo, e naquele estado da federação também ocorre. Assusta a omissão da OAB, que tem uma história de luta contra o arbítrio, diante dos abusos sistemáticos perpetrados na região por tais autoridades. Que as vítimas busquem reparação na mesma Justiça, contra todos. De minha parte, que nunca tive rabo preso e nem cultuo falácias, por mais que estejam enfeitadas com guizos de virtudes , saibam que vou continuar esperneando, no meu ofício solitário neste campo de idéias, afinal quero viver numa democracia verdadeira, onde os agentes públicos submetam-se ao império da Constituição, vedando-se os abusos, com severa punição àqueles que desvirtuam os fins das leis e dos cargos que ocupam. Não há amor e justiça em quem tolera o mal. A punição de um inocente agride toda a humanidade, e o demônio do arbítrio tem o vezo de instalar-se onde não o repelem. Vade retro Satana!

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