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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Entrevista presidencial em Paris Manoel Hygino - Hoje em Dia Fim de governo, proximidade de outro quatriênio presidencial. Bom tempo para recordar o passado. Rivadávia de Souza, gaúcho trabalhando na Imprensa de Getúlio desde que este assumiu a chefia do governo, lembra ser-lhe atribuído recepcionar na capital francesa, Juscelino, recém-eleito para o Catete. JK hospedou-se com sua comitiva em uma suíte do Hotel Crillon, na Place de La Concorde. Era praticamente uma casa, com sala, vários quartos e um corredor para a porta de entrada, para propiciar total privacidade. Rivadávia sabia alguma coisa sobre Juscelino e procurou bem haver-se naquela ocasião única, quando a França queria conhecer o mineiro pobre, nascido numa cidade do interior brasileiro, rica em diamantes. Rivadávia, jornalista de Uruguaiana, não poderia falhar na missão, até porque poderia ser-lhe um contato importante na carreira. Convocou-se uma coletiva, no amplo salão de conferências do Crillon, onde se afeririam as qualidades e virtudes do eleito para o governo brasileiro. De antemão se sabia que o presidente fora telegrafista, de horário noturno, no serviço público e colara grau em Medicina pela escola de medicina de Belo Horizonte, em 1927. Em seguida, médico da Polícia Militar de Minas Gerais, participara da Revolução de 1932, chegando a governador do Estado. Uma carreira de incontestável sucesso, marcada pela construção de uma bela cultura. Alguém no círculo dos entrevistadores formulou uma pergunta. JK discorreu longamente, em francês brilhante, eloquente, escorreito, sem tropeçar numa sílaba sequer, como se discursasse de improviso, na própria língua, e não na de Montaigne e Voltaire. Vários presentes já tinham participado de entrevistas ali. Mas, todos ficaram encantados com a facilidade verbal de Kubitschek, superando os depoimentos precedentes. No final, os jornalistas prorromperam numa entusiástica e calorosa salva de palmas, não somente pelo conteúdo das respostas, mas ainda pela forma primorosa com que as emolduraram. Máximo Scioletti, conselheiro da Embaixada Brasileira em Paris, não escondeu sua surpresa: “Poucos franceses serão capazes de falar com tamanha eloquência”. Não conhecia, porém, a seleta plateia que Juscelino era um velho habitante da Cidade Luz. Lá cumprira bolsa de estudos no Hôtel Dieu, pronto-socorro de Paris, e fizera especialização com um dos mais celebrados cirurgiões e urologistas do mundo: o professor Chevassu. Assim, no remoto 1930, o médico de Diamantina aprimorara o francês, instalando-se no pequeno hotel de La Paix, no número 225, do Boulevard Raspail. A jornada diária era de 8 horas da manhã às 6 da tarde, nas três primeiras semanas. Depois, vinha o treinamento no Hospital Cochin, onde se organizara o primeiro serviço do mundo especializado em vias urinárias. Não tinha como não aprender a língua que servira a Victor Hugo e Dumas. Então, visitou o Louvre pela primeira vez e frequentou o Café Du Brèsil, onde conheceu Portinari e o fez seu amigo por toda a vida. Seguiu para a Alemanha para estágio no Hospital Charité, em Berlim, mas teve de voltar ao Brasil pela eclosão da revolução de 1930. De volta, escreveu, a bordo do navio Almirante Alexandrino: “Toda a minha timidez havia desaparecido, passei a amar a vida, certo de que ela nada mais me negará”.

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