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Mensagem: Uma linotipo histórica pede socorro para não ser vendida ao ferro velho Alberto Sena Tive a sensação de ouvir um grito de “socorrooo”. Olhei para os lados sem saber de onde vinha, mas ao meu redor não havia ninguém. Seria a minha imaginação? Perguntei-me. Não. Não era. Era o esbaforido grito virtual de “socorrooo” proferido por Viviane Marques Terence, por causa de uma máquina linotipo que estaria sendo vendida ao ferro velho, em Montes Claros. Viviane enviou o seu pedido de “socorrooo” a várias pessoas e uma delas, eu, que iniciei a minha carreira de jornalista em 1969, no O Jornal de Montes Claros, ali na Rua Dr. Santos, 103, no Centro da cidade, onde é hoje uma agência bancária. Tinha 17 anos. Até me acostumar com a existência da máquina linotipo, nas horas vagas ia para a oficina do jornal só para ver Milton e Andrezzo trepidarem sobre as teclas da linotipo. E ficava embasbacado com o passeio das plaquinhas de chumbo pela máquina até que as plaquinhas iam se juntando do lado, formando o bloco de texto fundido no chumbo. A atmosfera da oficina cheirava a chumbo. Chumbo e óleo, pois a máquina precisava estar bem untada para executar a tarefa. Quando acontecia de enguiçar, Oswaldo Antunes ou Waldyr Senna tinha de mandar buscar um técnico em Belo Horizonte, um profissional que atendia também a oficina do jornal Estado de Minas. O Jornal de Montes Claros tinha duas linotipos, uma delas deve ser esta. Era uma época romântica, como disse em um texto poucos dias antes de Viviane proferir em tom da maior urgência o pedido de “socorrooo”, afirmando várias vezes que “precisamos fazer alguma coisa”. Daqui da minha caverna de Grão Mogol suspeito que a atitude mais eficiente para impedir o envio da linotipo ao ferro velho é comprá-la. E para comprá-la é necessário ter dinheiro. Então, que cada um enfie a mão no bolso. Não tem outra saída. Quem está mandando a linotipo para o ferro velho não tem nenhuma consideração com essa máquina porque, certamente nunca soube da sua utilidade, pois nasceu noutros tempos. Mas nós, jornalistas, temos um sindicato, temos uma casa do jornalista e temos certo acesso às pessoas que podem ajudar a adquirir a máquina e colocá-la em um lugar compatível com a importância dela. Temos, sim, que fazer alguma coisa. E já estou fazendo alguma coisa ao escrever essa crônica sobre essa personagem de tamanha importância, que executou dentro de sua vida útil, que, espero perdure, importante papel. Nem dá para imaginar o tanto de texto que essa máquina quase fadada ao ferro velho fundiu no chumbo. Quantos linotipistas dedilharam as teclas da linotipo. Quantos furos de reportagem ela processou durante o seu tradicional passeio de plaquinhas de chumbo. Quando Viviane conseguiu dizer algo, tão esbaforida estava, ela fez o seguinte comentário: “Não vamos deixar a história morrer; linotipo ainda em funcionamento sendo vendido para ferro velho; universidade e jornalista vamos tentar fazer algo”. Pelo visto, outras pessoas também ouviram o pedido de “socorrooo” de Viviane. Luciano Meira foi uma dessas pessoas. Ele sugeriu a Viviane: “Temos a Casa do Jornalista.... Poderíamos criar a memória da Imprensa neste local, e esta impressora poderia fazer parte do acervo. Com a palavra o Mestre Felipe Gabrich, Marcio Antunes” Outro que saiu em “socorrooo” da linotipo foi Georgino Júnior. Ele, solidário, disse: “Tô junto!,... bora resgatar essas máquinas... Graças a elas, junto a Roberto Marques fiz artes gráficas e jornalísticas incríveis quando editei suplementos dominicais na imprensa de Monscraro nos anos 70/80 do século passado... Se é pra falar mesmo a verdade, deu uma saudade danada foi dos ´meus´ velhos linotipistas ... rsrs”. Mas boa também foi a iniciativa de Itamaury Teles de Oliveira: “O museu regional da “Mrnm Unimontes” deveria adquirir para seu acervo. Esse link tipo era do extinto O Jornal de Montes Claros, quando funcionava na Rua Dr. Santos. Uma raridade que não pode ser reduzido a ferro velho. Tem história”. Concordo plenamente com todos e estimulo: essa linotipo não pode ir para o ferro velho. Os montesclarinos presentes em Montes claros podem e devem “fazer alguma coisa” como disse Viviane, em seu pedido de “socorrooo”. A memória de muitas vidas está em jogo nessa linotipo. Então, neste momento, me sinto como que fez “alguma coisa” para socorrê-la a tempo de ajudar a colocar essa máquina no pedestal da nossa história jornalística. Junto ao pedido de Viviane, o meu grito: socorrooo.
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