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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 18 de novembro de 2024
 

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Mensagem: A terra desolada. Isaias Caldeira Na minha infância rurícola, o sol era o relógio de todos. No seu nascer e declínio medíamos a passagem do tempo, as horas de trabalho e descanso dos homens. Amanhecendo, os foiceros e demais empregados iam à cozinha da sede da fazenda e ali, antes da jornada diária, refestelavam-se com coalhadas, leite, queijo e café, livremente e sem medidas. Tudo era muito farto, as coisas da roça eram produzidas apenas para consumo interno. À tarde, inclinando-se o sol por trás dos montes, punham as ferramentas aos ombros e, em fila indiana, marchavam de volta à sede, com seus rostos queimados, banhados em suor, passos arrastados, já pensando no jantar que os aguardava, em geral após um mergulho no rio de águas limpas e fartas. Tudo era sempre igual, dia após dia. Reunidos, a preocupação de todos era o tempo e suas variações. Olhavam para o céu, mediam as nuvens, suas colorações e intensidades. Faziam-se os prognósticos climáticos, sempre na esperança da chuva benfazeja. Não havia “stress”, pois as mentes só se ocupavam dessas coisas simples. Sem televisão, somente o rádio trazia as notícias do mundo. Entanto, as guerras e tragédias, despidas das imagens, não geravam grandes comoções, mesmo porque tudo era tão longe, num mundo que desconhecíamos, de povos que às vezes sequer sabíamos onde habitavam. Depois, era preciso concentrar-se nos afazeres diários, sob pena de dificuldades até mesmo de sobrevivência. Cuidar dos pastos e dos animais, das plantações, das coisas cotidianas, sem tempo para os sortilégios de outros povos ou nações. De tempos em tempos a morte deixava seus sinais na comunidade, tingindo de negro as vestes familiares . Depois, tudo se acomodava. Deus dá, Deus tira, graças a Deus. O homem simples encara a realidade de modo mais objetivo e conformado. Sabe que é frágil e que a dor se apresentará de alguma forma para tudo o que vive, culminando na morte, sendo inútil toda a especulação sobre a justiça na sua distribuição no mundo. Apenas reza a Deus e aos santos de sua devoção, como uma obrigação que se cumpre, mas já ciente de seu destino, prescindindo de qualquer filosofia ou metafísica. Deus quer ou quis. O resto são meras especulações , e as coisas que são , aquelas as quais não se tem acesso às suas causas e tornam inúteis as palavras, essas permanecem distantes da apreensão dos homens, porque inexpugnáveis em seus mistérios e enlouquecem os que se prestam à inútil tarefa de decifrá-las. Rememoro aquele tempo de meninice em razão desta inusitada e assustadora situação climática que passamos. Conheço pessoas com mais de 90 anos que dizem nunca terem presenciado algo semelhante, com tanta seca e calor . Em certas localidades até o mato, em palmo, tostou, além das plantações . Nada cresceu, parecendo que foi usado herbicida de alta eficiência nos campos e pastagens. A terra ressequida verbera o sol, que desde o nascer queima como se no zênite. Até os beija-flores desapareceram dos campos, onde a canícula vergasta tudo o que vive e afugenta os animais para a pouca sombra que ainda resiste. A saracura três potes entoa seu canto inutilmente nas tardes findas, quebrando o silêncio das paisagens , alternando-se com o mugir faminto do gado sobrevivente e que ainda não foi vendido . Um tom escarlate inunda o horizonte e as pedras exalam o calor recebido. Então,os campesinos esperam, adivinhando os sinais da natureza, na esperança de uma mudança no tempo e que a chuva alivie a situação de penúria de todos. No ócio forçado, aguardam o dia seguinte. Mas sobretudo há o medo que o clima tenha mesmo mudado, para sempre, e que um tempo de destruição apocalíptica imposto pela natureza se faça permanente, indiferente a dor dos homens, mas não às suas ações contra o meio ambiente, cobrando o preço pelo mau uso dos recursos naturais ao longo da civilização. Incapazes diante do portento avassalador, somente nos restaria a misericórdia Divina. Rezemos, pois.

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